Não é a primeira vez que está em Lisboa nem a primeira que dirige a Orquestra Gulbenkian. Mas aos 27 anos, Lorenzo Viotti vai ser o Maestro Titular a partir da temporada 2018/2019 de uma orquestra com 55 anos — mais do dobro da sua idade. Até lá, vai dirigir dois programas na primavera de 2018, como Maestro Titular indigitado.
Só o será graças a Lisboa, por quem se apaixonou quando veio com a família fazer surf. Caso contrário, não teria aceitado o convite para ocupar o cargo. Agora vai ficar durante três anos.
Jamais aceitei algo pela fama, sempre fiz escolhas muito cuidadosas. E fiz esta porque me senti bem aqui. Pode soar egoísta, mas não poderia aceitar um cargo e não gostar da cidade”, revelou Viotti em entrevista ao Expresso.
Diz que nasceu para ser maestro ou não tivesse nascido numa família de músicos: os pais e os três irmãos têm carreiras ligadas à música. Aliás, para Lorenzo, ser maestro — que define como alguém que “indica, com um movimento, como é que os músicos vão tocar” — não se aprende até porque “a liderança não se aprende”, explica.
Ninguém pode dizer que não é um maestro antes de ter estado à frente de uma orquestra. Para mim, esse foi o grande teste”, defende Lorenzo Viotti em entrevista ao Expresso.
O “grande teste” de Lorenzo aconteceu no Festival de Salzburgo, onde ia tocar no concerto dos estudantes. Na altura, era percussionista. Mas viu-se de batuta na mão quando o maestro cancelou e o convidaram para dirigir o concerto. “Primeiro foi o medo de não ser capaz, depois a certeza de estar em casa”, revelou.
Natural de Lausanne, na Suíça, aos 19 anos foi percussionista da Filarmónica de Viena. Na altura, recorda, era “mau aluno porque nunca estava no conservatório”. Conta com várias conquistas — venceu o Nestlé and Salzburg Festival Young Conductors Award, em 2015, o Concurso Internacional de Dirección de la Orquesta de Cadaqués, em 2013, e o prémio International Opera Newcomer Award, este ano.
A Orquestra Gulbenkian é apenas uma da longa lista de orquestras que Lorenzo Viotti já dirigiu: a Orchestre National de France, a Bamberger Symphoniker, a Gewandhaus Leipzig, a Rotterdam Philharmonic, a Staatkapelle Dresden, a Münchner Philharmoniker, a Gustav Mahler Jugendorchester, a Royal Philharmonic Orchestra e a Mahler Chamber Orchestra. Lorenzo Viotti passou também por vários teatros de ópera: Théâtre du Châtelet, em Paris, o La Fenice, em Veneza, a Semperoper Dresden, na Alemanha, ou a Opéra de Lyon.
O que Lorenzo promete para a Orquestra Gulbenkian, cheia de “verdadeiros músicos”?
Vai ser tão exigente com os músicos como é para si mesmo, revelou Lorenzo Viotti na entrevista ao Expresso. “Não estou aqui só para fazer amigos”, avisou. Admite que a Orquestra Gulbenkian está cheia de “verdadeiros músicos” mas que não estão “habituados a ser espicaçados”.
Chegou a essa conclusão em janeiro quando esteve em Lisboa para dirigir um programa com música de Wagner, Chausson, Debussy e Scriabin e, mais tarde, na mesma temporada, com a solista Waltraud Meier para dirigir Mahler, Webern e Rachmaninov. Ficou impressionada com o que os músicos da Orquestra Gulbenkian conseguiram crescer em três dias
Quanto mais se habituarem às mudanças, mais as diferenças serão audíveis. Portanto, este é um casamento, o meu primeiro, e não sei se me vou divorciar ou se tudo será maravilhoso durante três anos, disse ao Expresso.
Em janeiro, Lorenzo descobriu “uma orquestra tecnicamente forte” — algo que achou “verdadeiramente impressionante”. O futuro Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian diz que os músicos têm a capacidade de “transmitir emoção e paixão”. “E isso dá-me prazer, porque senti uma grande oportunidade para algo de especial acontecer”, explicou.