Um ano depois da vitória de Salvador Sobral no Festival da Eurovisão, os portugueses voltaram a votar nos intérpretes que podem vir a representar o país. Na noite de domingo, 18 de fevereiro, os estúdios da RTP foram palco da primeira semi-final do Festival da Canção 2018 e ficámos a conhecer 13 das 26 canções inscritas. Contados os votos (e somados, os do júri com os do público), a lista foi uma — no dia seguinte, soube-se que deveria ter sido outra. Houve um erro na contagem dos votos. Esta é a lista final: Janeiro, Joana Barra Vaz, Catarina Miranda, Joana Espadinha, Anabela, Peu Madureira — e agora Rui David. Foram eles os escolhidos como os primeiros finalistas da prova que termina na grande final de Guimarães (acontece no domingo, 4 de março).

[Recorde no vídeo o erro na primeira semifinal do Festival da Canção]

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Por esta altura já deve ter ouvido algumas das canções destes artistas, mas não há nada como conhecê-los melhor. É para isso que aqui estamos.

Rui David

Rui David foi o nome escolhido por Jorge Palma para dar voz a “Sem Medo”. No final da emissão da primeira semifinal do Festival da Canção, ficou de fora dos sete magníficos — mas devia lá ter estado. A entrada de Beatriz Pessoa, a escolhida de Mallu Magalhães, foi afinal um erro: o público quis mesmo voltar a ouvir Rui David na final do Festival.

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O músico, natural de Pedrógão Grande, é o líder do Projeto Alarme, que revisita canções da época pós-25 de Abril, dando-lhes uma roupagem contemporânea. A solo, costuma interpretar temas de cantautores como Sérgio Godinho ou Zeca Afonso.

Janeiro

Já deve ser conhecido como “o Salvador Sobral 2.0”, o rapaz que ganhou a pontuação máxima dos jurados. Henrique Janeiro tem 23 anos e é amigo próximo do músico que amou por dez milhões em Kiev. Foi escolhido pelo próprio Sobral como um dos concorrentes neste Festival e costuma navegar por entre géneros como a folk, jazz e a bossa nova. Nascido em Coimbra, estudou Musicologia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e teve aulas no Hot Club de Portugal, percurso que o ajudou a construir uma ainda modesta carreira enquanto músico profissional.

Editou o EP Janeiro (que, curiosamente, foi misturado e masterizado por Benjamim, compositor que fez uma das canções que vai à final, “Zero a Zero”) em 2015 e já atuou em festivais como o NOS em D’Bandada, no Porto, o Bons Sons, em Cem Soldos (Tomar), e o Vodafone Mexefest, em Lisboa. Actualmente encontra-se a finalizar o seu primeiro álbum de originais e está a desenvolver um programa online, as Janeiro Sessions, onde canta em dueto com artistas como Miguel Araújo e Ana Bacalhau. Uma curiosidade: à semelhança de “(sem título)”, “Amar Pelos Dois” também foi a sétima canção da primeira semi-final do Festival.

Joana Barra Vaz

No seu site oficial, Joana Barra Vaz apresenta-se como “realizadora, argumentista e compositora”. A sua primeira incursão mais “a sério” no mundo da música deu-se em 2012 com o lançamento do EP Passeio Pelo Trilho, isto numa altura em que assinava como f l u m e. Cineasta de formação, Joana já colaborou com os TV Rural, Bernardo Barata, José de Castro e Ricardo Jacinto, sendo que o seu disco mais recente foi lançado a título próprio em 2016 e chama-se Mergulho em Loba que também foi produzido por Benjamim — e foi apresentado no Vodafone Mexefest.

De voz rouca e profunda, canta com nomes como José Afonso como inspiração. “Meu Caro Amigo Chico” foi o documentário que terminou em 2012 e que, através do depoimento de artistas como António Zambujo, Manel Cruz ou o próprio Chico Buarque, pinta um retrato de Portugal inspirado na música do artista brasileiro.

Catarina Miranda

Já ouviu falar de emmy Curl? Se sim, é provável que tenha reconhecido esta rapariga que deu voz à criação de Júlio Resende — Catarina e Emmy são a mesma pessoa. Aos 27 anos, a jovem diz na sua página de bandcamp que é do nordeste do país (Vila Real, para ser mais preciso) e que cresceu rodeada de música, pintura, teatro e fotografia. Aos quinze anos começou a escrever/tocar/produzir as suas próprias canções no estúdio do pai, mas só editou o primeiro trabalho — o EP Ether — em 2007. Assume que tem uma forte ligação à natureza e que tudo isso nasceu dos vários passeios que costumava dar na floresta, quando era pequena. Filha de uma poeta e de um músico (o pai tocava baixo), Catarina está a terminar um novo álbum que será editado ainda em 2018 e é assinado pelo seu alter-ego, emmy Curl.

Foi o pai que lhe ensinou a tocar os primeiros acordes de guitarra clássica, instrumento que a acompanhou até ao Conservatório Regional de Vila Real, instituição onde também estudou canto lírico. Mulher de sete ofícios, Catarina também tem uma especial aptência pelo mundo da moda, desenhando e costurando as suas próprias criações. Tem uma loja online onde assina como Emília Caracol (quando era pequena diziam-lhe que tinha cara de Emília).

Joana Espadinha

Não, não é filha do célebre cantor/actor Vítor Espadinha. Apesar de terem o mesmo apelido, Joana é descendente de dois historiadores alentejanos. Cedo decidiu cursar Direito, mas a meio arrependeu-se e decidiu virar-se para a música, área que continua a explorar. Quando decidiu dar essa reviravolta chegou a uma encruzilhada: seguia os passos do irmão, guitarrista de jazz, ou da irmã, que é pianista clássica? Acabou por seguir a primeira opção, tendo sido aluna no Hot Clube de Portugal antes de ir estudar para o Conservatório de Amesterdão, em 2006. Foi aí que tirou uma licenciatura em jazz.

Editou Avesso, o seu primeiro álbum de originais, em 2014 e desde então divide-se em vários projetos como os The Happy Mess e os Cassete Pirata. Também já colaborou com vários autores como João Hasselberg (na canção “Whatever it is you’re seeking, won’t come in the form you’re expecting”) e Afonso Pais (em “Terra Concreta”) Actualmente, encontra-se a trabalhar num novo disco que será editado pela Valentim de Carvalho e que até já teve um single de avanço, a canção “Leva-me a Dançar”. No meio de tudo isto é ainda professora de canto no curso de jazz da Universidade de Évora e no Hot Clube de Portugal.

Anabela

Lembra-se da Anabela? Aquela rapariga sorridente que em 1993 deu ao mundo uma das mais populares canções de karaoke (em português) de sempre? Sim, essa mesmo, a que cantava o “Quando cai a noite na cidadeeeeee”. Pois bem, 25 anos depois de ter ganho o Festival da Canção com apenas 16 anos, ela está de volta. Mantendo quase intactos os traços de menina, Anabela Braz Pires voltou ao local onde já foi feliz com a ajuda de outro nome histórico destas andanças, o mítico Fernando Tordo, que ficou responsável de compor a canção que apresentou, “Para Te Dar Abrigo.”

Nascida na Cova da Piedade em 1976, a “menina da Eurovisão”, como foi conhecida durante muito tempo, tem passado os últimos anos a fazer aquilo que mais gosta: cantar. Ente os anos de 1996 e 2002 colaborou com Filipe La Féria em musicais como “My Fair Lady” (fazia de Eliza Doolittle), “Koko” ou o “Jasmim ou o Sonho do Cinema”. Ao mesmo tempo foi lançando vários discos como o Primeiras Águas (1996) ou o Origens (1999). A sua carreira na música continuou a crescer e sempre entre estes dois mundos, o do teatro musicado e o da canção pura e dura. Pelo meio disto tudo meteu-se no ramo das dobragens de filmes de animação: “A Pequena Sereia”  e “Entrelaçados” são alguns dos mais populares em que esteve envolvida.

Peu Madureira

Até há bem pouco tempo, Peu (ou Pedro, para falar em bom português) era a maior incógnita desta edição do Festival da Canção, mas tudo isso se dissipou quando garantiu lugar na final do concurso. O fadista diz ter começado a levar a música mais a sério em 2002, “numa festa de beneficência na Paróquia de São Martinho, em Sintra”, lê-se na sua página oficial de Facebook. O fado sempre o acompanhou desde criança, muito por influência da mãe e da avó, também elas intérpretes do género.

Aos poucos, desde essa primeira atuação pública, Pedro começou a ser requisitado para cantar em vários clubes de fado como a Casa da Mariquinhas ou no Guarda-Mor, ambos em Lisboa. Em 2007 foi convidado por Adélcia Pires, a Primeira Dama de Cabo Verde na altura, a ir cantar ao arquipélago africano. Nesse mesmo ano foi também cantar à Roménia, na cidade de Sibiu, fazendo parte da programação da Capital Europeia da Cultura. Não tendo nenhum disco editado, Peu divide-se entre o trabalho na leiloeira Palácio do Correio Velho e ocasionais concertos em festas ou eventos privados. Júlio Isidro, presidente do júri do festival, disse à Antena 1, depois da semifinal, que Peu Madureira “vai ser o vencedor do Festival da Canção”.