O Grupo Nacional de Trabalho (NWC na sigla original) do partido sul-africano Congresso Nacional Africano (ANC) irá reunir-se esta segunda-feira para decidir sobre o possível afastamento de Jacob Zuma da presidência do país. A reunião acontece um dia depois de outro encontro onde membros séniores do partido terão pedido a Zuma que se afastasse, pedido esse que o Presidente terá recusado.
Zuma, que em dezembro foi substituído na liderança do partido por Cyril Ramaphosa e que enfrenta acusações na Justiça por corrupção, pode agora ser afastado do cargo de Presidente antes do fim do mandato, em 2019. Isto porque, como explica o Guardian, as regras do ANC ditam que todos os ocupantes de cargos públicos só podem permanecer no posto se o partido assim o quiser.
De acordo com o jornal online sul-africano News24, o NWC pode decidir convocar uma reunião do Comité Nacional Executivo do partido, já que este é o único órgão que pode formalmente exigir a Zuma que se demita. Contudo, o próprio Zuma terá de dar o último passo e apresentar a demissão. Caso recuse, o mais provável é que venha a ser afastado pelo Parlamento — há uma moção de censura a ser votada no dia 22 de fevereiro, apresentada pelo partido da oposição Lutadores pela Liberdade Económica (EFF no original), que pode agora contar com o apoio dos parlamentares do ANC.
Os relatos dos media sul-africanos sobre a reunião de domingo com seis membros séniores do partido dão conta de que Zuma terá recusado aceder aos pedidos dos colegas para que abandonasse o cargo. Julius Malema, ex-membro do ANC e atual líder dos EFF, avançou que Zuma justificou a decisão por “não ter feito nada de mal ao país”. Apesar de já não ser membro do partido, Malema costuma ser uma fonte bem informada sobre o que se passa nos corredores do ANC — em dezembro foi das primeiras pessoas a anunciar que Ramaphosa tinha vencido a corrida à liderança do partido, como relembra a Reuters.
He refused to resign and he told them to take a decision to remove him if they so wish to do so because he didn’t do anything wrong to the country. He’s arguing that he complied with all legal instructions including paying back the money, what more do they want from him
— Julius Sello Malema (@Julius_S_Malema) February 4, 2018
Desde que o novo líder foi eleito que Zuma perdeu influência dentro do partido. Ramaphosa é visto como um reformista que quer afastar o Presidente devido às suspeitas de corrupção que pendem sobre ele, o que tem provocado uma cisão interna. Na sexta-feira, o tesoureiro-geral do partido, Paul Mashatile, foi claro: “Deve haver uma mudança da guarda. Não é possível existirem dois centros de poder. A melhor maneira [de resolver isto] é através da saída do Presidente.”
Zuma, explica a BBC, enfrenta atualmente acusações de corrupção, fraude, extorsão, branqueamento de capitais e evasão fiscal. Em causa estão centenas de pagamentos que Zuma terá recebido em troca de um acordo de armamento nos anos 90. Há ainda a possibilidade de ser aberto um inquérito num outro caso que envolve Zuma e a sua relação com a família Gupta, que poderá ter influenciado o Presidente para conseguir favores.
O ANC continua a ser o partido mais popular na África do Sul pós-apartheid. No entanto, os sucessivos escândalos de corrupção, a par de problemas económicos, têm levado a uma descida da popularidade do partido. Nas eleições municipais de 2016, por exemplo, o ANC perdeu o controlo de importantes cidades como Pretória e Port Elizabeth.