O fim do verão anuncia uma nova temporada em várias salas de espetáculos do país e o Observador reúne uma seleção de propostas, organizadas de norte para sul e por data de apresentação.
De entre os portugueses, destaque para a estreia absoluta de “Operários”, dos bailarinos Miguel Moreira e Romeu Runa – no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães. Também “We’re Gonna Be Alright”, peça de “sexo, sangue e violência”, assinada por Cão Solteiro & André Godinho – na Culturgest, em Lisboa. E ainda “Adoecer”, a partir de um romance de Hélia Correia, vencedora do Prémio Camões em 2015 – no Centro Cultural de Belém.
Braga
Theatro Circo – “No Alvo”, 6 a 9 de setembro
Texto do austríaco Thomas Bernhard, traduzido por Anabela Mendes e encenado por Rui Madeira, da Companhia de Teatro de Braga. “Num crepuscular quadro de família emerge a figura da mãe que faz o caminho da vida procurando a morte. A sua e a dos outros. Ela, que só desejava ver o mar e perceber as marés”, resume o encenador.
Guimarães
Centro Cultural Vila Flor – “Moeder (mãe)”, 17 de setembro
Espetáculo de 90 minutos da companhia belga Peeping Tom, em estreia nacional. Cruza teatro, dança e cinema como forma de questionar a figura maternal. “A peça cria conexões que inundam o limite entre sofrimento, luto e festejo, entre manter ou deixar ir, estrutura e loucura”, descrevem os criadores. Com encenação de Gabriela Carrizo, trata-se da segunda parte de uma trilogia: “Vader” (Pai), de 2014, e “Kinderen” (Filhos), prevista para 2019. Os bilhetes custam 12,12 euros, valor alusivo ao 12.º aniversário do Centro Cultural de Vila Flor, que agora se assinala.
Centro Cultural Vila Flor – “Operários”, 30 de setembro
Miguel Moreira e Romeu Runa, criadores e intérpretes deste “solo para dois”, estiveram em zonas fabris de Almada e Guimarães, duas cidades em que cresceram como artistas, e o resultado é esta “homenagem aos trabalhadores fabris que, tal como os artistas, pensam o mundo na sua imensa fragilidade e força de transformação”.
Porto
Teatro Nacional de São João – “Quem tem Medo de Virginia Woolf”, 14 a 24 de setembro
Estreada em abril último no Teatro da Trindade, em Lisboa, esta versão do texto de 1962 de Edward Albee, aqui dirigida e protagonizada por Diogo Infante, que contracena com Alexandra Lencastre, é , por sua vez, baseada numa versão de João Perry, traduzido por Ana Luísa Guimarães. “Um inferno de grandes proporções, uma noite longa, álcool a rodos, uma sala de estar confortável, jogos de palavras e jogos de poder, um casal de meia-idade cheio de som e fúria.”
Rivoli – “Le Syndrome Ian”, 15 de setembro
Estreia nacional da última parte de uma trilogia de Christian Rizzo sobre várias tipologias de dança. “Le Syndrome Ian” consiste num “enredo coreográfico que explora os fundamentos dessa dança que, todas as noites, se vive nas pistas dos clubes noturnos de todo o mundo”. São nove bailarinos em palco ao ritmo das discotecas, tendo como ponto de partida o ano de 1979 e a música dos Joy Division, de Ian Curtis.
[excerto de “Le Syndrome Ian“]
Teatro do Campo Alegre – “Five Easy Pieces”, 22 e 23 de setembro
A história do abusador sexual Marc Dutroux é ponto de partida para o dramaturgo suíço Milo Rau falar sobre vida privada e pública. “Crianças e adolescentes em palco para uma reflexão mais aprofundada sobre o nosso mundo. Como aprendemos a ser humanos? O que é a liberdade, a saudade, a crueldade? Como aprendemos a viver? E a morrer?”
Ílhavo
Fábrica das Ideias da Gafanha da Nazaré – “Júlia”, 30 de setembro
A partir de “Menina Júlia” (1888), de August Strindberg, as personagens Jean e Júlia são recriadas e procuram fazer-nos pensar “sobre o ser humano, ele próprio, na sua promiscuidade, na sua intimidade, na sua totalidade.” Espetáculo de Daniel Gorjão interpretado por João Villas-Boas e Teresa Tavares.
Coimbra
Teatro Académico Gil Vicente – “Negociatas”, 24 de setembro
O valor mercantil do indivíduo e da sua existência é uma evidência e por isso pensar que a vida não tem preço, é angelical ou hipócrita. Eis o ponto de partida para um espetáculo sobre o valor de cada pessoa, a forma como nos olhamos uns aos outros enquanto bens de consumo. Uma proposta da edição 2017 da École des Maîtres – Curso Internacional de Aperfeiçoamento Teatral, que decorre por estes dias no Teatro Académico Gil Vicente.
Leiria
Teatro José Lúcio da Silva – “O Cravo Espanhol”, 30 de setembro
Peça de Romeu Correia, encenada por Maria João Luís, faz parte do programa do ACASO – Festival de Teatro, em 22ª edição. “Uma hora e meia de boa disposição à boa maneira de Fellini ou Scola, com Miguel, o patriarca da família, toureiro frustrado que por ocasião do Carnaval, treina com os pretendentes da filha, e não resiste, devido ao seu elevado nível de taurofobia, ao confronto com o touro real.”
Minde
Fábrica de Cultura – “Viajantes Solitários”, 16 de setembro
“Em que pensam os camionistas durante todos os quilómetros que percorrem? Que acontece com estes homens durante estas viagens?” A peça é baseada numa “extensa recolha de histórias de vida e de estrada de camionistas”. A viagem como ponto de partida e de chegada. Texto e direção de Joana Craveiro, do coletivo Teatro do Vestido, e interpretação de Estêvão Antunes e Simon Frankel. A peça integra a nona edição do festival de artes performativas Materiais Diversos, que decorre em Minde, Alcanena e no Cartaxo, entre 14 e 23 de setembro.
São Martinho do Porto
Praça Frederico Ulrich – “E_nxada”, 9 de setembro
Circo contemporâneo sobre a “experiência e o imaginário rurais” mas “a partir de um ponto de vista urbano”, com direção de Vasco Gomes e Julieta Guimarães. Incluído no 1º Manobras – Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas, iniciativa da associação Artemrede – Teatro Associados, de 7 de setembro a 29 de outubro, em 15 municípios. Depois de São Martinho do Porto, “E_nxada” será apresentado em Alcanena (dia 10), Pombal (16), Sobral de Monte Agraço (17) e Sesimbra (23).
Lisboa
Culturgest – “We’re Gonna Be Alright”, 7 a 10 de setembro
“Trabalhando os elementos que o público procura num blockbuster, constrói-se um espetáculo sobre aquilo que de mais espetacular há no cinema: os efeitos especiais”, descreve a sinopse. Só que os efeitos especiais não estão ao serviço da narrativa, substituem-se a ela e adiam-na. “O espetáculo pelo espetáculo, com sexo, sangue e violência.” Criação de Cão Solteiro & André Godinho.
Culturgest – “Fanfare”, 29 e 30 de setembro
“Uma melodia de relações construídas por ações e gestos”, porque “para o bailarino, dançar é a forma que tem de sentir o mundo, de o atravessar e conter”. Neste espetáculo do francês Luïz Touzé, radicado em Nantes e com ligações à associação cultural Fórum Dança, de Lisboa, a interpretação e colaboração artística ficam a cargo de seis intérpretes, entre os quais se contam os portugueses David Marques e Teresa Silva.
[excertos de “Fanfare”]
A Barraca – “A Pessimista”, 7 e 8 de setembro
“Ironia sobre o comportamento calculista e hesitante do cidadão comum e uma sátira ao cinismo e pedantismo que analistas e fazedores de opinião lançam sobre a humanidade”, eis a sinopse. Uma comédia de Hélder Costa com Teresa Mello Sampayo.
Centro Cultural de Belém – “A Grande Vaga de Frio”, 12 a 14 de setembro
A partir de “Orlando”, de Virginia Woolf, na tradução Ana Luísa Faria, a atriz Emília Silvestre protagoniza um monólogo com dramaturgia de Luísa Costa Gomes e direção de Carlos Pimenta, em estreia absoluta. “Orlando continua atraente. Tem trinta e seis anos há pelo menos cem anos. É homem? É mulher? Não tem dúvidas sobre os géneros a que pertence e, no entanto, não pode ter certezas.”
Centro Cultural de Belém – “Adoecer”, 15 a 18 de setembro
A partir do romance homónimo de Hélia Correia, publicado há sete anos, a peça reconstrói a vida de Elizabeth Siddal, modelo, pintora e poetisa que intrigou a sociedade inglesa vitoriana. Miguel Jesus assina a dramaturgia e a encenação. Com Catarina Câmara, Miguel Moreira e Sara de Castro.
[vídeo promocional de “Adoecer”]
Teatro da Politécnica (Artistas Unidos) – “A Vertigem dos Animais Antes do Abate”, 13 de setembro a 28 de outubro
Texto escrito há 17 anos pelo grego Dimítris Dimitriádis, aqui em tradução de José António Costa Ideias, gira em torno de uma família que se torna milionária de forma muito rápida, ao mesmo tempo que se vai desestruturando e desagregando, resumia há dias uma notícia da agência Lusa. “Uma peça que nos faz pensar o que é a riqueza, a riqueza da Europa, a tragédia da Europa, a pobreza”, acrescentou Jorge Silva Melo, o encenador.
[vídeo promocional de “A Vertigem dos Animais Antes do Abate”]
Rua das Gaivotas 6 – “Melania Melanoma”, 12 a 14 de setembro
Miguel Loureiro, intérprete e autor do texto e da dramaturgia, resume-a como “peça de circunstância”. E talvez isso queira dizer que se trata de um texto rente à atualidade. “Melania Trump e a extrema-direita. Pablo Iglesias e a falência da estética”, aponta a sinopse.
Teatro Municipal São Luiz – “Triologia Antropofágica”, 15 a 24 de setembro
Obra em três atos, da autoria da coreógrafa uruguaia Tamara Cubas, com base em criações brasileiras contemporâneas: “Vestígios”, de Marta Soares; “Matadouro”, de Marcelo Evelin; e “Pororoca”, de Lia Rodrigues. Primeiro ato, “Permanecer”: dias 15 e 16, “uma instalação performativa numa superfície de carvão em movimento com vibrações e sons”. Segundo ato, “Resistir”: dias 19 e 20, “numa plataforma instável coberta de pedaços de madeira, um cão cimarrón recebe o público, como que protegendo a sua matilha – os performers – até ao animalesco”. O terceiro ato, “Oprimir”, apresenta-se nos dias 23 e 24, é uma estreia mundial, ainda em processo. Faz parte da programação de Lisboa – Capital Ibero-Americana de Cultura 2017.
Teatro Municipal São Luiz – “A Arte da Fome”, 21 de setembro a 1 de outubro
Adaptação de contos de Franz Kafka, um dos quais, “Um Artista da Fome”, é considerado o conto mais autobiográfico deste autor.“Artistas e a relação singular que eles mantêm com a arte e o público, na busca do apuramento do gesto artístico”. Encenação e adaptação dos contos de Carla Bolito. Com Cláudio da Silva e Ivo Alexandre. Uma estreia.
Teatro Nacional D. Maria II – “Topografia”, 16 e 17 de setembro
Reflexão sobre “as fronteiras do conceito comunidade, como individualmente nos integramos nela, o movimento que nos faz invisíveis numa multidão, e o prazer que isso nos pode fazer sentir”. Espetáculo do ciclo “Recém-Nascidos”, do D. Maria II, dedicado a companhias e criadores portugueses recentíssimos – neste caso, o grupo Teatro da Cidade.
Teatro Nacional D. Maria II – “Lear”, 16 de setembro a 15 de outubro
“Os filhos matam os pais, que matam os filhos. Anuncia-se o princípio e o fim das coisas – com coros e tempestades”, lê-se na sinopse. Descrito pelo responsáveis do Teatro Nacional D. Maria II como uma das grandes apostas da nova temporada, “Lear”, a partir de Shakespeare, tem encenação de Bruno Bravo e coprodução dos Primeiros Sintomas.
Biblioteca de Marvila – “Assembleia”, 22 de setembro
Incluído no ciclo “Os Dias de Marvila”, organizado pelo Teatro Maria Matos, o espetáculo de Rui Catalão foi apresentado em fevereiro naquela sala e regressa agora a zona da cidade em que parcialmente o conceberam. “Uma experiência teatral em que os espectadores são deputados: têm o direito de usar a palavra. Nesta Assembleia fazemos tábua rasa dos jogos políticos de outras assembleias, tentamos saltar por cima do que é considerado de ‘interesse público’, e antes alcançar o que afeta a nossa participação na vida pública.” Com Solange Ferreira, Pedro Henriques, Rui Catalão e Luís Leonardo Mucauro.
Biblioteca de Marvila – “Onde o Horizonte se Move”, 22 de setembro
Esta performance de Gustavo Ciríaco, com data de 2012, convida o público a observar a cidade. “Do alto de um miradouro, do fundo de um descampado, do longe de uma avenida, uma paisagem descortina-se, uma cidade revela-se.” Recriação, agora em Chelas, na zona de Marvila, também integrada no ciclo de “Os Dias de Marvila”.
Teatro Tivoli – “Simone, o Musical”, 23 de setembro
Estreia de um espetáculo com texto e encenação de Tiago Torres da Silva sobre a cantora e atriz Simone de Oliveira e pela própria protagonizado. “A partir de temas icónicos como Desfolhada, Sol de Inverno, Esta Palavra Saudade e Tango Ribeirinho, Simone vai desvendar-se.” José Raposo e Maria João Abreu fazem parte do elenco.
Teatro Aberto – “The Cradle Will Rock”, 29 de setembro a 1 de outubro
Musical político apresentado pela primeira vez na Broadway em 1938, com encenação de Orson Wells e autoria de Marc Blitzstein. A direção musical é de João Paulo Santos e a encenação de João Lourenço.
Almada
Teatro Municipal Joaquim Benite – “Portugal Não é um País Pequeno“, 22 de setembro
O título é decalcado de um slogan do salazarismo, nos anos 1930, e serve a André Amálio, criador e intérprete (ao lado de Pedro Salvador), para refletir sobre colonialismo, o Estado Novo, a Guerra Colonial e a presença portuguesa em África, com base em depoimentos reais.
[Excertos de “Portugal Não é Um País Pequeno”]
Loulé
Cine-Teatro Louletano – “A Noite da Dona Luciana”, 23 de setembro
Descrita como “comédia irreverente e florida”, a peça do argentino Copi, agora encenado por Ricardo Neves-Neves, passa-se num teatro. “Acontece um ensaio tardio, onde estão presentes o encenador, a atriz e o técnico. O ensaio é interrompido por uma velha stripper transexual, que se envolve num confronto com a companhia, lançando o espectador numa espiral entre a verdade e o delírio, a paixão e o humor negro.”
[vídeo promocional de “A Noite da Dona Luciana”]
Faro
Teatro das Figuras – “Dois Homens Completamente Nus“, 16 de setembro
Comédia de Sébastien Thiéry, dirigida por Tiago Guedes, com Miguel Guilherme, Jorge Mourato, Sandra Faleiro e Susana Blazer. Um deles acorda nu na sala de estar, ao lado de outro homem, também ele nu. São colegas de trabalho, mas não fazem ideia de como foram acordar juntos.
[vídeo promocional de “Dois Homens Completamente Nus”]
São Miguel, Açores
Teatro Micaelense, Ponta Delgada – “Vespa”, 23 de setembro
“Não é um espetáculo sobre o passado, é completamente um espetáculo sobre o futuro. Não me apetece falar do passado. É um espetáculo sobre tudo o que falta fazer. É sobre o desembaraçar-se de uma carapaça, para depois haver uma leveza que permite soltar as últimas coisas”, resumia Rui Horta ao Observador, em abril, quando o solo se estreou em Guimarães, marcando o regresso do artista após três décadas sem dançar. Integra a programação do primeiro Paralelo Festival de Dança, que decorre em Ponta Delgada de 21 de setembro a 7 de outubro.