O Árctico está a derreter em pleno inverno. Uma onda de calor sem precedentes no pólo norte, que até março não vê qualquer luz solar, deixou as temperaturas acima dos 0 graus Celsius em fevereiro, encontrando-se mais quente do que vários locais na Europa.

Cientistas temem que o aquecimento global por detrás de um enfraquecimento ou colapso do vórtice polar — os ventos que insulam os pólos e mantém as temperaturas frias nas latitudes altas. No Árctico, a média de temperaturas diárias em 2018 tem estado 20ºC mais elevada do que a de anteriores anos.

Este colapso também levou a que a Gronelândia tenha passado 61 horas com temperaturas acima da de congelamento em 2018, três vezes mais do que em qualquer outro ano, naquela que devia ser a altura mais fria do ano nos pólos. De acordo com o The Guardian, as temperaturas na Sibéria subiram mesmo 35ºC graus por culpa das correntes de ar quentes.

Os picos de temperatura no Árctico não são incomuns e variam consoante a força do vórtice polar, que afasta as massas de ar quentes. Contudo, os picos de calor são cada vez mais frequentes e duram cada vez mais, sendo este último o mais intenso e um dos mais longos de sempre a ocorrer durante o inverno.

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A força do vórtice polar depende da diferença de temperaturas entre o Árctico e as latitudes médias, a qual está a diminuir devido ao facto de o pólo estar a aquecer mais rápido do que o restante planeta. O aquecimento médio do planeta ronda 1ºC, menos do que no Árctico, onde anda por volta dos 3ºC.  O gelo, por isso, está a derreter. De acordo com a NASA, o gelo do oceano Árctico está a desaparecer a uma taxa de 13,2% por década, o que também leva a um aumento de temperaturas.

Uma das hipóteses que está a ser dada é a de que um Árctico quente se traduz em continentes frios, devido ao facto de o vórtice polar “sugar” mais ar quente e expelir mais frio. A teoria ainda é algo controversa entre cientistas por não ser evidente em todos os modelos climáticos, mas enquadra-se com o fenómeno que tem decorrido no início deste ano — a dadas alturas, esteve mais frio em Londres do que no cabo Morris Jesup, o ponto mais a norte da Gronelândia.

Aliás, o centro de meteorologia no cabo, que se encontra a cerca de 700 quilómetros do pólo norte, registou que, durante 10 dias seguidos, a temperatura esteve parte do dia acima dos 0ºC. No passado domingo, a temperatura atingiu mesmo 6,1ºC.

Ainda não é certo se se trata de um evento singular ou se as projecções de aquecimento no Árctico devem ser alteradas. No entanto, pensa-se que as temperaturas recentes podem, possivelmente, vir a acelerar ainda mais as alterações climáticas.