Pedro Batista ainda se lembra de como 2013 foi um ano particularmente generoso no Alentejo. Perante quatro mãos cheias de jornalistas e críticos de vinhos, o enólogo da Cartuxa (Fundação Eugénio de Almeida) recorda como, naquele ano, foi beneficiado com uma maturação de sonho, “bastante suave”. Tantos elogios juntos só querem dizer uma coisa: 2013 é ano de Pêra-Manca.
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Estamos perante a colheita de menor quantidade desde que o vinho viu a luz do dia, em 1990. Contam-se 19 mil as garrafas que dão corpo e expressão ao novo Pêra-Manca tinto 2013, que nos chega pela primeira vez aos copos na Sala Rostrum da fundação, em Évora. À semelhança das treze colheitas anteriores, também esta nasce de um ano tido como excecional e talvez seja isso que o torne num dos rótulos mais caros do país. Dos mais cobiçados também.
O novo Pêra-Manca, que agora chega ao mercado a custar cerca de 200 euros (preço de lançamento), não é compra para todos os bolsos. O preço tenderá a evoluir, explicam-nos, e basta uma pesquisa rápida para encontrar, na Garrafeira Nacional, a colheita de 2011 por 350 euros. Enquanto nos acomodamos na mesa para um jantar às luz das velas e entre barricas, num dia de novembro marcado pelo frio tipicamente alentejano, recordam-nos que, segundo reza a história, Pedro Álvares Cabral transportou Pêra-Manca nas suas naus quando a caminho do Brasil. Isto sem descurar que o vinho, tal qual o conhecemos, só existe desde a década de 90, quando a fundação resolveu dedicar os vinhos de exceção a esta marca.
As castas Trincadeira e Aragonês, vindas de talhões de vinhas com 35 anos, são o coração do vinho, que estagiou 18 meses em tonéis de carvalho francês. Já o namoro na garrafa aconteceu, como de costume, nas caves do Mosteiro da Cartuxa. O mosteiro pode estar interdito à curiosidade alheia, mas o mesmo não se pode dizer da Adega Cartuxa (Quinta de Valbom), antigo posto Jesuíta que é, atualmente, o centro de estágios de vinhos e sede do enoturismo, onde tonéis moram lado a lado com paredes grossas debaixo de tetos abobadados.
De Évora para o mundo: esta enoteca vai encher-lhe o copo… e o prato
Este Pêra-Manca foi dedicação particular de Pedro Batista. É a ele quem calha a exigente decisão de declarar o vinho que já reúne muitos enófilos, sobretudo no Brasil. A decisão final é compromisso que nasce de sucessivas provas e não raras vezes Pedro dá os lotes a provar sem nunca dizer do que se trata. Mas é durante a noite, que o enólogo garante ser boa conselheira, que o lote definitivo é selecionado. E foi também durante a noite que o provámos, ao vinho que o Alentejo ajudou a criar, numa relação ainda hoje recíproca.