Reformulemos a pergunta: quem tem medo de usar fato de treino para ir jantar fora, a uma festa ou até mesmo trabalhar? Se para os comuns mortais, nos últimos anos, este conjunto de duas peças não passou de um plano de desenrasque para aquelas idas rápidas ao supermercado, em 2017 o fato de treino recuperou oficialmente o carisma de outros tempos. Que tempos? A história é tão longa como a da minissaia, só que com mais tecido. Mas já lá vamos.
Por agora, olhos na passerelle. Marcas de luxo como Chloé, Gucci, Marc Jacobs e Bottega Veneta, nenhuma delas de ADN desportivo, exibem calças em tecidos técnicos, estilizadas, com faixas laterais, coses apertados e por vezes um casaco de fecho igual. O fato de treino subiu na vida e já não é exclusivo de marcas de desporto, nem de designers que trabalham religiosamente sob a influência do sportswear. Reinventou-se em tecidos nobres como a seda e a caxemira e ganhou detalhes luxuosos, entre eles bordados e pelo.
A tendência já foi muito além dos desfiles. Está no Instagram de celebridades e influencers, que através do styling mostram o quão versáteis estas peças podem ser, combinadas com saltos altos, blusas delicadas, malhas robustas, blazers e sobretudos. Mas também está nas montras das grandes cadeias, cujas “inspirações” chegam aos expositores das lojas cada vez mais depressa. Aos mesmo tempo, as próprias marcas desportivas revitalizam os seus clássicos e sim, isto inclui as mal amadas snap button track pants, aquelas com molas laterais.
Quem é que não se lembra das peças loucas de Jeremy Scott para a Adidas Originals? Ou da Fenty, a linha da Puma desenhada por Rihanna que a cada estação transforma o vestuário técnico num guarda-roupa composto por peças statement para usar com orgulho no dia-a-dia? Ou (desta não se vai lembrar de certeza porque é uma notícia fresquinha) da recente colaboração entre a Kappa e o coletivo francês Faith Connexion? Outras marcas vão ao baú e recuperam as silhuetas de décadas anteriores. Está a acontecer com a Lacoste e no caso da Fila, a estratégia voltou a catapultar a marca para o estrelato.
A história do fato de treino, de Beckenbauer a Paris Hilton
Para ir aos primórdios do fato de treino é preciso recuar até 1967, quando a Adidas, na altura fundada há 18 anos, lança as suas primeiras peças de vestuário, curiosamente, um fato de treino usado por Franz Beckenbauer. Nunca o fato de treino tinha sido tema de conversa. O conjunto como o conhecemos nasceu nos anos 60, muito por conta do aparecimento de tecidos sintéticos como o poliéster que rapidamente ganharam popularidade. Até ao final da década permaneceu associado a atletas de várias modalidades até que os anos 70 o levaram para a pista de dança. Confortável como nenhuma outra peça, foi estilizado à medida das franjas simétricas da época.
Nos anos 80, a música foi outra. Mais do que um estilo musical, o fato de treino foi absorvido por um fenómeno cultural, o hip hop. Ganharam cor, brilho e aumentaram de tamanho. Foi a década dos rappers, das peças baggy e dos fios de ouro pesadões. Os anos 90 só viram ganga à frente, mas o fato de treino contra-atacou logo na viragem dos anos 2000, culpa do fenómeno “socialite despreocupada de copo do Starbucks na mão”. Faça as contas e tente descobrir quem foi a grande embaixadora do fato de treino na altura. Paris Hilton, claro, e com o alto patrocínio da Juicy Couture.