O calendário marcava cinco de dezembro, corria o ano de 2011. No coração de Lisboa, arrancava a primeira edição do Vodafone Mexefest, esgotada por sinal. Nascia também, em paralelo, uma nova forma e dinâmica de consumir música ao vivo num festival, simultaneamente em vários palcos e com total livre arbítrio de movimentação entre estes.

A caminhada ao longo dos últimos sete anos [e oito edições, sete em Lisboa e uma no Porto] deste inovador projeto é sem dúvida percurso de sucesso. E quando se olha para o contributo cultural do Vodafone Mexefest, é impossível não falar na importância que o mesmo tem tido para novos talentos da música, dentro e fora das nossas portas. São vários os exemplos de artistas e bandas emergentes, ou na altura ainda não tão conhecidos do grande público, que foram uma aposta clara – e certeira – do festival. Dezenas são os nomes que conseguiram levar a sua arte a plateias maiores, vendo as suas carreiras evoluir desde a sua passagem pelos palcos do Vodafone Mexefest, que regressa a Lisboa para a sua nona edição, nos dias 24 e 25 de novembro.

Benjamin Clementine por André Ferreira

Se não vejamos. James Blake e Benjamin Clementine, por exemplo, não têm apenas em comum a nacionalidade britânica, a mesma faixa etária e o facto de serem nomes atualmente fulcrais das sonoridades mais “indie”. São, também, dois dos mais claros exemplos da visão vanguardista que muito tem pautado o ADN do Vodafone Mexefest, perito em antecipar tendências e novos talentos, antes dos mesmos darem o grande salto. Os exemplos são muitos mais.

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Tendência: apresentar novos talentos

No caso de James Blake, o jovem de 29 anos atuou logo na primeira edição do Vodafone Mexefest, em Lisboa, no mesmo dia de nomes como Toro Y Moi e Oh Land, e protagonizou o concerto mais concorrido. Na altura, quando deixou o público português rendido à sua sensibilidade sonora, tinha acabado de lançar o seu disco de estreia, homónimo. Depois do Vodafone Mexefest, somou nomeações nos prémios Grammy e Brit Awards, para além de colaborações com gigantes da música como Beyoncé e Jay-Z.

James Blake fotografia cedida pelo promotor

Mas o vanguardismo deste festival não se fica por aqui. Nem pouco mais ou menos. Em 2011, a norte-americana St. Vincent, veio pela segunda vez a Portugal a convite do festival, apresentar o disco “Stranger Mercy”, muito antes dos seis álbuns que já tem no currículo e a estatueta Grammy que venceu entretanto. Escusado será dizer que este foi um dos concertos mais aplaudidos da edição de 2011.

O mesmo veio a verificar-se alguns meses depois, com Twin Shadow, que atuou no Porto, na edição que o festival realizou na Invicta, em março de 2012, com os portugueses Supernada, o norte-americano CassMcCombs e os suecos Niki & The Dove, por exemplo. Nos últimos cinco anos, Twin Shadow e a sua “synthpop” tem desenvolvido um percurso de cada vez maior êxito na música, em paralelo com as variadas colaborações na publicidade, na moda e no cinema.

Twin Shadow fotografia cedida pelo promotor

Ascensão semelhante tiveram os britânicos Alt-J, que vieram de Leeds até ao coração de Lisboa para mostrarem o seu disco de estreia, “An Awesome Wave”, na segunda edição do festival, em 2012, que contou com as palmas de mais de 10 mil pessoas. A plateia portuguesa comprovou o talento do trio de “indie rock”, que somou depois nomeações nos prémios Brit Awards e Grammy. Os Alt-J regressam a Portugal em janeiro próximo para um concerto em nome próprio, mostrando que criaram uma relação amigável com o nosso país.

Alt J fotografia cedida pelo promotor

O mesmo aconteceu com outros tantos artistas. Nesse mesmo ano, por exemplo, os britânicos Django Django apresentavam os frescos temas do primeiro disco, homónimo, com músicas como “Hail Bop” ou “Default”. Seis anos depois, correm o mundo em digressões e somam fãs atrás de fãs, tendo já editado um terceiro LP.

Um dos nomes que abrilhantou o cartaz do Vodafone Mexefest de 2012 acabaria, depois, por saltar para projetos de êxito na televisão. Quem já viu a primeira temporada da multi-galardoada série da HBO “Big Little Lies”, estreada este ano, e protagonizada, entre outras atrizes, por Nicole Kidman, poderá ter reconhecido a voz do genérico. Pertence a Michael Kiwanuka, que trouxe a “soul” do seu primeiro disco, “Home Again” à segunda edição do Vodafone Mexefest. Na altura, tinha apenas 24 anos. Para além do Vodafone Mexefest, também Adele já andava de olho no cantor, tendo-o escolhido para fazer a primeira parte de alguns dos seus concertos.

Já em 2013, na quarta edição do Vodafone Mexefest (na qual tocaram nomes como Savages, John Grant, Glasser e Erlend Oye), o francês Woodkid foi a principal estrela.. O público português pode ver, pela primeira vez, ao vivo e a cores num Coliseu de Lisboa lotado até às costuras, porque é que Yoann Lemoine é hoje um artista conhecido em todo o mundo, somando duas nomeações nos Grammy e colaborações, musicais ou visuais, com um eclético leque de figuras, como Harry Styles, Kanye West, Pharrell Williams, Taylor Swift, Lykke Li, John Legend, Lana Del Rey ou Katy Perry, e contribuições para filmes como “Divergente” ou séries como “13 Reasons Why”, da Netflix.

Woodkid por André Ferreira

Perfume Genius foi um dos principais nomes da edição de 2014 em Lisboa, um ano que voltou a ser mais uma prova da qualidade e versatilidade musical do Vodafone Mexefest, levando qualquer coisa como 14 mil portugueses a 14 palcos diferentes no final e contando com um cartaz onde se liam nomes como Wild Beasts, Pharoahe, Clã, Shura, NBC e Stereossauro. Em novembro desse ano, Perfume Genius concentrava, à porta do Cinema São Jorge, uma fila de perder de vista, tal foi a receção do público português. Não faltou muito até choverem convites a Mike Hadreas [nome real do artista] por parte de apresentadores de populares programas de TV como Jimmy Kimmel e Stephen Colbert – e até da Prada, para dar música a anúncios de publicidade.

Perfume Genius fotografia cedida pelo promotor

E ainda há mais. A norte-americana Sharon Van Etten, que se deu a conhecer melhor ao público português com um espetáculo na edição de 2014, a desculpa mais do que aceitável para promover o álbum “We Are There”, tem sofrido uma ascensão meteórica desde aí. Mas não apenas na música: estreou-se como atriz no filme “Strange Weather” e na série da Netflix “The OA”. Mais recentemente, até cantou num dos episódios da mais nova temporada de “Twin Peaks”, o formato de culto de David Lynch e Mark Frost.

Benjamin Clementine marcou a edição do Vodafone Mexefest em que foi cabeça-de-cartaz, a de 2015, na qual participaram também nomes já estabelecidos como Peaches, Patrick Watson e Chairlift. Com a lotação de um Coliseu de Lisboa esgotada, o londrino de 28 anos brindou o público do festival com o álbum de estreia, “At Least For Now”, que o levou a ter a crítica a seus pés. Rapidamente o mundo voltou as atenções para Clementine, que recebeu um prestigiado Mercury Prize e vários títulos por parte da imprensa: os 28 maiores génios da cultura em 2016 para o “The New York Times”, um dos heróis de 2015 para o “The Guardian” ou um dos britânicos mais influentes para o “London Evening Standard”.

Rampa de lançamento para novo sangue lusitano

A Vodafone, quer seja na rádio que tem o seu nome, como neste festival, é uma marca empenhada em apoiar os novos talentos da música nacional. Se não vejamos. O primeiro Vodafone Mexefest serviu de palco de apresentação para os Ladrões do Tempo, o então novo projeto de Zé Pedro (Xutos & Pontapés), Tó Trips e Pedro Gonçalves (Dead Combo), Samuel Palitos (Censurados) e Paulo Franco (Dapunksportif), que conseguiram editar um primeiro disco em 2015. Seis anos depois da ida ao festival, continuam na estrada com concertos de Norte a Sul do país e um público fiel nas redes sociais.

Mas não só. Ainda em 2011, Luísa Sobral, já tinha roubado atenções na primeira edição do Vodafone Mexefest, na fase inicial da sua carreira, quando editou “The Cherry On My Cake”, numa antecipação ao percurso de êxito que alcançou até agora, ela que colocou o mundo a cantarolar “Amar Pelos Dois”, o tema que compôs em 2017 para a Eurovisão.

Em 2013, ano em que talentos nacionais como Márcia, peixe: avião e The Legendary Tigerman [este último lançou na altura um tema novo numa parceria exclusiva com o Vodafone Mexefest] atuaram no festival em Lisboa, já com anos de carreira e trabalhos editados, o efeito vanguardista deste evento foi novamente certeiro. Uma jovem Gisela João, acabada de lançar um álbum, lotou, por completo, a Sociedade de Geográfia de Lisboa, um dos palcos do Vodafone Mexefest. Dois anos depois do festival, a popular fadista esgotava duas das mais emblemáticas salas do país: os Coliseus.

Gisela João por André Ferreira

No ramo de novos talentos da música nacional, não haja dúvidas. Salvador Sobral, o mais mediático compositor português em 2017, já tinha mostrado o seu jazz no Palácio Foz, na edição de 2015 do Vodafone Mexefest, quando ainda poucas pessoas sabiam quem era, mostrando que este é um festival que antecipa, constantemente, aquilo que o grande público vai depois aplaudir.

Salvador Sobral por Fábio Augusto

E por falar no certame europeu que se realizará em Lisboa em 2018, pela primeira vez, também Celina da Piedade deu um dos mais divertidos concertos do Vodafone Mexefest, em 2016, com a sua energia, positivismo e folklore. Na altura, tinha acabado de lançar o terceiro disco, “Sol”, mas tem hoje a popularidade e o reconhecimento do grande público, somando quase 150 mil seguidores só no Facebook.

Celina da Piedade por João Fortuna

Vêm aí as grandes promessas de 2017

A edição deste ano, com data marcada para 24 e 25 de novembro nos palcos habituais no coração de Lisboa, vai trazer de volta a Portugal nomes que já conseguiram criar o seu espaço no mundo da música menos “mainstream”, como, entre outros, os Washed Out, Destroyer, Cigarettes After Sex, Everything Everything e Liars, ou os portugueses Orelha Negra, Manel Cruz, Moullinex, Valete, Allen Halloween e Paulo Bragança [que volta a território nacional para um concerto depois de vários anos a viver no estrangeiro].

Jessie Ware é um dos nomes mais aguardados pelo público neste seu regresso aos palcos portugueses. Aos 33 anos, a aclamada londrina que muitos comparam a Sade irá mostrar no Vodafone Mexefest os temas do novo “Glasshouse”, o seu terceiro álbum de originais, que vem compor uma discografia que já soma mais de um milhão de exemplares vendidos.

Mas 2017 promete dar continuidade à aposta do Vodafone Mexefest nos talentos que se encontram na iminência de saltar para os grandes palcos e públicos, mundo fora. São os casos de artistas como Sevdaliza, Mahalia, Liniker e os Caramelows, IAMDDB ou Luís Severo, por exemplo.

Com um primeiro disco lançado recentemente, “Ison”, a iraniana Sevdaliza traz o seu “trip-hop” eletrónico à capital numa altura em que está a gerar bastante curiosidade, estando já a ser comparada a nomes incontornáveis como Portishead e Massive Attack.

Mas há mais sangue novo a fervilhar por Lisboa em novembro. A britânica Mahalia, que canta desde a adolescência, só agora está a roubar atenções, depois de ter trabalhado com Rudimental, Kendrick Lamar ou Ed Sheeran. Oportunidade mais do que merecida para que o público português ouça o álbum “Diary Of My”, editado este ano.

E se ouvir falar em Luís Severo no futuro, não diga que o Vodafone Mexefest não o avisou. O compositor, que tem sido uma aposta da Vodafone FM, vai apresentar no festival o seu LP homónimo, que tem recebido aplausos da crítica e o tem apontado como uma das principais promessas da nova música portuguesa.