A Caixa Geral de Depósitos vendeu os créditos que detinha na sociedade gestora do empreendimento de luxo Vale do Lobo a um fundo detido pela ECS Capital, gestora de fundos gerida pelos portugueses António de Sousa e Fernando Esmeraldo. A informação foi confirmada ao Observador por fonte oficial do banco público que adianta que o valor da transação foi de 222,9 milhões de euros. O comprador, acrescenta, foi um fundo investimento da ECS Capital vocacionado para intervir em projetos no setor imobiliário e turístico.
Vale do Lobo foi um dos projetos mais polémicos em que esteve envolvida a Caixa e agora vai passar a ser gerido pela ECS. Com esta transação, a gestora de fundos portuguesa vai assumir a gestão, substituindo a administração liderada por Diogo Gaspar Ferreira e que esteve à frente da sociedade desde que a Caixa financiou a compra deste empreendimento. A entrada do banco no resort algarvio foi decidida em 2006, uma decisão que envolveu Armando Vara, então administrador do banco do Estado.
A venda foi fechada a 22 de dezembro e ainda aguarda autorização das autoridades competentes. A transação foi feita com um desconto em relação ao total dos empréstimos concedidos pelo banco do Estado à sociedade, cuja dimensão não foi revelada. A exposição da Caixa a Vale do Lobo, enquanto financiadora e acionista, terá ultrapassado os 300 milhões de euros, mas a existência de ativos valiosos como garantia — as propriedades e os terrenos do resort algarvio — travaram o valor das perdas para a CGD.
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O Observador sabe que também o Novo Banco terá cedido os seus créditos nesta operação. E o BCP terá igualmente acompanhado a cedência de créditos, mas numa modalidade distinga.
A Caixa vai receber unidades de participação do fundo de investimento que ficará dono de Vale do Lobo. O Flite, onde participam mais bancos, tem outros ativos imobiliários como as Torres de Lisboa, onde está instalada a sede da Galp Energia. Apesar de continuar exposta ao risco desta operação, que foi um dos empréstimos mais problemáticos feitos pela CGD, o banco público dilui esse risco uma vez que o fundo vai gerir Vale do Lobo tem outros ativos que estão no mercado. A expetativa do banco público é a de que este ativo que durante todos os anos em que a Caixa foi acionista deu prejuízos “possa ser recuperado e rentabilizado”.
Segundo informação recolhida pelo Observador, houve várias propostas para adquirir os créditos de Vale do Lobo, incluindo uma feita por um investidor estrangeiro, acabou por ser escolhida a oferta da ECS Capital. A gestora portuguesa de fundos de investimento é gerida por António de Sousa, que foi presidente da Caixa Geral de Depósitos entre 2000 e 2004, abandonando o cargo antes do banco do Estado se ter envolvido no negócio de Vale do Lobo.
A Caixa foi o principal financiador deste projeto desde que entrou no capital e para além das perdas, o empreendimento também está envolvido na Operação Marquês, tendo vários dos seus gestores sido acusados, no quadro do inquérito contra o antigo primeiro-ministro José Sócrates.
Com esta operação, o banco do Estado dá mais um passo para resolver as operações ruinosas, feitas sobretudo na década passadam e que contribuíram para a necessidade do aumento de capital de mais de 4.000 milhões de euros em 2017. Em novembro, o banco anunciou a venda da fábrica Artlant, da antiga La Seda, a um grupo tailandês. Neste caso, a perda reconhecida pelo banco do Estado foi muito mais significativa.
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Entre os casos bicudos que estão por resolver destacam-se a Comporta, herdade na qual a Caixa é a detentora dos principais créditos. Uma tentativa de venda acabou por não ser autorizada pelo Ministério Público no quadro do inquérito-crime ao universo do Grupo Espírito Santo. Outro ativo por vender é a fábrica da Pescanova em Mira que foi declarada insolvente este verão, mas neste caso a Caixa é um entre vários credores bancários.