No passado sábado, a brasileira Marielle Franco, vereadora da câmara do Rio de Janeiro pelo PSOL, insurgiu-se nas redes sociais contra a ação da Polícia Militar (PM) brasileira no bairro de Acari: “O que está a acontecer (…) é um absurdo! E acontece desde sempre! O 41º batalhão da PM é conhecido como Batalhão da Morte. (…) CHEGA de matarem nossos jovens”. Esta quarta-feira, Marielle Franco foi brutalmente assassinada “com, pelo menos, quatro tiros na cabeça”, refere o portal da Globo, G1. Foram encontradas “nove cápsulas de tiros no local”, acrescenta o órgão noticioso.
O que está acontecendo agora em Acari é um absurdo! E acontece desde sempre! O 41° batalhão da PM é conhecido como Batalhão da morte. CHEGA de esculachar a população! CHEGA de matarem nossos jovens! pic.twitter.com/SrSycFE5Sl
— Marielle Franco (@mariellefranco) March 10, 2018
Há apenas dois dias, a vereadora do Rio de Janeiro havia reforçado as críticas sobre a ação da Polícia Militar no Brasil. A intervenção do Exército nas ruas da cidade tem sido polémica mas há muito que as autoridades brasileiras são alvo de críticas por alegados abusos policiais sobre a população.
Mais um homicídio de um jovem que pode estar entrando para a conta da PM. Matheus Melo estava saindo da igreja. Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?
— Marielle Franco (@mariellefranco) March 13, 2018
Ativista, defensora dos direitos humanos, Marielle Franco tinha 38 anos. Foi baleada mortalmente na Rua Joaquim Palhares, no bairro do Estácio, na Região Central do Rio de Janeiro. O motorista que a transportava, Anderson Pedro Gomes, também foi baleado e, tal como ela, morreu. Uma terceira ocupante do veículo não foi diretamente atingida (sofreu apenas com estilhaços) e sobreviveu. Segundo o G1, o homicídio aconteceu quando um carro parou ao lado do veículo que transportava Marielle Franco. Do interior deste carro foram disparados os tiros que mataram Marielle e Anderson Gomes.
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O Brasil entrou em choque com a morte da vereadora, que em 2016 foi a quinta mais votada do Rio de Janeiro. O Jornal da Globo indica que a polícia brasileira investiga neste momento a possibilidade de este ter sido um homicídio encomendado. O cientista político brasileiro Luiz Eduardo Soares foi um dos que se insurgiu nas redes sociais, alertando para os “segmentos corruptos e brutais das polícias”.
Quando a população vai despertar e entender que a insegurança pública começa nos segmentos corruptos e brutais das polícias, e que não podemos conviver mais com esse legado macabro da ditadura? Vamos continuar falando em “desvios de conduta individuais”? O que fazer, agora, além de chorar?”, perguntou Soares, que recordou a morte da juíza Patricia Acioly às mãos da polícia brasileira, em 2011.
A Amnistia Interancional também já reagiu ao homicídio, dizendo que “não podem restar dúvidas a respeito do contexto, motivação e autoria do assassinato de Marielle Franco”, uma cidadã, lembra a organização, “reconhecida pela sua histórica luta por direitos humanos, especialmente em defesa dos direitos das mulheres negras e moradores de favelas e periferias e na denúncia da violência policial”. Na noite anterior ao homicídio, Marielle Franco participara num painel de debate intitulado “Jovens Negras Movendo as Estruturas”.
As manifestações de revolta perante o crime têm-se sucedido por todo o Brasil esta quinta-feira. Também em Lisboa estão a ser organizadas manifestações: esta quinta-feira na Praça Luís de Camões, às 18h e na segunda-feira na Praça da Figueira, também às 18h. No Porto, em simultâneo com a manifestação lisboeta de segunda-feira na Praça da Figueira, decorrerá mais uma ato público que pretende evocar o legado feminista de Marielle Franco e mostrar indignação face ao seu assassínio. Tem como título “Marielle Franco, Presente! O mundo não se cala” e acontecerá em frente ao Consulado-Geral do Brasil no Porto, na Avenida de França.
Perante o sucedido, o humorista brasileiro Gregorio Duvivier mostrou a sua indignação no Facebook:
https://www.facebook.com/gregorioduvivier/photos/pb.203544913040809.-2207520000.1521213941./1725634657498486/?type=3&theater
Nota – Editado às 15h24 de sexta-feira, 16/3/2018, com inclusão de referência a manifestação organizada no Porto