Uber vai dar asas às boleias a partir de 2020

O dia começou na Web Summit com um grande anúncio da Uber: os carros da empresa vão voar em Los Angeles já em 2020. No dia em que se esperava uma paralisação do serviço de mobilidade em Lisboa, a empresa divulgou o novo serviço UberAIR como uma solução para o congestionamento crescente nas cidades. É graças a uma parceria com a agência espacial americana, a NASA, que voar de um lado para o outro como se apanhássemos se torna bem mais possível do que podíamos esperar.

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O veículo que a Uber vai usar é totalmente elétrico e é um misto entre um carro e um helicóptero, com várias hélices que, segundo a empresa, o tornam silencioso. Jeff Holden, o responsável de produto que em palco anunciou a nova modalidade de viajar nas cidades garante que “vai ser mais barato do que conduzirmos os nossos próprios carros”.

Diversidade de género: ser parte da solução para não ser parte do problema

Susan Herman (presidente da American Civil Liberties Union) e Blake Irving (CEO da GoDaddy) no Centre Stage. Créditos: JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR.

Quando Jane Martinson, colunista do The Guardian, entrou em palco, deu-nos 26 boas razões para ter reunido na Web Summit três dos grandes nomes dos defensores da diversidade de género nas companhias. É que “as mulheres representam apenas 26% do mercado de trabalho, uma percentagem que baixa ainda mais quando falamos de lugares de liderança”. É com esta introdução que se abrem as portas do debate “Tech has a diversity problem”, que juntou Susan Herman (presidente da American Civil Liberties Union) e Blake Irving (CEO da GoDaddy) no Centre Stage.

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Mas nem só de números se faz o problema da falta de diversidade de género no mercado de trabalho: “É preciso ter um tratamento equilibrado e inclusivo: a nós interessa-nos que as mulheres recebam um ordenado justo, que tenham uma avaliação justa e que ela não seja deturpada pelo facto de terem nascido mulheres”, opina Susan Herman. E prossegue: “O problema quando as mulheres são assediadas no lugar de trabalho não termina no facto de um homem se julgar dominante em relação à mulher. Ele aumenta quando as pessoas sabem o que está a acontecer e não fazem nada”.

É daqui que parte a maior mensagem deixada na Web Summit sobre este assunto: o silêncio é inadmissível. Susan Herman sublinhou que “se não estás no topo e não tens controlo no que a empresa faz, há sempre outra coisa que podes fazer. Porque se não formos parte da solução, somos parte do problema. Se sofrerem de assédio sexual, não se resumam ao silêncio, não escolham outro lugar onde trabalhar”. Depois dirigiu-se a Blake Irving — que instantes antes tinha dito que “quando temos uma equipa feita apenas de homens não estamos a impedir as mulheres de chegarem lá de propósito” — para fazer outro apelo: “Também cabe aos altos quadros das empresas garantir a transparência e o cumprimento dos direitos humanos dentro de uma companhia”. Blake Irving esteve à altura do apelo: “Não é um problema das mulheres. É também um problema dos homens. Se estás numa empresa tens de ajudar a resolver isso. É um problema de todos”.

O único homem que sabe o que é “covfefe”

Brad Parscale (diretor digital da campanha de Donald Trump) e Michael Isikoff (Yahoo News). Créditos: JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Brad Parscale é o homem que convenceu 62 milhões de pessoas — seis vezes a população de Portugal — a votar no milionário Donald Trump para presidente da nação mais poderosa do mundo. E fê-lo contra todas as probabilidades, o que lhe valeu o título de “génio”: Brad Parscale foi o diretor digital da campanha do presidente dos Estados Unidos. Mas admitiu que a vitória não veio toda de uma mente brilhante: também precisou de umas aulas do próprio Facebook, graças ao qual conseguiu angariar cerca de um terço de todo o dinheiro amealhado para a campanha.

É de poucos risos, mas olha nos olhos de Michael Isikoff, jornalista da secção de investigação da Yahoo News, quando este o confronta com temas como “fake news” ou fraude informática na campanha de Trump. Admite que o Facebook lhe deu boas ferramentas para aumentar o alcance da mensagem do seu cliente.

“Quando Donald Trump me pediu para trabalhar com ele sabia que tinha o produto certo. O que aprendi no Facebook é que temos de conseguir dinheiro. E, quando ele se candidatou, nós só tínhamos o dinheiro dele. O Facebook permitiu-nos encontrar pessoas dispostas a dar-nos dinheiro para suportar a campanha”.

Foi uma lição de humildade, até para um homem que acredita que Trump “é o melhor Presidente em muito tempo”: “Eu não achava que sabia tudo sobre o Facebook. E fiquei aberto a que outras pessoas me ajudassem a perceber como conseguir melhores alcances e chegar aos quase 100 milhões de dólares que conseguimos angariar através dessa rede social. Pedi ajuda ao próprio Facebook para aprender a alcançar estes números”.

O jornalista sabe de onde veio esse dinheiro. Numa conversa que aconteceu mais tarde com Brad Parscale, diretor digital da campanha de Trump, o jornalista disse: “Sabemos que houve pessoas que falaram diretamente com os eleitores de Donald Trump. Houve hackers que falaram com pessoas do Tennessee fingindo ser republicanos apoiantes de Trump. Há até retweets do próprio Donald Trump que fizeram recircular informações falsas vindas da Rússia”. Brad Parscale negou tudo.

Mas nem só de confissões se fez esta conversa: Brad Parscale nega que Cambridge o tenha ajudado a estudar dados brutos sobre a campanha. E nega — depois de dizer que não sabia — que a Rússia tenha influenciado os números astronómicos de Donald Trump. Vai mais longe e diz que o facto de ter retweetado informação falsa vinda de uma conta com ADN russo nunca teria tido influência real em toda a campanha.

Não fazia ideia de quem estava por detrás daquela conta. Eu faço muitos retweets, não me sinto mal por ter sido um conteúdo errado. E não falo pelo presidente, mas espero que no futuro isto seja resolvido”. E que futuro o espera? Ao Observador, Brad Parscale diz esperar ansiosamente que Donald Trump continue a usar o Twitter. E que lhe deem finalmente os 280 caracteres anunciados pela rede social. Daqui a três anos, espera receber uma chamada do Presidente para a campanha de reeleição.

Fake news: o jornalismo sob ameaça

Joseph Kahn (The New York Times) e Ann Mettler (Comissão Europeia). Créditos: JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O conceito de fake news que Donald Trump tem veiculado é, por si mesmo, fake. E quem nos avisa sobre isso é Joseph Kahn, editor do The New York Times que usou um dicionário mental para repor a verdade: não são fake news apenas as notícias que vão contra a corrente imposta por Trump desde há um ano, quando se candidatou à presidência dos Estados Unidos. As fake news são também “conteúdos dúbios e fraudulentos normalmente guiados por interesses políticos e sem factos associados”. Mas quem é o pai dessas notícias? Para Yaron Galai, presidente executivo da Outbrain, “o grande problema é das redes sociais. Há incentivos financeiros para estas notícias falsas, ao pesquisar é possível perceber de onde veio o dinheiro”.

A situação é tão grave na visão de Ann Mettler, membro da Comissão Europeia, que o jornalismo pode mesmo estar “sob ameaça”: “Os consumidores de notícias vão precisar de começar a ser os próprios editores. Vão ter de perceber o que, para eles, é verdadeiro e o que é falso. Mas isso não significa tirar a responsabilidade das companhias, que têm esse dever para os clientes. A comunicação social é a espinha dorsal da nossa democracia. E isto [os conteúdos falsos] é capaz de desestabilizar completamente os processos democráticos. E estão a conseguir. Como é que se pode impedir isso? Do lado do consumidor, sendo mais crítico em relação ao que se lê e vê na comunicação social, porque “não vai haver um ministro da Verdade”.

Do lado das instituições políticas, com uma promessa: “Acabou o tempo de sermos ingénuos. Vamos tomar conta da situação” das notícias falsas que vêm da Rússia.

Cibersegurança: “Imaginem toda a informação que o Google tem vossa. Gostariam que se soubesse?

Créditos: MANUEL MACHADO/OBSERVADOR

Um ataque informático é inofensivo porque não mata pessoas? Foi com esta pergunta que Brad Smith, o advogado que é presidente da Microsoft, explicou no palco principal da Web Summit que as coisas são bem diferentes. No Reino Unido um ataque de ransomware parou por completo um hospital inteiro. Cirurgias canceladas, urgências fechadas, ambulâncias desviadas. Estes ataques informáticos matam. O jurista apresentou uma solução: a “convenção digital de Geneva”. Um tratado internacional para os países processarem hackers — principalmente russos, segundo Smith — e fazerem justiça.

Noutro palco da Future Societies a opinião foi diferente. Garantir a segurança implica perda de um direito básico: a privacidade, disseram os oradores. Jon von Tetzchner, presidente da Vivaldi e criador do motor de busca Opera, Susan Herman, presidente da American Civil Liberties Union (ACLU) e Robert Wainwright, diretor da Europol, falaram sobre como tudo o que fazemos na Internet fica registado e terem de existir mais medidas para nem os Estados nem a empresas, nem ninguém, poder aceder a esses dados. “Imaginem toda a informação que o Google tem vossa. Gostariam que se soubesse?”, disse Jon von Tetzchner.