Depois de perder as eleições presidenciais norte-americanas para Donald Trump, de meter na cabeça que “milhões e milhões de pessoas” não a “queriam” e de decidir engolir o sapo e acompanhar o marido ex-presidente à tomada de posse do candidato republicano, Hillary Clinton desapareceu.

Triste, abatida e desmoralizada, refugiou-se na sua mansão em Chappaqua, 50 quilómetros a norte de Nova Iorque, e passou dias a arrumar armários, passear no bosque e despejar copos de Chardonnay.

Depois recompôs-se e começou a escrever. “What Happened” (‘O que Aconteceu’) chegou esta terça-feira, dia 12, às livrarias dos Estados Unidos, menos de um ano após a derrota da candidata democrata à presidência. Ao longo das 469 páginas da edição original (ainda sem tradução em português), Clinton discorre sobre os últimos dois anos, desde o momento em que se resolveu a concorrer, até ao fim, quando tomou a decisão de assistir à “festa” de Trump.

Como o Observador já avançara em agosto, Hillary não poupa o arqui-adversário. Nem Bernie Sanders, nem James Comey, nem Vladimir Putin — nem se poupa a si própria, aliás.

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Eis sete das frases mais marcantes do livro de Hillary Clinton.

Putin não respeita as mulheres e despreza todas as pessoas que lhe façam frente, portanto, eu sou um problema duplo.

Sem a intervenção espetacular do diretor do FBI teríamos ganho a Casa Branca.”

Pode ser aflitivo, humilhante. No momento em que uma mulher avança e diz: “Vou candidatar-me”, começa: a análise da sua cara, do seu corpo, da sua voz, do seu comportamento; a diminuição da sua estatura, das suas ideias, dos seus feitos, da sua integridade.”

Os ataques dele causaram danos duradouros, fizeram com que fosse mais difícil unificar progressistas nas eleições gerais e abriu caminho para a campanha ‘Crooked Hillary’ de Trump. Não sei se isso incomodou o Bernie ou não.”

Só porque muitos ex-governantes receberam muito dinheiro para fazerem palestras e discursos, eu não devia ter assumido que não teria problemas por fazer o mesmo. Especialmente após a crise financeira de 2008-09, eu devia ter percebido que essa seria uma má jogada e ter-me mantido longe de tudo o que estivesse relacionado com Wall Street. Não o fiz. A culpa é minha.”

Tentar definir a realidade é uma característica fundamental do autoritarismo. É o que fizeram os soviéticos quando apagaram dissidentes políticos de fotos históricas. É o que acontece no romance clássico de George Orwell 1984, quando um torturador levanta quatro dedos e dá choques elétricos ao prisioneiro até que ele veja cinco dedos, como lhe ordenou. Se ele aparecesse amanhã e dissesse que a Terra é plana, o mais provável é que a sua conselheira Kellyanne Conway fosse à Fox News defender a ideia como um ‘facto alternativo’ e que muita gente acreditasse nela.”

Eu estava a fazer uma campanha presidencial tradicional com políticas cuidadosamente planeadas e coligações minuciosamente construídas, o Trump estava a fazer um reality show que hábil e incansavelmente alimentava a raiva e o ressentimento dos americanos. Eu estava a discursar sobre como resolver os problemas do país. Ele estava a reclamar no Twitter. “