Aokigahara não é apenas um bosque sombrio (a vegetação é densa e o solo escurecido por erupções vulcânicas do passado) a noroeste do Monte Fuji. É igualmente, e sobretudo desde a década de 1960, um lugar que muitos japoneses escolhem para se suicidar – as autoridades nunca divulgaram quantos para evitar a apologia do suicídio.
Antes, acredita-se que Aokigahara foi utilizado num ancestral “costume” japonês: o ubasute, em que os idosos eram abandonados no bosque para morrer quando havia escassez de alimentos. Mas foi sobretudo após a publicação em 1961 de “Tower of Waves”, romance do escritor Seicho Matsumoto em que um casal de amantes se suicida em Aokigahara, que o bosque passou a servir tal fim trágico. Aokigahara inspirou também o filme “O Mar de Árvores” do cineasta Gus Van Sant.
O número de casos de suicídio tem vindo a diminuir no Japão ao longo dos últimos anos. Em 2016 registou-se o valor mais baixo (isto apesar das quase 22.000 mortes) em duas décadas. No entanto, e segundo a Organização Mundial de Saúde, o Japão continua a ser um dos países com a maior taxa de suicídios no mundo.
No que a Aokigahara diz respeito, o número de suicídios tem igualmente decaído, muito por causa da vídeovigilância no local e patrulhamento policial, mas igualmente devido à aposta na prevenção: um pouco por todo o bosque há cartazes com contactos de linhas de apoio contra a ideias suicidas.
Entre japoneses há a tradição de honrar o suicídio – não há por exemplo qualquer cultura religiosa que o condene. O youtuber norte-americano Logan Paul, de 22 anos, visitou o Japão e Aokigahara. E tratou de a “desonrar”. Não só Paul publicou um vídeo onde se podia ver um cadáver enforcado numa árvore em Aokigahara, como faria troça da situação rodeado de amigos. O vídeo acabaria por ser apagado da conta de Logan Paul (que tem mais de 15 milhões de subscritores) depois das muitas críticas que lhe foram tecidas.
Paul desculpou-se entretanto: “Por onde começar? Talvez por aqui: peço desculpa. Não o fiz [vídeo] para ter visualizações. Tenho visualizações… Fi-lo porque pensei que poderia criar uma onda positiva na Internet, não causar um dilúvio de negativismo.”