As exonerações do Presidente de Angola, João Lourenço, continuam e desta vez atingem a cúpula das forças de segurança, substituindo as chefias da Polícia Nacional e do Serviço de Inteligência e Segurança Militar, ambas nomeadas por José Eduardo dos Santos na reta final dos seus quase 38 anos de poder. As exonerações foram anunciadas na TPA, televisão pública de Angola.

Por ordem de João Lourenço, foi exonerado o general António José Maria do cargo de chefe do Serviço de Inteligência e Segurança Militar. O chefe das secretas militares será agora Apolinário José Pereira, que para desempenhar o novo cargo foi igualmente exonerado da Comissão Especial de Serviço no Ministério das Relações Exteriores.

António José Maria é um dos membros do círculo de poder mais próximo a José Eduardo dos Santos. De acordo com o site Maka Angola, do jornalista e ativista Rafael Marques, o afastamento de António José Maria era uma questão de “quando” e não se “se”.

A inimizade daquele general em relação a João Lourenço era conhecida dentro do Ministério da Defesa, chefiado pelo atual Presidente à sua tomada de posse. “Sempre que a TPA [Televisão Pública de Angola] passa imagens da campanha do João Lourenço, ou apresenta-o a falar, o general manda desligar imediatamente os televisores”, disse ao Maka Angola uma fonte do Ministério da Defesa, ainda antes das eleições de 23 de agosto deste ano.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

E, já depois da eleição de João Lourenço, António José Maria terá repetido várias vezes a sua máxima: só obedece a Jesus Cristo e a José Eduardo dos Santos.

Angola. As exonerações e os recados do novo Presidente

Chefe da Polícia Nacional diz que vai “para a reforma”, sete anos depois dos 65

Também foi exonerado o comandante-geral da Polícia Nacional, Ambrósio de Lemos, que será substituído por Alfredo Eduardo Manuel Mingas, antigo comandante da Polícia de Intervenção Rápida e ex-embaixador em São Tomé e Príncipe.

Em declarações ao Observador, Ambrósio de Lemos nega que a sua exoneração possa ter uma leitura política. “De forma alguma, isto é uma questão do momento, é uma questão de ocasião”, diz, para depois explicar que já tinha ultrapassado a idade da reforma, fixada os 65 anos. Ambrósio de Lemos, que foi nomeado pelo ex-Presidente José Eduardo dos Santos para o cargo de comandante-geral da Polícia Nacional em 2006, tem atualmente 72 anos.

Ambrósio de Lemos manteve-se em funções nos sete anos em que ultrapassou a idade da reforma, sendo que quase totalidade desse tempo foi no consulado de José Eduardo dos Santos. Agora, menos de dois meses depois da nomeação de João Lourenço, foi exonerado pelo novo Presidente. “Agora chegou a altura, porque a idade já é alguma. Chegou a altura do descanso”, disse, para justificar a decisão de João Lourenço.

Ambrósio de Lemos prefere até dizer que vai “para a reforma” em vez de referir que foi “exonerado”.

“Ainda é muito cedo para falar de uma perestroika à angolana”

Tanto António José Maria como Ambrósio de Lemos foram nomeados por José Eduardo dos Santos que, já na reta final dos seus quase 38 anos de poder, conseguiu que o parlamento aprovasse um decreto onde lhe era concedido o poder de nomear as chefias das Forças Armadas Angolanas, da Polícia Nacional e dos Serviços de Inteligência por um período de quatro anos prorrogáveis por igual período. Os nomes das duas chefias que agora são exoneradas constavam nessa lista de José Eduardo dos Santos.