O Banco Central Europeu (BCE) confirmou esta quinta-feira que vai reduzir o montante gasto mensalmente com a compra de títulos de dívida (pública e privada) dos países da zona euro. Até ao final de 2017 vão ser gastos 60 mil milhões de euros por mês mas esse valor cai para 30 mil milhões a partir do início do próximo ano — e o programa vai durar até setembro de 2018, pelo menos.
A informação foi anunciada esta quinta-feira pelo banco central que gere a política monetária da zona euro. Em simultâneo, sem novidades, foram mantidas as taxas de juro nos mesmos níveis: 0% para a taxa diretora e -0,4% para a taxa dos depósitos (ou seja, os bancos pagam para depositar junto do banco central).
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O BCE garante que a previsão é que estas taxas de juro se mantenham “nestes níveis” por um “período alargado”, o que significa “bem além do término” do programa de compra de ativos. E até quando pode durar o programa? Até setembro de 2018, mas o BCE reserva a opção de fazer alterações — nos montantes ou na duração — se as perspetivas para a inflação o justificarem.
“O programa vai continuar até que a inflação se ajuste de forma sustentável” ao objetivo do banco central, que é de “perto, mas abaixo, de 2% no médio prazo”. Alguns indicadores de inflação já colocam o ritmo de subida dos preços próximo dos 1,5%, o que ainda é inferior ao objetivo do BCE mas já está mais perto da média histórica na zona euro.
“Crescimento sólido e generalizado” na zona euro
Na conferência de imprensa de apresentação das medidas, Mario Draghi justificou o corte nas compras de dívida com as indicações de “crescimento sólido e generalizado” e de uma “ligeira subida” dos indicadores de inflação na zona euro. O crescimento para o segundo semestre também se prevê positivo, indicam os dados avançados analisados pelo BCE — e Draghi defende que a política monetária tem sido decisiva, por exemplo através dos juros baixos para empresas e famílias, que permitem refinanciar a dívida a custos mais baixos e, assim, favorece a diminuição do endividamento.
Apesar da “subida ligeira” nos indicadores de inflação, Draghi diz que faltam, ainda, dados totalmente “convincentes” sobre a durabilidade da subida da inflação. Por esta razão, os estímulos monetários vão continuar em 2018: compras de dívida e juros negativos (0% na taxa diretora e -0,4% nos depósitos).
A expectativa mais consensual entre os analistas era de que o programa seria alargado só até junho mas uma redução para 40 mil milhões por mês. Alguns bancos, como o Morgan Stanley, já tinham, contudo, previsto que o BCE iria preferir um corte mais drástico mas continuar com o programa por mais tempo — os tais nove meses, a contar a partir do início de 2018. Para os mercados, isso significa que o montante total de compras será um pouco superior, neste caso: são 270 mil milhões de euros gastos nestes nove meses, um pouco mais do que os 240 mil milhões que totalizariam 40 mil milhões por seis meses.
Em reação a esta “recalibração” do programa de compras, a cotação do euro passou para terreno negativo, perdendo 0,5% face ao dólar (para 1,1751 dólares) depois de uma manhã sem tendência definida. Também os juros da dívida de países como Portugal estão em queda, com a perspetiva de mais compras de dívida no mercado.
O BCE confirmou, também, que vai continuar a reinvestir o que recebe com as obrigações que vão vencendo, o que é um estímulo adicional que tende a ser desvalorizado mas que é relevante. Com toda a dívida que foi adquirida, muitos títulos estão a ser reembolsados na data prevista — ou seja, os devedores reembolsam o capital em dívida ao detentor dos títulos, o que em muitos casos é o BCE. O que está em causa aqui é que cada euro que o BCE recebe em reembolsos é gasto na compra de novos títulos.
Caso isto não acontecesse, o que teríamos era uma redução do balanço total do BCE — o conjunto de ativos que estão nos livros do banco central — e isso, sim, equivaleria a uma inversão e um aperto real da política monetária. Este efeito tende a ser esquecido mas, segundo informações dadas à Bloomberg no mês passado, estamos a falar de uma média de 15 mil milhões por mês em dívida antiga que vence e cujo encaixe o BCE usa para comprar novos títulos.
Esses reinvestimentos de dívida que for vencendo irão continuar “por um período alargado”, disse esta quinta-feira Mario Draghi, recusando dar mais detalhes do que garantir que as compras vão continuar até “bem além” do final do programa de compra de ativos.