Manuela Ferreira Leite, antiga presidente do PSD e apoiante de Rui Rio, considera que o “PSD deve vender a alma ao diabo para pôr a esquerda na rua”. Em condições normais, espera a ex-ministra das Finanças, os sociais-democratas devem lutar pela maioria absoluta em 2019, com ou sem CDS. Mas se tal não vier acontecer, sublinha, o partido tem de tentar afastar os socialistas dos braços da esquerda.
Da mesma forma que o Bloco de Esquerda e o PCP têm vendido a alma ao diabo, exclusivamente com o objetivo de pôr a direita na rua, eu acho que ao PSD lhe fica muito bem se vender a alma ao diabo para pôr a esquerda na rua”, afirmou Manuela Ferreira Leite, em entrevista à TSF.
A ex-presidente do PSD, que em 2008 derrotou Pedro Passos Coelho e Pedro Santana Lopes nas diretas do partido, acredita que Rui Rio esteve bem ao mostrar disponibilidade para apoiar um Governo minoritário de António Costa. “Acho que ele fez exatamente aquilo que devia, que fez muito bem em tê-lo dito. É aquilo que a gente espera de um líder social-democrata, é isso que eu espero dele. É bom vender a alma ao diabo para pôr a esquerda na rua”, insistiu.
Para Ferreira Leite, a vitória de Rui Rui será muito importante para recentrar e renovar o PSD, espelhando o desejo de mudança dos militantes sociais-democratas, agastados com a liderança passista. “Significa seguramente um desejo do partido d e mudar. Disse não à continuação”, afirmou.
Rosto desse aparelho é Hugo Soares, líder parlamentar do PSD que tem estado sob pressão para colocar o cargo à disposição. Para Manuela Ferreira Leite, é isso que Soares deve fazer. “Há determinados lugares ou funções dentro do partido que, evidentemente, quando há mudança de líder, implicam, no mínimo, pôr o lugar à disposição”, defendeu Manuela Ferreira Leite. “Acho que é óbvio que isso acontecerá. Agora, qual é a decisão de Rui Rio, se mantém o mesmo líder parlamentar ou não, já não sou capaz de dizer”.
Declarações de Rio e Ferreira Leite em contraciclo
Os desejos de Rui Rio e Manuela Ferreira Leite têm sido contrariados pelas intervenções públicas de alguns dos mais destacados socialistas, que já vieram dizer “não” a um eventual bloco central. Esta segunda-feira, foi a vez de Manuel Alegre deixar claro que uma eventual aliança entre PS e PSD seria prejudicial para o futuro do país.
“[Um bloco central] não seria saudável para a democracia”, defendeu o histórico socialista. Manuel Alegre espera “que o acordo à esquerda seja repetível”, apesar das declarações de Catarina Martins e de Jerónimo de Sousa em sentido contrário. O socialista defendeu, inclusive, “bases mais sólidas, com perspetivas de futuro”.
Antes, Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares e responsável pela coordenação da “geringonça” no Parlamento, tinha sido claro: Não pode contar comigo [para um bloco central], porque obviamente as minhas posições sobre a política de alianças são mais do que conhecidas, não muda. Por razões de democracia, eu acho profundamente perigoso para a democracia portuguesa que os dois maiores partidos governem sozinhos”, afirmou o socialista, em declarações à Rádio Renascença. Para o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, uma reedição de um governo de bloco central só se houvesse uma ameaça à democracia ou uma “crise gravíssima de regime”.
Francisco Assis, por sua vez, já veio defender precisamente o contrário. Em declarações à TSF, o socialista, crítico da atual solução governativa desde a primeira hora, António Costa está agora obrigado a “chamar novo líder do PSD a jogo”.
Segundo Assis, aliás, há agora uma “maior disponibilidade do PSD” para dialogar com os socialistas, pelo que o PS também deve estar disposto procurar grandes consensos de regime. “Julgo que o PS também terá essa disponibilidade”, afirmou o eurodeputado, confiante de que existirá “maior disponibilidade” para entendimentos “a partir das próximas eleições legislativas”.
António Costa, no entanto, parece não considerar sequer essa possibilidade. No sábado, ainda antes de serem conhecidos os resultados das diretas do PSD, o primeiro-ministro afastou assim a hipótese de reeditar uma solução de bloco central.
“Não faz sentido, porque temos uma solução de Governo para quatro anos, que, felizmente, tem provado muito bem e assegurou ao país estabilidade, mas estabilidade na mudança. O país estava saturado da política seguida pelo Governo PSD/CDS, que teve desastrosos resultados económicos, sobretudo na destruição de emprego, na esperança e na confiança dos portugueses”, afirmou o líder socialista.