A atriz Uma Thurman quebrou o silêncio relativamente ao produtor Harvey Weinstein, acusado de assédio sexual por várias mulheres ao longo dos últimos meses.
“Ela foi violada. Ela foi agredida sexualmente”, lê-se no artigo do New York Times da jornalista Maureen Dowd. Thurman, que protagonizou os filmes de Quentin Tarantino, “Pulp Fiction”, “Kill Bill Volume 1” e “Kill Bill: Volume 2” ambos produzidos pela Miramax, empresa de Weinstein, conheceu o produtor após “Pulp Fiction”.
“Conhecia-o bastante bem antes de ele me atacar”, relata. “Ele costumava passar horas a falar comigo sobre material e a elogiar a minha maneira de pensar e a validar-me.” Tudo isto, justifica a atriz, a terá levado a ignorar alguns sinais. “Era o meu campeão.”
A situação começou a descarrilar durante um encontro entre Thurman e Weinstein num hotel em Paris. Estavam a discutir sobre um guião quando o produtor tirou o roupão que tinha vestido. “Não me senti ameaçada. Pensei que ele estava a ser super idiossincrático, tal como aquele tio excêntrico e doido.” Mas o produtor não ficou por aqui.
Algum tempo depois, desta vez na suite do Hotel Savoy em Londres, Weinstein atacou a atriz. “Ele prendeu-me. Tentou deitar-se sobre mim. Tentou ficar nu. Fez todo o tipo de coisas desagradáveis”, contou Uma Thurman, acrescentando que o produtor não chegou a violá-la.
Thurman estava em Londres em casa de uma amiga, a maquilhadora de Robert De Niro, Ilona Herman, quando decidiu confrontar Weinstein depois de ele lhe ter enviado um ramo de rosas amarelas. Regressou ao hotel, desta vez com a amiga, onde combinou encontrar-se com o homem que a tinha atacado no bar do Savoy.
Porém, e depois de alguma insistência por parte das assistentes de Weinstein, acabou por subir sozinha até à suite. Quando ficou a sós com o produtor, deixou um aviso ao produtor:
“Se fizeres aquilo que me fizeste a outras pessoas, vais perder a tua carreira, a tua reputação e a tua família, garanto-te.”
Weinstein assumiu, através de um representante, o que aconteceu com Thurman, mas refere que interpretou mal os sinais que a atriz lhe deu. “O sr. Weinstein reconhece que tentou seduzir a sra. Thurman em Inglaterra, depois de interpretar de forma errada os seus sinais dados em Paris. Ele pediu desculpa de imediato.”
Uma Thurman disse ainda ao New York Times que se sente culpada por ter mantido o silêncio sobre o que aconteceu, levando a que muitas outras mulheres tivessem sido atacadas posteriormente. “O sentimento complicado que tenho em relação a Harvey é o quão mal eu me sinto quanto às mulheres que foram atacadas depois de mim”, afirmou a atriz, acrescentando que fez parte de uma “nuvem” que encobriu toda esta situação. “Eu sou uma das razões pela qual uma jovem rapariga entraria sozinha no quarto dele, tal como eu fiz.”
Mas muito antes destes episódios, tinha Thurman 16 anos e estava no início da sua carreira, a atriz foi violada por um ator, quase 20 anos mais velho, que conheceu numa discoteca. “Tentei dizer que não, chorei, fiz tudo o que podia. (…) Quando cheguei a casa, lembro-me de estar em frente ao espelho e olhei para as minhas mãos e estava tão zangada por elas não estarem ensanguentadas ou magoadas.”
De acordo com Thurman, Quentin Tarantino soube do que se passou no Hotel Savoy, mas isso não o impediu de a chamar a atenção quando notou a sua atitude inquieta relativamente ao produtor, com quem iriam trabalhar nos filmes “Kill Bill”. A atriz voltou a recordar-lhe do que se tinha passado e Tarantino decidiu confrontar Weinstein. Posteriormente, o produtor foi ter com ela e mostrou-se magoado com as suas acusações. “A determinada altura, os seus olhos mudaram e ele passou de zangado para envergonhado”, conta a atriz, referindo que Harvey lhe pediu desculpa.
Nas filmagens de “Kill Bill”, contudo, houve um incidente que marcou Uma Thurman e que fez com que mudasse a sua atitude também relativamente a Tarantino. Pediram à atriz que fizesse uma cena do filme em que aparece a conduzir um carro descapotável em direção à casa do seu inimigo (Bill) para o matar — um dos momentos mais conhecidos de “Kill Bill”. A atriz não queria fazê-la, porque um membro da equipa lhe tinha dito que o carro não estava em condições e pediu para que a cena fosse feita por um duplo. “Quentin foi até à minha roulotte e não gostava de ouvir não, como qualquer realizador. Ele estava furioso porque eu tinha-lhes custado muito tempo. Mas eu estava assustada”, afirmou a atriz.
Após Tarantino lhe garantir que o carro estava em condições e que a estrada era a direito, Thurman concordou em fazer a cena — o realizador ainda lhe disse para conduzir a cerca de 65 km/h. Segundo a atriz, contudo, o assento do carro “não estava apertado como deve ser”, a estrada onde iria conduzir não era reta e tinha areia. Thurman acabou mesmo por se despistar e ter um acidente, que lhe provocou danos permanentes no pescoço e nos joelhos.
Depois de sair do hospital, acusou Tarantino de a querer matar. “O Quentin e eu tivemos uma discussão enorme, e acusei-o de me tentar matar. Ele estava muito zangado com isso, talvez compreensivelmente, porque ele não achava que me tinha tentado matar.” O realizador acabou por pedir desculpas pelo que aconteceu ao na altura marido de Thurman, o ator Ethan Hawke, depois deste o ter confrontado. “Falei com Quentin e disse-lhe que tinha desiludido a Uma enquanto realizador e amigo.”
Para a atriz, mais do que o ataque de Weinstein, o que verdadeiramente a magoou foi o acidente. “Harvey atacou-me, mas isso não me matou. O que me afetou mesmo foi o acidente.”
Recorde-se que, em novembro, Thurman já tinha dado a entender que iria fazer uma revelação, quando publicou uma fotografia precisamente da cena do carro no filme “Kill Bill”. Na legenda, deseja um feliz Thanksgiving a todos, à exceção de Weinstein e de todos os seus “conspiradores”. “Estou feliz que esteja a demorar — não mereces uma bala. Fiquem atentos”
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