Artigo atualizado no dia 20 de setembro.

No dia 8 de setembro, um sismo de magnitude 8.2 na escala de Richter provocou pelo menos 90 mortos no México. Outro abalo, com magnitude 7.1, provocou mais de 130 mortos, esta terça-feira.

O México é um país que está habituado a violentos e desastrosos terramotos. Mas de onde vem toda esta atividade sísmica? Das placas tectónicas. E da História do país.

Porque é que os sismos acontecem?

Para entender os sismos que abalam o México, é preciso compreender o que está a acontecer debaixo dos nossos pés. A 100 quilómetros de profundidade, há uma camada de rochas em fusão por causa das condições de altas temperaturas e pressões: é o manto, onde está reservado o magma que é expelido pelos vulcões. O magma que está mais próximo ao núcleo da Terra está mais quente, enquanto o magma que está mais próximo da superfície está mais frio. Os materiais que estão mais quentes tendem a ascender porque se tornam menos densos, enquanto os materiais mais frios costumam afundar-se porque são mais densos, descreve ao Observador uma sismóloga do Instituto Português do Mar e da Atmosfera. A este movimento, que se verifica no manto exatamente da mesma forma do que quando aquecemos água dentro de uma panela, chama-se corrente de convecção.

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Acontece que a crosta terrestre, que é a camada onde os nossos pés estão assentes, está divida em peças, como num puzzle: são as placas tectónicas. Essas placas movem-se umas em relação às outras como se estivessem a boiar por cima do manto: quando o magma se move, empurra com ele essas placas tectónicas. Umas chocam entre si, porque entre elas há um limite convergente; outras afastam-se, porque há um limite divergente; e algumas roçam uma na outra num limite transformante. Estes movimentos são os responsáveis pela formação das grandes cordilheiras da Terra, pelo nascimento dos vulcões ou pela existência de sismos.

Em termos geológicos, o México sofre influência essencialmente de quatro placas tectónicas, detalha o Serviço Sismológico do México: a placa de Cocos e a placa das Caraíbas, a placa Norte-Americana e a placa do Pacífico. De todas estas placas, apenas a Norte-Americana é continental. Isso significa que é composta essencialmente por rocha granítica, sendo por isso menos densa do que as outras placas, que são oceânicas e compostas principalmente por rocha basáltico. No caso do México, há um limite transformante entre a placa Norte-Americana e a Placa do Pacífico (oceânica), caracterizada por uma atividade sísmica muito intensa. Esse é precisamente o limite onde fica a Falha de Santo André, uma fenda com quase 1300 quilómetros de extensão onde há muito se espera um sismo devastador que pode destruir por completo aquela região.

Além da interação entre estas duas placas, a atividade sísmica no México também é justificada pela convergência entre a placa de Cocos e a placa das Caraíbas. Como as duas são oceânicas — ambas compostas por basalto –, quando chocam é a mais antiga, mais fria e, por isso, mais densa que mergulha por debaixo da outra em direção ao manto. Neste caso, a placa de Cocos mergulha por debaixo da placa das Caraíbas, provocando a subida de magma a partir do manto. Ao mesmo tempo, a placa de Cocos é forçada para debaixo da Placa Norte-Americana, formando uma cordilheira no sul mexicano. Todos estes movimentos, por serem tão violentos, provocam a formação de grandes vulcões — que fazem desta zona uma região muito ativa do Anel de Fogo do Pacífico — e o surgimento de sismos de grandes magnitudes.

De onde é que os sismos vêm?

Com o passar do tempo, as rochas que compõem a litosfera terrestre são sujeitas a condições de pressões e temperaturas que podem levar à deformação desses materiais. É o mesmo que acontece quando estica um elástico: ele suporta a energia que lhe é induzida pela mão, mas acaba por rebentar quando o material de que é feito chega ao limite de resistência. O mesmo acontece com os materiais litosféricos: depois de submetidos a esforços de compressão ou de tração, as rochas podem alcançar o limite de resistência da rocha e ceder, libertando a energia que foi acumulando ao longo do tempo. É essa a energia que é libertada durante um sismo: quanto maior for a energia que a rocha liberta, maior será a magnitude do terramoto, como explica a sismóloga do Instituto Português do Mar e da Atmosfera ao Observador.

Essa energia é libertada sob a forma de ondas. Há três tipos de ondas, enumera o Serviço Geológico dos Estados Unidos: as ondas P, ou primárias; as ondas S, ou secundárias; e as ondas superficiais. As ondas P funcionam como uma onda que atravessa uma mola e são as mais rápidas, conseguindo propagar-se tanto em meio sólido como em meio líquido. As ondas S funcionam como a corda de uma guitarra a vibrar, só se propagam em meios sólidos e são mais lentas que as ondas P. Por fim, as ondas superficiais são as que causam os estragos durante um terramoto porque viajam apenas a profundidades muito curtas. Por serem mais velozes, as ondas P são também as primeiras a serem detetadas pelos sismógrafos.

No México, os materiais que compõem a litosfera nesta região do planeta são particularmente fustigados, como : as rochas são constantemente sujeitas a movimentos tectónicos que lhes alteram o volume e deixam mais vulneráveis os pontos mais fracos desses materiais. Quando as rochas mexicanas alcançam o seu limite de elasticidade, toda a energia acumulada à medida que esses movimentos violentos vão ocorrendo são libertados sob a forma de sismos.

A culpa não é só das rochas

Os aztecas eram uma tribo do norte que, vindos da América do Norte, decidiram construir uma cidade na maior ilha do lago Texcoco no século XII, recorda a Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA). Este era um lago salgado fechado e controlado por diques construídos pelos aztecas para evitar inundações e para conseguir absorver dela água das chuvas para consumo. À medida que o império ia crescendo, o povo azteca construiu também as chamadas chinampas, canteiros flutuantes de madeira que lhe permitia preparar cultivos por todo o lago. O Império Azteca começava a crescer enquanto flutuava no lago Texcoco.

Apesar dos avanços de engenharia desenvolvidos pelos aztecas, o espanhol Hernán Cortez viria a pôr fim a esse Império. Depois de expulsar os aztecas, os espanhóis destruíram todas as infraestruturas que controlavam as águas do lago, provocando inundações catastróficas na Cidade do México. Já no domínio espanhol, o lago começou a ser drenado através de canais e túneis que levaram toda a água para o rio Pánuco. O lago Texcoco desapareceu.

Mas ainda hoje, e apesar de extinto, o lago traz problemas aos mexicanos: a capital afunda vários centímetros todos os anos, apesar dos pilares que suportam os edifícios para os manterem nas alturas. É que a terra onde a Cidade do México está assente é muito instável: construir lá é como construir num terreno gelatinoso de sedimentos de origem vulcânica dissolvidos em água. É por isto que a libertação de energia pelas rochas em profundidade tem efeitos ainda mais catastróficos na capital.