A Segunda Guerra Mundial terminou em 1945. Mas o terror que provocou e as atrocidades do Holocausto permanecem na memória de todos até aos dias de hoje. E em Herxheim am Berg, uma aldeia a sul de Frankfurt, a memória não está apenas na cabeça dos habitantes.

Na Igreja Protestante de S. Tiago (em alemão, Jakobskirche) existem três sinos. Tocam sempre que há um casamento, um batizado ou simplesmente para assinalar a passagem de 15 minutos. E até ao último verão, não existia nada de estranho nisto. Mas Sigrid Peters, a organista da paróquia, descobriu o segredo guardado num dos sinos.

A frase “Tudo pela pátria. Adolf Hitler” está inscrita, em alemão, num dos sinos da Igreja de S. Tiago – acompanhada por uma suástica. A organista descobriu e fez uma queixa na Câmara Municipal de Herxheim am Berg. “Uma criança não pode estar a ser batizada enquanto um sino com as palavras ‘tudo pela pátria’ está a tocar”, disse Sigrid Peters à agência DPA.

E de um pequeno escândalo local, a notícia tornou-se rapidamente um assunto de interesse nacional. A população, de 700 pessoas, dividiu-se em duas fações: aqueles que defendiam a retirada do sino por ser um símbolo de desrespeito para com as vítimas do Holocausto e aqueles que defendiam a permanência do sino como marco histórico.

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O primeiro grupo, para além de considerar a permanência do sino uma ofensa às vítimas do Holocausto e aos seus descendentes, temia que a igreja se tornasse um local turístico para grupos neo-nazis. A outra fatia da população defendia que retirar o sino era uma maneira de apagar ou reescrever a História da Alemanha.

O Washington Post conta que a primeira vítima da controvérsia foi o presidente da Câmara de Herxheim am Berg. Roland Becker demitiu-se depois de ser altamente criticado devido a uma entrevista que deu. O então autarca disse que “quando falamos sobre estas coisas, temos de ver a imagem toda e dizer, sim, existiram atrocidades, mas também se introduziram coisas que ainda hoje utilizamos”.

E o sucessor não se saiu muito melhor. Georg Welker, depois de garantir que estava a pensar nas vítimas do terror nazi, afirmou que “também existiram vítimas alemãs e não só judias”. Mais tarde, pediu desculpa e disse que não quis dar a entender que os judeus não eram cidadãos alemães.

A verdade é que, controvérsia à parte, o assunto foi a votos na Assembleia Municipal. E, com 10 votos a favor e 3 contra, o sino vai continuar a tocar na Igreja Protestante de S. Tiago, em Herxheim am Berg. A proposta aprovada implica a colocação de um placa que indique o significado do sino e o torne um pequeno memorial das vítimas do Holocausto.