E se de repente houvesse samba neste festival? “Não posso ficar nem mais um minuto com você”, o bonito verso com que arranca aquele clássico “Trem das Onze”. Esse samba triste, esse choro com um copo na mão (ou talvez dois)… Um charme este Duquesa, um charme de homem, daqueles que nasceu para seduzir sem querer. É um crooner sem big band porque não lhe faz falta nenhuma. É um herói solitário que chega ao Coreto para uns 20 minutos miseráveis de tão curtos, encantadores de tão doces. E diz ele que é melodramático…

O samba é só para enganar, Nuno Rodrigues (o nome civil de Duquesa, o mesmo que é vocalista dos Glockenwise) atira-se às canções próprias, não quer perder tempo mas há alguém que insiste em atrapalhar. Como se o homem estivesse mesmo à parte neste cenário que dá pouco espaço a gente que gosta de cantar histórias que são segredos. “Posso pedir aí aos meninos das bicicletas para desligarem o PA. Assim não consigo… Não é vedetismo.” E não é mesmo, sabe lá ele o que é vedetismo. Além disso, Nuno quer cantar “Norte Litoral”, que é uma das melhores canções portuguesas deste ano. Caramba, é uma das melhores do ano em qualquer língua.

“Isto vai ser sé meio triste, peço desculpa”. Deixa-te disso. Deita cá para fora. Canta aquela do “Ice Cream”, isso, é sobre o verão mas não é só, o gelado do título é uma desculpa para dizer que à sombra às vezes está-se melhor que dentro de água. Nuno vem de polo bem ajeitado e calças brancas, tudo direitinho mas só á primeira vista. Aquela guitarra mergulhada em eco, com “canções romântico-melo-dramático-urbanas”, nas palavras do próprio artista… E pensemos por um minuto: quanto custa fazer tudo isto à luz do dia? A esta hora o cantor vê direto nos olhos de quem o observa. No escurinho, como diria a Rita, será sempre mais fácil abrir o jogo.

Mas como Duquesa é outro nome para “malandro”, Nuno Rodrigues faz bom uso do que tem e vai a todas. Diz que Norte Litoral, o EP lançado há uns meses, é como ele, “tem muitas coisas diferentes”. Vai daí não há vergonha nenhuma em pedir emprestada “The Heat” aos seus Glockenwise. E Nuno dá tudo. Nuno contorce-se porque isto não é fácil e o tom é exigente. Nuno canta bem lá de dentro porque o dono da canção é quem a sabe domar.

Que pena que estamos ao lado de uma zona de restauração onde a cozinha não fecha, que pena que no palco Heineken alguém já está a tocar outra vez. Que pena que este Coreto não se transformou de repente no sítio mais importante deste festival. “I’m happy if you’re happy”, canta ele. Ele podia estar mais happy com o dobro do tempo, algo assim. Nós ficaríamos ainda mais felizes que ele, é quase certo. “Sou um músico de 26 anos do Norte do país. Obrigado a ter aqui tanta gente ver. Comprem discos em vez de bifanas”. Obrigado nós, pá, obrigado nós.

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