A polícia viu: 12 crianças estavam acorrentadas às camas e aos móveis “na escuridão e num ambiente com cheiros nauseabundos”. Havia uma 13ª vítima — uma jovem de 17 anos que “parecia ter 10” devido ao seu “tamanho pequeno” e “aparência magra” — que tinha conseguido fugir pela janela para denunciar a situação. Eram todos filhos de David Allen Turpin, de 57 anos, e Louise Anna Turpin, de 49. O terror — disfarçado com fotografias de uma aparente família feliz publicadas nas redes sociais — tinha lugar no número 160 da Rua Muir Woods, em Perris, cidade no condado de Riverside, no estado norte-americano da Califórnia.

Viagens à Disneyland, fotos no Facebook e uma ‘família perfeita’. A história do casal que acorrentou os 13 filhos

O casal ficou em prisão preventiva, sujeitos a uma fiança de nove milhões de dólares (cerca de 7,3 milhões de euros). David e Louise foram acusados esta terça-feira de nove crimes de tortura e dez crimes de abuso de menores. As crianças foram internadas em hospitais locais.

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Já muito se sabe sobre o casal que manteve os 13 filhos acorrentados e esfomeados. Sabe-se que são mesmo os pais biológicos de todos eles, de acordo com informação confirmada esta terça-feira pelas autoridades. Sabe-se também que o casal viveu no estado norte-americano do Texas durante vários anos até 2010, quando se mudarem para o número 160 da Rua Muir Woods, em Perris. Sabe-se ainda que David é engenheiro e trabalhou em duas empresas de aeronáutica e tecnologia de defesa e que era “relativamente bem pago”, segundo o advogado, Ivan Trahan. Sabe-se também que o casal declarou insolvência duas vezes porque as despesas excediam os rendimentos em cerca de mil dólares.

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Mas muito falta saber sobre este caso. Para começar, as razões que levaram os pais a acorrentar os 13 filhos. Depois: quanto tempo as crianças, jovens e adultos estiveram nesta situação? E porque não viam os avós os netos há quatro ou cinco anos? E como os vizinhos nunca deram por nada? Mas será que não havia mais ninguém envolvido?

Porquê? Qual é a versão dos pais?

Verdadeiro ou falso, os pais terão de contar a lado deles nesta história. As autoridades relatam que, quando entraram na casa do número 160 da Rua Muir Woods e se depararam com aquele cenário de terror, os Turpin foram “incapazes de fornecer imediatamente uma razão lógica que justificasse por que razão os seus filhos estavam reprimidos” daquela maneira.

David e Louise vão ser ouvidos em tribunal na próxima quinta-feira, noticia a CNN. Nesse momento, deverá ser então conhecida a versão dos casal que irá acrescentar factos novos aos já conhecidos sobre este caso.

David e Louise a celebrar anos de casados na Capela Elvis, em Las Vegas. Foto: David-Louise Turpin/Facebook (fotografia pública à data da publicação deste artigo)

Há quanto tempo as crianças estavam presas?

Um prolongado período de tempo“, sugere Susan von Zabern, a porta-voz do departamento de serviços de apoio social do condado de Riverside, com base nas condições em que as 13 crianças se encontravam.

As próprias autoridades, quando chegaram à casa, assumiram que todos eram menores de idade dada a “aparência frágil” e sinais de subnutrição. Mas, na realidade, dois já não o eram: um tinha 29 anos — o mais velho –, e outro 18.

É visível: nas fotografias partilhadas numa página do Facebook que o casal tinha em conjunto — que se chamava “David-Louise Turpin” — os treze filhos, apesar de sorridentes, aparecem pálidos e nenhum parece adulto.

Outras pessoas estavam envolvidas?

Os pais de David e avós das crianças, James e Betty Turpin, disseram que não tinham nenhuma informação sobre o que se estava a passar: não viam os netos há cerca de quatro ou cinco anos, mas mantinham contacto com eles por chamadas telefónicas. Mostraram-se “surpresos e chocados” e disseram que não podiam perceber “nada disto”. “Sentimos que só um lado da história está a ser contada. Eles são uma família muito respeitada”, disseram.

Já a irmã de Louise, Elizabeth Jane Robinette Flores, costumava publicar comentários às fotografias que o casal publicava na página do Facebook que tinham em conjunto. “Amo, amo, amo, a minha irmã e o meu cunhado”, lê-se num deles. Apesar de mostrar alguma relação com o casal, não se sabe, até ao momento, se Elizabeth tinha conhecimento da situação.

Os vizinhos, de acordo com várias declarações, também não se tinham apercebido do que se passava para lá das paredes da casa do número 160 do bairro. A família relacionava-se pouco, diz um deles. Outro, à Reuters, explica que os Trupin eram o “tipo de família sobre a qual não se sabia muito”.

Como é que os pais sustentavam as 13 crianças?

A página do Facebook que o casal tinha em conjunto não sugere que o casal tivesse dificuldades económicas (mas também não sugere que o casal mantinha os treze filhos acorrentados a camas e móveis). Há fotografias da família em viagens à Disneyland ou a Las Vegas, todos juntos, as crianças vestidas de igual. As roupas são sempre diferentes e parecem novas, e mesmo os pais aparecem vestidos de noivos na renovação de votos na capela de Elvis, que não é sequer barata de alugar.

A família numa viagem à Disneyland. Foto: David-Louise Turpin/Facebook (fotografia pública à data da publicação deste artigo)

David era “relativamente bem pago”, segundo o advogado do casal, Ivan Trahan. Ganhava 140 mil dólares (cerca de 114,3 mil euros) por ano, segundo documentos a que o jornal The Los Angeles Times teve acesso. Mas, de acordo com os registos, as despesas também eram elevadas e excediam os rendimentos em cerca de mil dólares (aproximadamente 820 euros). O casal declarou insolvência duas vezes. A última insolvência aconteceu numa altura em que David era engenheiro na Northrop Grumman, a segunda empresa de aeronáutica e tecnologia de defesa onde trabalhou.

Serão as dificuldades económicas a razão pela qual as crianças estavam subnutridas? Os próximos dias trarão seguramente novidades.