Os prejuízos dos incêndios nas empresas de Oliveira do Hospital rondam os 100 milhões de euros e os apoios anunciados pelo Governo para a sua recuperação “são insuficientes”, afirmou o presidente da Câmara. “Temos um caderno reivindicativo de que não abdicaremos e estamos em constante negociação para corrigir o que deve ser corrigido”, disse José Carlos Alexandrino, na cerimónia em que tomaram posse os novos titulares da Câmara e da Assembleia Municipal deste concelho do distrito de Coimbra.
Para o autarca, independente eleito pelo PS nas autárquicas de 01 de outubro para um terceiro mandato, “os apoios do Governo para cobrir um prejuízo contabilizado em 98 milhões de euros são insuficientes” para recuperar as 95 empresas locais destruídas ou diminuídas na sua capacidade produtiva pelo fogo, no dia 15.
“Com o nosso tecido empresarial fortemente abalado, estamos no terreno a trabalhar intensamente com as empresas, procurando encontrar mecanismos de apoio junto do Governo e de outras entidades, para que os nossos empresários, em quem deposito a maior esperança, nos possam ajudar a reerguer este concelho”, referiu.
Por outro lado, frisou, o autarca disse que não se conformará “enquanto os agricultores, que perderam as suas explorações, não tenham acesso ao mesmo de tipo de apoio que está previsto para as empresas” industriais e comerciais.
“As medidas de apoio ainda não estão totalmente fechadas”, declarou, por seu turno, à agência Lusa, a presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC).
Ana Abrunhosa adiantou, no entanto, que “as medidas em concreto estão bem pensadas”, mas que vai ser necessário “trabalhar com evidências”, cabendo aos empresários “comprovar as perdas”.
“Os apoios são sempre poucos para quem está desesperado”, admitiu, perante as críticas que alguns empresários lhe colocaram na quinta-feira, num encontro nos Paços do Concelho de Oliveira do Hospital destinado a divulgar as medidas do Governo para reerguer as economias locais afetadas pelos incêndios dos dias 15 e 16.
Essas críticas foram secundadas pelo presidente da Câmara, que também esteve naquela reunião.
O empresário Luís Lagos, porta-voz da Associação de Vítimas do Maior Incêndio de Sempre em Portugal, reiterou à Lusa algumas das reservas que ele e outros empregadores do concelho expressaram, na quinta-feira, à presidente da CCDRC. Luís Lagos, que tomou também posse como membro da Assembleia Municipal de Oliveira do Hospital, eleito numa coligação liderada pelo CDS/PP, disse que o Governo deve assegurar “apoios idênticos” para a agricultura e para as demais empresas.
“Não pode haverá aqui portugueses de primeira e de segunda”, acentuou. Por outro lado, as empresas “continuam a não ter resposta do Governo relativamente aos seus trabalhadores”, atualmente sem emprego, lamentou.
As centenas de incêndios que deflagraram no dia 15, o pior dia de fogos do ano, segundo as autoridades, provocaram 45 mortos e cerca de 70 feridos, perto de uma dezena dos quais graves. Os fogos obrigaram a evacuar localidades, a realojar as populações e a cortar o trânsito em dezenas de estradas, sobretudo nas regiões Norte e Centro.
Esta é a segunda situação mais grave de incêndios com mortos em Portugal, depois de Pedrógão Grande, em junho deste ano, em que um fogo alastrou a outros municípios e provocou, segundo a contabilização oficial, 64 vítimas mortais e mais de 250 feridos. Registou-se ainda a morte de uma mulher que foi atropelada quando fugia deste fogo.