Académicos moçambicanos ouvidos pela Lusa consideram que o 11.º congresso da Frelimo vai “limitar-se a produzir ajustes minimalistas” internos.

“As mudanças que podem ser esperadas serão ajustes minimalistas para que, pelo menos, a Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique] se coloque em posição de conseguir ganhar as próximas eleições”, declarou José Jaime Macuana, comentador e docente na Universidade Eduardo Mondlane.

A relutância do partido em mudar foi um fator destacado por José Macuana para caracterizar o partido, numa altura em que o contexto político e social gera contestação e críticas de vários atores da sociedade – após um ano em que a inflação chegou a 25%, depois de rebentar o escândalo das dívidas ilícitas contraídas pelo Estado entre 2013 e 2014.

“A Frelimo, em parte, não tem a força necessária para fazer as mudanças de que precisamos”, referiu Macuana.

Como exemplo, aponta a falta de opções no capítulo da economia, “principalmente na condição em que estamos, de um Estado que se apresenta economicamente falido”, sustentou o docente universitário.

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Para o académico, o país precisa de uma liderança “ousada e criativa” com capacidade de pensar “fora da caixa”.

“Não me parece que tenha havido um pensamento ousado até então. Mas, de qualquer forma, a Frelimo, definitivamente, terá de fazer um reajustamento para os próximos tempos”, frisou José Macuana.

Por sua vez, para o economista moçambicano Carlos Castel-Branco, se o 11.º Congresso da Frelimo for uma extensão do que se tem passado na Assembleia da República, onde o partido tem a maioria dos assentos parlamentares, os moçambicanos não devem esperar grandes resultados.

“O parlamento aprovou a inclusão das dívidas ilícitas nas contas gerais do Estado. O parlamento está a proteger pessoas, em ordem a proteger o partido governante. Se o congresso for uma amostra do que o parlamento já faz, eu não tenho muitas esperanças”, observou o também diretor científico do Instituto de Estudos Sociais e Económicos.

Para Carlos Castel-Branco, sem enfrentar o problema da “grande crise fiscal” do Estado e das dívidas ilícitas, a probabilidade da Frelimo encontrar caminhos para ultrapassar este “mau momento” é reduzida.

“Se esses não forem os pontos de referência, não tenho muita esperança de ver coisas concretas a saírem do congresso”, frisou o académico.

Sérgio Chichava é igualmente cético quanto ao que se pode esperar do congresso da Frelimo.

O investigador do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), uma das principais organizações de pesquisa de Moçambique, considera que o encontro vai servir apenas para a afirmação de Filipe Nyusi.

“O Presidente Nyusi vai reforçar a sua liderança. É um momento em que o presidente vai realmente tentar impor-se, sem interferências internas”, disse o académico.

Para Chichava, por um lado, a Frelimo não tem interesse em tratar das dívidas ocultas durante o congresso, na medida em que isto poderia separar o partido, num momento em que a necessidade de união é evidente face aos desafios eleitorais.

Por outro, o académico acredita que o grupo que está no poder não vai exigir a responsabilização dos autores da dívida ilícita porque alguns membros do atual executivo fizeram parte do Governo anterior, caso do próprio Presidente moçambicano, que era ministro da Defesa.

“Neste momento, o grande inimigo do partido é a oposição e acredito que tudo será feito para que nada atrapalhe a coesão do partido”, concluiu o pesquisador.

A contrastar com a posição dos analistas, que pouco esperam do congresso, os órgãos do partido têm assumido publicamente depositar grandes esperanças em Nyusi.

A comissão política da Frelimo aprovou no dia 13 uma resolução de apoio à sua recandidatura à liderança do partido apontando-o como a figura promotora de “resultados positivos que se registam no processo de recuperação” da economia moçambicana e no processo “de busca da paz efetiva no país”.

A comissão política referiu ainda que o “orgulho” em ter o atual líder como “timoneiro” reflete o sentimento dos órgãos centrais e locais da Frelimo, bem como das suas organizações sociais.

O 11.º Congresso da Frelimo vai ter lugar de 26 de setembro a 1 de outubro, na cidade da Matola, arredores de Maputo.

Nyusi está na liderança da Frelimo e de Moçambique há três anos, tendo sucedido, nos dois cargos, Armando Guebuza, que governou o país durante dez anos.