“Isto começou com Salvador Malheiro, agora é Elina Fraga, e vamos lá ver se não fica por aqui. Começa sempre assim, e eu cá estou para essas histórias. Vai ser assim até esgotar, depois acalma e volta tudo à normalidade”. Foi assim que Rui Rio começou por responder às questões sobre a escolha da ex-bastonária da Ordem dos Advogados para sua vice-presidente. Falando aos jornalistas na sede do PSD no final da primeira reunião da Comissão Política Nacional, Rio afirmou que mantinha a “confiança” na ex-bastonária, e remeteu todos os esclarecimentos para a própria — que falaria minutos depois aos jornalistas.

“Estou habituado a isto, é assim que funciono bem, em ambientes de tensão. Não é quando está tudo calmo”, disse.

Apesar de Rio antecipar “mais histórias”, num estilo de campanha negra contra si, não quis especificar de onde é que acha que essas mesmas “histórias” estão a partir. Mas o momento era outro: depois de reunir com o Presidente da República, na segunda-feira, e com o primeiro-ministro, esta terça-feira, o líder do PSD reuniu esta tarde, pela primeira vez, a Comissão Política Nacional (órgão de direção do partido) e a comissão permanente (núcleo duro da direção, ainda mais restrito). Na agenda estava a “análise” daquilo que saiu das reuniões com os dois órgãos máximo de soberania, onde o tema central foi a disponibilidade do PSD para os consensos com o PS. Tanto a Costa como a Marcelo, Rio mostrou abertura para o diálogo: no encontro com António Costa ficou claro que os dois partidos vão dar início às negociações sobre a reforma da descentralização e o próximo quadro comunitário de apoio.

O negociador do PSD para a reforma da descentralização vai ser Álvaro Amaro, avançou Rui Rio, acrescentando que o atual presidente dos Autarcas Sociais-Democratas, e presidente da câmara da Guarda, vai passar a ter assento nas reuniões do núcleo mais restrito da direção do PSD. Já o negociador para o quadro de fundos comunitários para 2030 vai ser o vice-presidente do PSD Manuel Castro Almeida, “que foi secretário de Estado com essa tutela”.

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Questionado sobre se tinha mudado de opinião em relação às propostas do Governo sobre descentralização, Rio disse nunca fez “apreciação crítica das propostas do Governo”, apenas disse que “gostaria que fossem mais abrangentes”, e que não fosse apenas “uma municipalização”. “Passar algumas competências para a esfera das autarquias locais é bom, mas não chega”, disse.

Certo é que, numa entrevista ao jornal Público e Rádio Renascença, na reta final da campanha para as diretas do PSD, Rio disse que achava “difícil conseguir agora” um acordo para a descentralização, e explicava porquê. “Porque o pacote tem de estar sujeito a um grande debate no Parlamento e na sociedade. Independentemente de eu concordar com a passagem de uma determinada competência para as câmaras municipais, não é isso que está em causa. Não é um pacote que tenha olhado para a descentralização com o sentido estratégico, com o sentido de muito longo prazo, com a participação dos partidos, como da sociedade como um todo”, dizia na altura.

Sobre o facto de Hugo Soares, líder parlamentar do PSD que está de saída depois de ter convocado eleições para a próxima quinta-feira, não ter sido convocado para a reunião da direção do partido, Rui Rio disse que “Hugo Soares está demissionário, está em gestão”, e a comissão política nacional não trata assuntos de gestão corrente, mas sim estratégica. Logo, não fazia sentido um líder demissionário ser convocado para essa reunião.

Além das escolhas de Castro Almeida e Álvaro Amaro como negociadores do PSD junto do PS, Rui Rio anunciou ainda que foram nomeados os secretários-gerais-adjuntos, Hugo Carneiro e Bruno Coimbra, assim como o diretor do Povo Livre, órgão de comunicação oficial do partido, José Cancela Moura. Foi ainda constituída uma comissão, com duração máxima de 90 dias, para analisar as propostas de alteração aos estatutos do partido, que serão votadas no próximo Conselho Nacional.