Os direitos dos trabalhadores continuam a ser a bandeira do Partido Comunista Português (PCP) e a batalha pela qual o líder do partido está disposto a bater-se e a desafiar o Governo. Mesmo que, como reconhece Jerónimo de Sousa, nem sempre encontre recetividade por parte do PS a algumas das suas propostas – pelo menos, em declarações públicas. Já “no quadro das relações existentes com o PS”, é outra conversa: “nós fazemos-lhe este desafio, porque a questão dos direitos dos trabalhadores sempre foi uma zona de fronteira entre a esquerda e a direita”, Daí que o líder dos comunistas, na entrevista conjunta ao Público e à Rádio Renascença, não tenha pudor em afirmar que caracteriza o PS “como um partido que muitas vezes praticou uma política de direita”.

É neste contexto que Jerónimo de Sousa defende uma série de pontos que considera fundamentais para o seu partido e para manter as boas relações com os seus parceiros de esquerda. E um desses pontos volta a ser a valorização dos rendimentos e, em especial, o salário mínimo nacional, “uma questão incontornável”.

Um dos primeiros avanços e que parece uma coisa pouca é efetivar o que foi aprovado no Orçamento do Estado para 2018. Salário mínimo será uma questão incontornável. Não basta falar dos 600 euros, a vida evoluiu. Não quero avançar um valor fixo, mas de certeza será superior aos 600 euros.”

Defendendo que ainda “há áreas e questões por cumprir de 2016 e de 2017”, o secretário geral do PCP retoma o tema das carreiras contributivas, onde “o Governo está em falta”, e defende que se cumpra o compromisso assumido em relação às pessoas com 40 anos de descontos. “Consideramos uma profunda justiça que quem trabalhou uma vida inteira não deve ser penalizado nas suas reformas e pensões, designadamente com o fator de sustentabilidade…”, diz.

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Pequenas contradições, entre outras, que Jerónimo de Sousa destaca para alertar o governo de António Costa de que “não se pode estar bem com Deus e o com o Diabo ao mesmo tempo”. E, apesar de considerar que foram tomados passos significativos em várias áreas, avisa que futuros entendimentos no futuro podem estar dependentes da execução do que está prometido e falta cumprir.

Faço um “saldo positivo em relação aos avanços [nos últimos dois anos e meio]. Mas não escondemos, nem calamos, as contradições que atualmente existem e que um dia podem tornar-se insanáveis.”

Num momento em que considera que “temos uma política dependente dos interesses daquilo que consideramos o grande capital monopolista”, o líder do PCP não nega a importância dos protestos e da luta sindical – “é indispensável”, diz -, mas não assume a influência nos mais recentes protestos da CGTP nem se essas manifestações vão aumentar nos próximos tempos.

Isso não se decreta. Não é porque o Comité Central decide que deve haver mais luta que vai haver mais luta, não é isso. O que o PCP faz é chamar a atenção, mobilizar consciências e energias para a necessidade de dar resposta a problemas concretos.”

A dois anos do congresso do partido e a determinação em manter-se na liderança que assumiu em 2004, Jerónimo de Sousa recorda que tem pela frente o desafio das Legislativas, mas que não irá condicionar o posicionamento do partido de acordo com os resultados das eleições. E que irão continuar a bater-se pelos avanços nas reformas e pensões, na questão do descongelamento das carreiras, nas questões do IRS e da política fiscal.