Tudo começou numa despedida de solteiro em Ibiza. Um dos amigos do noivo tinha uma fábrica em Guimarães. Francisco Varela falou-lhe do sonho de ter uma marca própria de sapatos, feitos à mão e com material de qualidade. “Não queres experimentar fazer um modelo e ver como corre?”, desafiou-o. Francisco nem pensou duas vezes.

Começou por desenhar dois modelos de botas. Uns beges, outros pretos. Mas com uma condição: o modelo tinha que ser unissexo. “Na altura estava muito na moda a Chelsea Boot. Resolvi adaptá-lo, tirar o elástico e colocar um fecho de abrir”, explica ao Observador o CEO da Orzhaus, uma marca de roupa streetwear e que já se afirmou no mercado norte-americano.

Durante dois meses, dividiu-se entre a produção na fábrica e o restaurante que geria em Guimarães. Queria acompanhar o processo de fabrico. Queria testar os protótipos e perceber como o mercado podia receber o seu produto. “No início, senti dificuldade. Era uma área nova”, afirma o jovem de 29 anos.

Licenciado em gestão de empresas, Francisco sempre teve vontade de trabalhar com projetos relacionados com o mundo da moda. “Já havia muita coisa, mas eu queria apostar no estilo urbano, com uma gama de produtos de luxo”, explica. Na primeira encomenda, resolveu arriscar tudo. “Mandei produzir 450 pares de botas. Foram todos”, conta ao Observador. Estávamos em novembro de 2016.

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As Chelsea Boots, os primeiros sapatos da Orzhaus. © Divulgação

O feedback era positivo, mas Francisco queria mais. Percebeu que precisava de novos produtos. No início de 2017, convidou um amigo e designer de sapatos com vasta experiência, Hugo Melo, para desenhar a segunda coleção. Desta vez, acrescentaria à Orzhaus umas sapatilhas, como se diz no Norte. “Queríamos criar um produto de sneakers diferentes, aliando a este conceito o máximo de conforto”, diz.

Dia e noite, no pequeno escritório que tinha montado no centro de Braga, Francisco e o amigo pesquisaram, desenharam e criaram novos modelos. Mandaram fazer protótipos de sapatilhas para ver se o jogo de cores que queriam funcionava. Até chegarem a esta coleção, demoraram três meses em afinações. “O que achamos num desenho, quando vemos na mão, pode não ficar tão bem”, explica Francisco.

Antes de pôr este produto na rua, o empreendedor inscreveu-se em duas feiras internacionais de sapatos para perceber se o seu conceito fazia sentido. Uma em Paris, outra em Nova Iorque. “As pessoas elogiavam muito, principalmente a aposta na qualidade. Acabei por fechar várias vendas”, recorda. No entanto, ao mesmo tempo percebeu que era preciso adaptar o modelo de negócio inicial. “Estava com uma visão diferente da Orzhaus. Além da marca própria, era preciso ter produtos de outras marcas para garantir a viabilidade do negócio”, explica.

O calçado da Orzhaus continua a ser unissexo. © Divulgação

Ou seja, além da marca própria, a Orzhaus vai ter disponível no site outras marcas com um conceito de streetwear com produtos de qualidade e de referência. E não só made in Portugal. É o caso da Supreme, o fenómeno de streetwear norte-americano. Estão também a negociar com outros grandes europeus. “O nosso intuito é oferecer ao nosso cliente um produto que tenha qualidade e durabilidade. Focamo-nos num público com um gosto requintado pelo streetwear”, explica Francisco.

O objetivo é claro: transformarem-se numa das principais referências de loja online de produtos de qualidade de streetwear, uma espécie de Caliroots, a loja online americana. Apesar do interesse dos clientes em Portugal, Francisco quer apostar no mercado dos Estados Unidos e solidificar a sua presença internacional. “Temos crescido na Alemanha também. São mercados habituados a pagar pela qualidade”, afirma o empreendedor. Os seus produtos já ocupam algumas montras de lojas em Nova Iorque. Entre 120 euros a 200 euros, é possível comprar um par de botas ou de sapatilhas. “Dada a qualidade dos materiais e os acabamentos, temos que valorizar o produto”, justifica.

81 milhões

Os números da indústria do calçado portuguesas são muito positivos. Em 2016, as exportações do sector do calçado cresceram 3,2%, para 1,923 mil milhões de euros, ou seja, 81 milhões de pares vendidos em 152 países.

Primeiro as botas, depois as sapatilhas e agora, para complementar, a Orzhaus vai lançar uma coleção de roupa para homem. “São t-shirts, calças, casacos para formar o look completo.” Os modelos já foram para confeção, tudo 100% português, e devem ser apresentados até ao fim do ano. Para 2018, já está prometida uma coleção também para mulheres.

Francisco sabe também que é preciso investir e direcionar a sua comunicação ao target que quer trabalhar. Pelo site, pelas redes sociais, por um serviço de cliente de excelência. A maior parte do orçamento da Orzhaus vai para o investimento na divulgação da marca no mercado norte-americano. “Todas as vendas que faço, invisto em publicidade. Quero levar a marca ao maior número de pessoas”, diz.
Até agora, com dinheiro próprio. Espera a resposta da candidatura ao Portugal 2020 para continuar a crescer. “Se me quero afirmar lá fora, é preciso investir”, diz.

Contratou quatro pessoas, uma para a parte de design e produção, três só para marketing digital. “O tempo mostrou-me que o mais importante neste negócio é apostar em marketing digital. O produto pode ser bom, mas se não o souberes divulgar corretamente, perdes a corrida.”

Nome: Orzhaus
Data: 2016
Pontos de venda: loja online
Preços: 119,20€ (botas) e 180€ (ténis)

100% português é uma rubrica dedicada a marcas nacionais que achamos que tem de conhecer.