A marginal de Luanda é hoje um postal da renovada capital angolana, após obras de mais de 2.000 milhões de euros, mas a pesca na baía é cada vez mais o ganha-pão para dezenas de jovens sem emprego.

Suportados em boias improvisadas com sacos e com todo o tipo de material no interior, recorrem ainda a um balde para colocar as ‘mabangas’ (marisco de concha) que recolhem devido à pouca profundidade da baía.

É o caso de Severino Cathimbombo, que há um ano passou a fazer-se regularmente à baía de Luanda entre as 7:00 e as 12:00, para apanhar mariscos, sobretudo quando a maré estiver favorável, ou seja, baixa.

“Chegamos, pisamos, sentimos aquele movimento e depois mergulhamos para tirar com a mão. Ao pisar por vezes eles apertam, mas vamos caminhando, aqui a rapidez também conta, sobretudo para quem mergulha mais consegue mais ‘mabanga'”, contou à Lusa, depois de nadar desde a baía para uma pausa em terra.

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Com os preços de um balde de ‘mabangas’ a oscilarem entre os 1.500 e os 2.000 kwanzas (seis a oito euros), Severino Cathimbombo, de 28 anos, conta que tem “clientes fixos”, que o procuram, e ao seu marisco, com alguma regularidade.

“Antigamente tínhamos mais clientes, estamos já a depender das senhoras que aparecem nos mercados e alguns que passam por aqui e gostam”, adiantou.

A pesca é igualmente um recurso desses jovens provenientes dos arredores de Luanda, neste caso sobretudo em período de maré alta, como explicou à Lusa Francisco Nelson, sublinhando ser este um trabalho fácil, mas que depende da habilidade de cada um.

“O trabalho aqui na baía é mesmo de tirar ‘mabanga’ e por vezes pescamos. Apanhar ‘mabanga’ tem que se ter habilidade nos pés, para dar conta da existência da ‘mabanga’ nos locais onde pisamos no fundo do mar”, disse.

Para o sucesso da atividade, adiantou, a “boia improvisada é indispensável” para ajudar a manter o equilíbrio, mas também para apoiar o balde.

“Esse é o nosso emprego. Temos sim muitos clientes, outros vendem por quilo, um balde maior custa 2.000 kwanzas e o balde mais pequeno vendemos a 1.500 kwanzas, porque os dias difíceis, são quando a maré está brava apenas pescamos e não conseguimos tirar ‘mabanga'”, realçou.

Juntamente com a apanha do marisco, a pesca acontece em plena baía, a escassos metros de margina, na margem da cidade, atualmente um dos pontos turísticos de maior visita na capital angolana.

O projeto de requalificação daquela área, prevendo na altura um investimento global à volta de 2.000 milhões de euros, foi uma iniciativa lançada em 2003 pelo consórcio Luanda Waterfront Corporation, do empresário português José Récio, há vários anos radicado em Angola.

A reabilitação foi concluída em 2012 e o cenário é hoje de restaurantes, desporto e parques infantis ao longo de mais de três quilómetros de marginal, com dezenas de embarcações de pesca improvisadas de fundo.

Há três anos a apanhar marisco na baía de Luanda, Carlos Daniel revela que o trabalho decorre na normalidade, num período em que reduziram os incómodos os agentes da fiscalização e vigilantes daquele espaço de lazer de cidadãos nacionais e estrangeiros.

“O trabalho tem sido normal conforme podem ver, quando a maré baixa apanhamos ‘mabanga’ e quando está alta preferimos pescar”, afirmou.

Um percurso diário que começa logo nas primeiras horas do dia, conforme relata o jovem, de 18 anos: “Chegamos pegamos as nossas boias entremos no mar, temos risco, mas não podemos parar porque procuramos o sustento”.

“Improvisamos as boias para o nosso equilíbrio mas a nossa maior segurança é porque sabemos nadar, assim a ‘mabanga’ desapareceu um bocado, mas termos de quantidade de captura isso depende já da força de cada um”, argumentou.