Os desastres naturais estão a tornar-se numa das principais causas da deslocação de pessoas, alertou hoje o diretor para a construção da Paz do PNUD, apontando o desenvolvimento económico local como peça chave na criação de sociedades mais resilientes.
“A realidade está aí. Temos um número sem precedente de deslocados, migrantes e refugiados. No passado, tínhamos estes deslocados causados por conflitos, hoje vemos que os desastres naturais estão a aumentar e a tornar-se numa das principais causas do deslocamento de pessoas”, disse à agência Lusa Patrick Keulers.
O diretor de políticas de apoio de governo e construção da paz do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Patrick Keulers, falava à agência Lusa, na cidade da Praia, à margem de uma das sessões do IV Fórum de Desenvolvimento Económico Local, que sexta-feira termina.
Patrick Keulers, que foi ao fórum falar sobre as formas de construção de sociedades mais resilientes após conflitos ou crises, adiantou que só em 2014, cerca de 20 milhões de pessoas foram deslocadas devido a desastres naturais, incluindo furacões, cheias e outros efeitos das alterações climáticas.
“É uma realidade com que temos que lidar e é por isso que é importante olhar para os aspetos multidimensionais destes choques e riscos. As mudanças climáticas e os desastres naturais também podem levar ao conflito e precisamos de analisar e compreender esses riscos e tomar as medidas necessárias de uma forma participada e a vários níveis”, sustentou.
Patrick Keulers entende que o desenvolvimento económico local é hoje uma peça chave na criação de sociedades mais resilientes no pós-conflito ou pós-desastre natural, mas admite que não é suficiente.
“O desenvolvimento económico local é hoje uma peça-chave na criação de sociedades resilientes, especialmente depois de conflitos e crises, mas sozinho não é suficiente. É preciso ser encarado num conjunto de iniciativas mais alargadas que melhorem também os sistemas de governança económica, politica e administrativa”, disse.
“Por isso, precisa de ser acompanhado de medidas que fomentem a participação das pessoas, criem diálogo, envolvam as mulheres e a juventude e promovam a descentralização para que as comunidades locais tenham uma palavra a dizer no futuro do país e na construção após uma crise ou um conflito”, acrescentou.
O responsável do PNUD adiantou que o programa das Nações Unidas dá atualmente apoio no desenvolvimento a mais de 40 países e destacou a importância de promover uma abordagem que envolva os vários atores.
“Os governos são importantes, os governos locais são importantes, mas temos que trazer a sociedade civil, as organizações de jovens e de mulheres”, disse, sublinhando também que se trata de um “desafio global” em que é precisa a solidariedade de todos com os países que estão a lidar com estes fenómenos.
O Fórum Mundial de Desenvolvimento Local decorre desde segunda-feira na cidade da Praia com cerca de 3 mil participantes e mais de 190 oradores.