No final, Rafael Leão teve no pé direito a hipótese de ser herói. Mais herói. Falhou, mas também ninguém lhe consegue colocar a capa de vilão. Afinal, falamos de um miúdo de 18 anos que nem uma mão cheia de jogos leva no Campeonato (mais concretamente, tem três) e, verdade seja dita, fez aquilo que Doumbia e Montero não conseguem perante a ausência de Bas Dost: golos. Neste caso, para a história.

Ao render o avançado marfinense aos 44′ e ao marcar logo dois minutos depois, mesmo em cima do apito final de Soares Dias para o intervalo, Leão tornou-se o jogador mais novo de sempre a marcar num clássico de estreia entre FC Porto e Sporting e, em paralelo, passou também a ser o jogador mais novo de sempre a marcar um golo pelo conjunto verde e branco em jogos grandes (incluindo aqui também os duelos com o Benfica).

O avançado tem outra particularidade curiosa que mostra não só o instinto goleador mas também uma clara apetência para marcar ao FC Porto: em menos de um ano, o internacional português nas camadas mais jovens (até aos Sub-21) fez o gosto ao pé diante dos azuis e brancos nos juniores em abril de 2017 (terminaria a temporada como campeão nacional Sub-19); na equipa B em dezembro de 2017 (vitória por 3-0 na Academia); e agora, março de 2018, nos seniores na deslocação ao Dragão.

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Recordes à parte, o jovem nascido em Angola que chegou ao Sporting com apenas nove anos quando jogava na Foot 21 continua a ser um caso raro de afirmação e conta com números que impressionam na equipa principal de Jorge Jesus: em cinco jogos em três competições (Campeonato, Taça de Portugal e Liga Europa), apontou dois golos em 98 minutos. A oportunidade de ser titular, até pelas ausências verde e brancas, parece cada vez mais próxima.

Apesar de, desde muito novo, ter queimado etapas e jogado em equipas de idades superiores, Rafael Leão sagrou-se campeão regional de iniciados e juvenis e campeão nacional de juvenis e juniores pelo Sporting, num total de seis títulos desde 2011/12. Em paralelo, o avançado fez também parte da geração nacional que ganhou o Europeu Sub-17, em 2016.

Em outubro de 2015, Rafael Leão tornou-se um dos jogadores mais novos a assinar contrato profissional na era Bruno de Carvalho, com a certeza de que poderia chegar ao patamar mais alto no futebol do clube (já na altura, apesar de ter idade de juvenil, treinava na equipa B com o técnico João de Deus). Recentemente, o avançado renovou contrato e passou a ganhar o dobro do que ganhava, a rondar os 100 mil euros brutos por época. Com uma cláusula de rescisão de 45 milhões de euros, é provável que veja o contrato novamente revisto a breve prazo, até por forma a “proteger” o jogador do interesse estrangeiro.

Ainda assim, o avançado que se encontra a tirar a carta de condução e que sonha ser treinador quando acabar a carreira terá muitas etapas para percorrer. Esta, ninguém lhe tira. E ninguém consegue tirar aos livros de história.

“Só não o coloquei em campo de início porque o FC Porto tem dois centrais muito fortes e tive receio que o miúdo começasse a ter medo do jogo mas sabia que ele ia entrar e isso acabou por acontecer mais cedo do que pensava. Fez um golo e esteve na melhor oportunidade do Sporting. Aí não marcou mas dá sinais que está nas decisões, que é ponta-de-lança. Ganhámos um jogador, que tem apenas 18 anos mas mostrou coragem e está a revelar que tem grande capacidade”, comentou Jorge Jesus na flash interview.