Rui Rio tem dez dias para escolher um sucessor de Feliciano Barreiras Duarte. O novo secretário-geral terá de ser entretanto indicado pelo presidente do PSD, mas terá de ser eleito no Conselho Nacional, o órgão máximo entre congressos, que está marcado para 28 de março. O novo presidente do PSD não tem uma maioria de apoiantes no Conselho Nacional, o que o obriga a escolher um nome consensual, sob pena de ter um novo percalço no partido, tal como aconteceu votação de Fernando Negrão para a liderança da bancada.

O estatutos do PSD são claros e estabelecem que compete ao Conselho Nacional do PSD “eleger o substituto de qualquer dos titulares da Mesa do Congresso e da Comissão Política Nacional, com exceção do seu Presidente, no caso de vacatura do cargo ou de impedimento prolongado, sob proposta do respetivo órgão.” Mas há aqui uma agravante relativamente ao Parlamento. No caso da bancada, Negrão, eleito com apenas 37% dos votos, foi legitimado, uma vez que era o único candidato e alegou que outros só não se submeteram a votos porque não quiseram.

No caso da eleição do secretário-geral será necessário o voto favorável de uma maioria simples dos conselheiros (36 em 7o) para que a decisão possa ser legitimada politicamente. Os estatutos são omissos quanto à necessidade de uma maioria dos votos, mas — como em qualquer votação em democracia — a aprovação de um nome pressupõe que hajam mais votos favoráveis do que não favoráveis. Naturalmente que os opositores de Rio também não estarão interessados em passar a imagem de que vão votar contra o nome do novo secretário-geral de forma gratuita. No entanto, se o nome voltar a ser uma imposição de Rio ou uma persona non grata entre os seus opositores, dificilmente o nome terá o apoio da maioria dos conselheiros.

Rui Rio até elegeu 34 conselheiros (dos 70) na lista que apoiou ao Conselho Nacional. Parece quase maioria do Conselho Nacional, mas na prática não é, na sequência do acordo Rio-Santana no Congresso. Tendo em conta proporção do acordo feito pelos dois antigos candidatos durante o Congresso, Rio só tem cerca de metade dessas “tropas”, já que a outra metade são apoiantes de Santana Lopes, em resultado da fusão das candidaturas.

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Olhando para os primeiros dez nomes dos 34 da lista apoiada pelo presidente, percebe-se que Rio está longe de ter apoiantes de forma maioritária na lista que apoiou. Além da proporção 54%-46% que decorre dos resultados das diretas, a lista apoiada pelo líder do PSD Rui Rio segue lógicas de aparelho:

  1. Pedro Santana Lopes: o candidato derrotado das diretas encabeçou a lista apoiada por Rui Rio, mas está longe de ser alinhado com o presidente.
  2. Paulo Rangel: Foi quase candidato a líder, mas recuou. Aceitou ser a primeira indicação de Rio para o Conselho Nacional, mas está longe de ser um “yes, man” do presidente.
  3. Arlindo Cunha: O antigo ministro de Cavaco dificilmente votará contra Rio
  4. José Matos Rosa: O antigo secretário-geral não está alinha com Rui Rio, mas dificilmente assumirá uma posição de ruptura na eleição de um nome para um cargo que já foi seu.
  5. Paulo Cunha: O presidente da concelhia e presidente da câmara municipal de Vila Nova de Famalicão apoiou Santana nas diretas.
  6. Ví­tor Martins: O líder da concelhia do PSD de Aveiro e um dos homens de Salvador Malheiro no distrito votará ao lado de Rio
  7. Telmo Faria: Foi um dos estrategas de Santana Lopes nas diretas, tendo sido o autor da moção de estratégia global do antigo primeiro-ministro. É também um amigo de longa data de Feliciano Barreiras Duarte e dificilmente afrontará Rio.
  8. Paulo Ribeiro: O novo líder da concelhia do PSD em Lisboa foi eleito no dia das últimas diretas. Encabeçou a lista da frente anti-Gonçalves e conseguiu vencer, tendo contado com o apoio de vários santanistas. Ele próprio disse que não encabeçava uma lista de Santana, mas que era apoiante de Santana. Ainda assim dificilmente votará contra uma escolha pessoal de Rio.
  9. Rodrigo Gonçalves: O antigo presidente interino da concelhia do PSD em Lisboa e um dos caciques com maior influência em Lisboa está alinhado com Rio
  10. Cláudia Monteiro Aguiar: A eurodeputada da Madeira apoiou Rui Rio nas diretas e deverá votar de acordo com a escolha do líder.

Quanto aos restantes, a lista de Carlos Reis e Sérgio Azevedo — que está longe de ser afeta a Rio — elegeu 13 conselheiros. A lista de Bruno Vitorino, também passista, conseguiu eleger 9 conselheiros. Das restantes cinco listas que foram a votos no Congresso, duas elegeram apenas um conselheiro e três elegeram quatro.

Rio terá, assim, de ter o cuidado de escolher um secretário-geral consensual. São já vários os nomes que circulam nos bastidores para a sucessão de Feliciano Barreiras Duarte, mas Rio ainda não terá comunicado à sua direção qual a escolha. O presidente do PSD segue na quarta-feira para Bruxelas, onde estará presente para participar na sua primeira cimeira do PPE como líder social-democrata.

Feliciano Barreiras Duarte apresentou este domingo a sua demissão a Rui Rio, que a aceitou de imediato. Desde o último fim-de-semana, que o braço direito do novo líder social-democrata esteve no centro de várias polémicas relativas às sua carreira académica e a ajudas de custo que recebeu como deputado. Em comunicado, o deputado do PSD classifica o pedido de demissão de “irrevogável — tão irrevogável que já está concretizado”.

Feliciano Barreiras Duarte demite-se e diz que “é irrevogável”