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Efeito Weinstein: há mais 26 acusados de assédio sexual

Este artigo tem mais de 5 anos

Realizadores de cinema, atores, músicos, fotógrafos, escritores e até ex-presidentes. O escândalo que começou com Harvey Weinstein ganhou proporções inimagináveis e escalou fronteiras.

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Emma Thompson bem avisou quando disse que Harvey Weinstein era apenas a ponta de um icebergue. A declaração da atriz, feita numa altura em que rebentava o escândalo em torno do poderoso produtor de Hollywood, não demorou muito até se tornar verdadeira. Weinstein foi o primeiro a aparecer numa lista que está cada vez mais longa, onde se incluem fotógrafos, realizadores de cinema, escritores e até ex-presidentes. Resta saber quão fundo é este icebergue. Para já, inclui 26 nomes.

O “efeito Weinstein” e o escândalo Toback

A imprensa internacional já fala num “efeito Weinstein”, tamanha é a repercussão das muitas acusações de assédio sexual de que o produtor de cinema é alvo. A atriz Natassia Malthe é a figura mais recente a acusá-lo de violação, tornando-se na sexta pessoa a fazê-lo. Numa conferência de imprensa, Malthe contou como o produtor a violou num quarto de hotel depois da cerimónia dos prémios Bafta, em 2008, e como não usou qualquer preservativo. Malthe junta-se a dezenas de mulheres cujas histórias são agora responsáveis pela queda (abismal) do norte-americano.

Mas Weinstein não está sozinho no barco prestes a afundar-se (o irmão, Bob Weinstein, também já foi imputado de má conduta). Desde que o escândalo rebentou, a 5 de outubro, quando o The New York Times publicou uma vasta investigação sobre a conduta inapropriada do produtor, muitos outros nomes foram colados à expressão “assédio sexual”, uns mais conhecidos do que outros.

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O realizador James Toback é dos últimos a ser apanhado na corrente da onda Weinstein, com o Los Angeles Times a avançar que é acusado de assédio sexual por 38 mulheres. Segundo consta, o norte-americano de 72 anos abordava jovens nas ruas de Nova Iorque com a promessa de uma carreira de sucesso em Hollywood. Em troca, tinham de se encontrar num quarto de hotel ou num parque. Toback fazia-lhes perguntas de cariz sexual e masturbava-se.

Um dominó de alegações

O The Huffington Post fez um vídeo onde reúne por ordem cronológica todas as pessoas já acusadas, começando por Andy Sigmore, vice-presidente da Defy Media e criador dos vídeos “Honest Tailers”, que foi despedido da própria empresa que chefiava depois de várias mulheres o terem acusado de assédio e até de agressão sexual.

Semelhante destino teve Roy Price, chefe da Amazon Studios, que foi suspenso horas depois de o “The Hollywood Reporter” ter publicado uma entrevista com Isa Dick Hackett, produtora da série “The Man in the High Castle”, onde afirma que foi alvo de vários avanços por parte de Price, de 51 anos. Price acabou por se demitir e, entretanto, a Amazon já perdeu mais outros dois executivos por motivos semelhantes.

E a cascata prosseguiu. Lockhart Steele, diretor editorial da Vox Media, foi demitido. Chris Savino, showrunner da série de animação “Loud House” do Nickeloden, foi despedido. Matt Mondanile, da banda Real Estate, cujo caso ocorreu em fevereiro mas só agora foi revelado, foi igualmente despedido. Ainda no universo musical, Marilyn Manson despediu Jeordie White (também conhecido por Twiggy Ramirez), o baixista que tocava com o artista desde 1993 e o membro mais antigo da atual formação, depois deste ter sido acusado de violação pela ex-namorada.

Ben Affleck, Steven Seagal e Oliver Stone entre os acusados

Ben Affleck pediu desculpa publicamente por ter apalpado a atriz Hilarie Burton durante uma aparição no programa Total Request Live, da MTV, em 2003. Mas o ator pode não estar ainda a salvo, com um vídeo polémico, referente a uma entrevista de 2004, a circular nas redes sociais. Nele, Affleck incita a apresentadora canadiana Anne-Marie Losique a sentar-se ao seu colo, sendo que existe um óbvio contacto físico. A apresentadora já veio defender o ator, dizendo que “nada de inapropriado aconteceu”.

Agora com 65 anos, Steven Seagal também foi acusado pela jornalista Lisa Guerrero de assédio sexual, depois de um episódio suspeito em 1996, quando participou num dos seus filmes, “Corrupção Total”. Guerrero contou ao The Hollywood Reporter que quando leu sobre o escândalo protagonizado por Harvey Weinstein lembrou-se automaticamente da vez em que Seagal lhe abriu a porta vestido com um roupão de seda. “Foi exatamente o que o Steven Seagal fez. Mais tarde descobri que ele era famoso por isso. A quem é que eu me ia queixar de descriminação sexual? Ele era a estrela e o produtor do filme”.

Oliver Stone, que até começou por defender o produtor caído em desgraça, enfrenta agora igualmente acusações da atriz e ex-modelo da Playboy Carrie Stevens. Stevens conta que quando tinha apenas 22 anos foi apalpada pelo famoso realizador numa grande festa de Hollywood. A história ficaria por contar não tivesse o cineasta dito aos jornalistas que Weinstein não devia “ser condenado por um sistema de justiceiros”. “Sou um firme defensor da teoria de que é preciso esperar pelo processo.”

Ao relato de Carrie Setevens junta-se o de Patricia Arquette, que revelou no Twitter o estranho encontro com o mesmo realizador: os dois reuniram-se para discutir a participação da atriz num “filme muito sexual”; seguiu-se o envio de rosas por parte de Stone e o convite para a exibição de um dos seus filmes. Quando Arquette levou o namorado a essa mesma exibição, Stone questionou-a à saída da casa de banho: “Porque é que o trouxeste?”. A atriz respondeu: “Porquê? Há algum problema em tê-lo trazido? Isso não deveria ser um problema. Pensa nisso, Oliver!”. Arquette nunca mais foi contactada pelo realizador a propósito do “filme muito sexual”.

Assédio sexual além de Hollywood e além-fronteiras

Terry Richardson é outro dos nomes a circular, por estes dias, na imprensa internacional. Com o escândalo à volta de Weinstein era inevitável que rumores antigos viessem à tona. Foi o que aconteceu com o fotógrafo das celebridades, que já em 2014 sentiu necessidade de se defender depois de várias modelos o acusarem de má conduta. Richardson, que foi tema de um polémico artigo publicado este fim de semana no The Sunday Times, foi impedido de voltar a trabalhar com as publicações referentes ao grupo Condé Nast International, do qual fazem parte títulos tão famosos como Vogue, GQ, Vanity Fair e Glamour.

Terry Richardson impedido de trabalhar com a Vogue e outras publicações

Apesar de em 2014 ter publicado uma carta aberta no The Huffington Post onde argumentava que colaborara sempre “com o consentimento de mulheres adultas que estavam plenamente conscientes da natureza do trabalho” e que nunca usou “uma proposta de trabalho ou uma ameaça de repreensão para coagir alguém a fazer algo que não quisesse fazer”, o fotógrafo admite agora ter “interagido” sexualmente com as modelos. A confissão vem de uma porta-voz do fotógrafo que disse ao jornal britânico The Telegraph que Richardson “é um artista conhecido pelo seu trabalho com conteúdo sexual explícito, portanto muitas das suas interações profissionais eram de natureza sexual e explícita“, mas que tudo isso era feito com o devido consentimento.

Knight Landesman, co-editor da revista nova-iorquina Artforum foi igualmente acusado de assédio sexual por oito mulheres. Aos 67 anos, e no âmbito do escândalo em que agora se vê envolvido, renunciou ao cargo. Landesman é considerado um dos gurus da arte contemporânea nos Estados Unidos.

Num registo diferente, e além-fronteiras, é notícia que a atriz e realizadora espanhola Leticia Dolera, de 36 anos, escreveu uma carta aberta intitulada “O escândalo machista vestido de normalidade”, publicado no eldiario.es, onde conta que foi vítima de assédio sexual por vários companheiros de profissão. No artigo publicado no El Mundo, é explicado que numa festa em que Dolera participou, quando tinha apenas 18 anos, um cineasta tocou-lhe nas mamas à frente de outros homens da indústria. Ninguém fez nada.

#Metoo. Outros casos, mais histórias

Na sequência do escândalo, milhares de pessoas estão agora a partilhar nas redes sociais — nomeadamente no Twitter — histórias de assédio sexual com a hashtag #metoo. O movimento começou com a atriz Alyssa Milano de maneira a dar magnitude ao problema e levá-lo além das fronteiras de Hollywood. Foi através desse movimento que uma mulher acusou o filantropo e sobrevivente do Holocausto Elie Wiesel de a ter molestado quando era uma adolescente — Wiesel, já falecido, alegadamente agarrou-lhe o rabo num evento de caridade em Nova Iorque há três décadas.

Tantos nomes depois, a lista referida no começo deste artigo está longe de acabar. Segundo o The Huffington Post, que se baseou em diferentes meios, ainda falta mencionar David Carrera (da Universidade do Sul da Califórnia), Sam Kriss (escritor do Vice), Larry Nassar (médico da equipa olímpica norte-americana), Scott Courtney (vice-presidente executivo da Service Employees International Union), Tyler Grasham (agente artístico), Bill O’Reilly (apresentador de televisão), Robert Scrobble (bloguer de tecnologia), John Besh (chef de cozinha), Leon Wieseltier (editor e escritor), Ethan Kath (produtor e compositor principal do Crystal Castles), Mark Halperin (jornalista) e R. Kelly (cantor). Estes nomes talvez não sejam tão conhecidos, mas o mesmo não se pode dizer seguramente de George H. W. Bush.

Será que chegámos à base do icebergue?

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