Sporting 0, Benfica 176, Moreirense 364, Braga 616, Porto 1632, Vitória SC 1708, Académica 2079, Vitória FC 3599. O que é isto? É o número de dias desde o último título nacional conquistado. Reforça-se a ideia e afunilamos a pesquisa: Sporting 0 Vitória FC 3599. A diferença é abissal e resume-se à conquista da Taça da Liga, em Braga, através do penálti decisivo de William.

Duas horas antes, mais coisa menos coisa, a diferença é forçosamente menor: Sporting 903 (desde o 1-0 ao Benfica para a Supertaça 2015), Vitória FC 3599 (desde o 3-2 em penáltis com o Sporting para a Taça da Liga 2008). À entrada para a final, o Vitória tem duas vantagens consideráveis, a física (24 horas a mais de descanso nas pernas) e a psicológica (quatro vitórias nesta edição da Taça da Liga contra só uma do Sporting). E a verdade é que isso mexe com o sistema nervoso do Sporting., vá lá saber-se porquê e como. Sem Gelson (lesionado) nem Acuña (opção), titulares na meia-final com o Porto há três dias e substituídos por Montero mais Bryan Ruiz, o Sporting tem 100 por cento de posse de bola nos primeiros 70 segundos. Depois, é um fartar de vilanagem sem explicação. O Vitória controla o meio-campo e assume o jogo com competência. Em menos de um minuto, Coates é chamado a intervir para impedir o ataque setubalense. À terceira é de vez. Coentrão corta para o lado, à entrada da área, e Gonçalo Paciência impõe-se com o corpo a Coates. Quando roda sobre si mesmo, aplica um pontapé forte e colocado com o pé esquerdo. Patrício estica-se, em vão. É o 1-0. Injusto, claro. Ninguém merece marcar tão cedo – vá, talvez só o Brasil de 1958 à URSS.

Adiante. Bola ao meio e siiiiiga. Ou não. É que o Sporting não se entende com nada. A bola faz-lhe confusão e há erros sucessivos em toda a linha, sobretudo na defesa. Só para se ter uma noção das dificuldades, Patrício defende para canto um remate de João Teixeira aos 7′ e Pedro Pinto falha a emenda ao cruzamento de Costinha aos 22′. Pelo meio, zero de Sporting. Falta ligação entre os sectores, falta inteligência, falta tesão, falta tudo. Sobra nervosismo, refletido nas 12 faltas durante a primeira parte. Neste particular, Bruno Fernandes e Bryan Ruiz exageram na dose, seja em entradas a destempo, seja em protestos. Até final, Trigueira não faz uma única defesa digna de registo. Como tal, há cerca de zero remates enquadrados à baliza do Sporting – o único é de Montero, de muito longe e em desespero inexplicável, e vai para as couves. Em contrapartida, o Vitória faz bom uso da vantagem através dos raides de Arnold, da força invisível de Semedo, dos pezinhos de João Amaral e dos truques e fintas de Paciência

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O apito de Rui Costa para o intervalo evidencia o estado da nação com uma série de assobios para o Sporting. Lógico. Jesus mexe a dobrar. Saem os extremos Bryan Ruiz e Ruben Ribeiro, entram Battaglia e Acuña. Quer isso dizer que Bruno Fernandes descai para a direita, tal como acontecera com o Porto. E então? Há Sporting, finalmente. Quem o diz é Bruno Fernandes, com um remate à figura de Trigueira. Ato contínuo, aos 50′, o Vitória falha escandalosamente o 2-0 por Costinha. Tudo começa com a matreirice de Paciência. De ângulo apertado, atira forte junto ao poste e Patrício só repele a bola para a frente, onde surge João Teixeira a cruzar para trás. Na marca de penálti, e sem pressão por aí além, Costinha atira ao lado. Está marcado, o Vitória. E será mesmo naquela baliza, da zona de penálti, que o futuro campeão de inverno solta o grito.

Até lá, e exceção feita ao falhanço de Coates na pequena área (54′), o Sporting carrega sem muita cabeça. A não ser a de Bas Dost. Aos 76′, o holandês cabeceia, Trigueira defende. Coentrão faz a recarga, Trigueira defende. Bas Dost volta a atirar, Trigueira defende. Ups, afinal não. É mão de Podstawski. Nítida. Até faz confusão como é possível demorar quatro minutos a decidir uma evidência. Se bem que Trigueira estivesse no enfiamento da bola na terceira recarga, o braço de Podstawski está lá. Penálti. Chamado a bater, Bas Dost engana Trigueira e é o segundo holandês a marcar na final da Taça da Liga, após Ola John em 2015 (curiosidade, é o 2-1 da vitória do Benfica de Jesus sobre o Marítimo).

O empate anima o Sporting e o “só eu sei” é entoado a plenos pulmões nas bancadas do Municipal de Braga. Os adeptos do Vitória reagem energicamente e cantam o nome de Edinho. Meu dito, meu feito. Couceiro esgota as substituições já em tempo de descontos, sem efeitos práticos, claro. O Vitória volta a travar o Sporting: em cinco jogos da Taça da Liga, três empates e duas vitórias. Vamos para penáltis.Mais uma vez. Atenção, o Sporting já acumula duas finais perdidas da Taça da Liga com este sistema (vs Vitória 2008 e Benfica 2009), só que Jesus tem a fórmula vencedora. E, desta vez, nem tem de chamar um sexto elemento. Bastam-lhe cinco. E tudo porque Podstawski atira à barra e garante a vantagem sportinguista até final, confirmada por William. Com uma vitória em cinco jogos (6-0 ao União), o Sporting sucede ao Moreirense e conquista o 48.º título da sua história (atrás de Porto-74 e Benfica-81).

Estádio AXA, em Braga
Árbitro Rui Costa (Porto)
VITÓRIA FC Trigueira; Arnaldo, Vasco Fernandes (cap), Pedro Pinto e Nuno Pinto; João Teixeira (Pedrosa, 83′), Semedo, Podstawski e Costinha (Patrick, 88′); João Amaral (Edinho, 90’+3) e Gonçalo Paciência
Treinador José Couceiro (português)
SPORTING Patrício (cap); Piccini, Coates, Mathieu e Coentrão; William; Ruben Ribeiro (Battaglia, 46′), Bruno Fernandes e Ruiz (Acuña, 46′); Montero (Doumbia, 64′) e Bas Dost
Treinador Jorge Jesus (português)
Marcadores 1-0 Gonçalo Paciência (4′); 1-1 Bas Dost (80′ gp)
Desempate por grandes penalidades Gonçalo Paciência 1-0, Bas Dost 1-1, Patrick 2-1, Bruno Fernandes 2-2, Podstawski (à barra), Mathieu 2-3, Edinho 3-3, Coates 3-4, Arnold 4-4, William 4-5