A greve dos enfermeiros, que começou na quinta-feira e termina esta sexta-feira, está a provocar o cancelamento de cirurgias em vários locais, de acordo com dirigentes do Sindicato de Enfermeiros, que aponta para uma adesão nacional de 70% a 80%.
No Grande Porto, o Centro Hospitalar de São João tinha, esta sexta-feira de manhã, quase todas as salas do bloco operatório encerradas.
Neste hospital das “12 salas do bloco, apenas duas estão a funcionar”, disse à Lusa Nuno Agostinho, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) do Porto, referindo que a adesão “do turno da manhã ronda os 70%”, número equivalente ao de quinta-feira.
De acordo com Nuno Agostinho, no Centro Hospitalar do Porto/Santo António, “nenhuma das sete salas do bloco central funciona”, sendo realizadas apenas as cirurgias de urgência. Em relação à cirurgia de ambulatório, “das oito salas apenas três estão abertas”.
O dirigente do SEP/Porto remeteu para mais tarde dados concretos sobre a adesão ao protesto no turno da manhã, acrescentando que no turno da noite, no Grande Porto, a adesão se fixou nos 80%.
Em Coimbra, um dos principais polos de saúde do país, também houve cirurgias canceladas, como foi o caso no hospital de Covões, onde nenhuma foi realizada.
“Havia 38 enfermeiros escalados no bloco operatório central [do hospital de Covões], que é o maior, e como 37 fizeram greve não se realizou qualquer cirurgia programada”, referiu o sindicalista Paulo Anacleto. “Só estão a ser realizadas cirurgias de urgência e de emergência, para não por em causa a vida das pessoas”, frisou.
Segundo o dirigente sindical, no hospital dos Covões a greve teve uma adesão de 60%, no Rovisco Pais (na Tocha) de 75%, na Maternidade Daniel de Matos de 60% e no edifício central dos Hospitais da Universidade de Coimbra de 63%.
O sindicalista acrescentou que a adesão variou entre os 53% no Hospital Pediátrico e os 88% nos serviços dos edifícios de Celas.
No Alentejo, o cancelamento de cirurgias programadas fez-se sentir no Hospital de Portalegre, integrado na Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA), e no Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE), segundo o sindicato do setor.
No Hospital de Portalegre, esta manhã, além de só estarem a ser realizadas cirurgias de urgência, a paralisação “é de 100% em vários serviços, como a pediatria, cirurgia e unidade de cuidados intensivos”, disse o Celso Silva, do SEP, acrescentando que a adesão “ronda os 73%”.
Segundo o mesmo sindicalista, no HESE a adesão “é de cerca de 60%” e “não há cirurgias programadas, só de urgência”, enquanto serviços como o de pediatria estão com 100% de adesão.
Quanto ao Hospital de Beja, da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (ULSBA), Edgar Santos, coordenador do SEP no Alentejo, disse que a adesão ronda os 54,5% e que “as cirurgias programadas estão a decorrer e os serviços estão a funcionar”.
Mais a sul, no Algarve, a adesão à greve aumentou 11 pontos percentuais em relação a quinta-feira, chegando aos 71% no hospital de Faro e aos 87% na unidade hospitalar de Portimão, avançou Nuno Manjua, do SEP local.
Segundo este responsável, há Unidades de Saúde Familiar encerradas, devido a uma adesão de 100% dos enfermeiros, nomeadamente duas em Vila Real de Santo António e São Brás de Alportel, e uma em Albufeira, em Quarteira e em Almancil.
Nos Açores, o sindicato estima que a paralisação tenha atingido, de manhã, 76% nos hospitais do arquipélago e 60% nos centros de saúde, embora ainda “faltem apurar alguns” destes, segundo o sindicalista Francisco Branco.
“Faço um balanço extremamente positivo do primeiro dia de greve. Esta sexta-feira foi publicado o instrumento de regulação coletiva de trabalho que irá permitir a passagem para as 35 horas dos enfermeiros com contrato individual de trabalho, o que é muito positivo”, disse à agência Lusa Guadalupe Simões, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses.
A dirigente sindical lembrou que desde que a greve foi convocada, o Governo já assinou o protocolo negocial de revisão da carreira de enfermagem, publicou o suplemento remuneratório para os enfermeiros especialistas e assumiu não avançar com a diminuição de competências das unidades de cuidados na comunidade.
Guadalupe Simões referiu, contudo, que ainda existem problemas para resolver. “É necessária a admissão de mais enfermeiros para pôr fim ao sistemático recurso a trabalho extraordinário, para garantir que a passagem para as 35 horas aconteça sem sobressaltos. Defendemos também o descongelamento das progressões de carreira e o pagamento do trabalho extraordinário que está acumulado, que deveria ter sido pago até dezembro do ano passado, mas não se concretizou”, frisou.
Com a adesão global de 64% no período da manhã e 67,4% no da tarde à greve, a dirigente sindical disse esperar os números de sexta-feira, o segundo e último dia de greve.
“Temos a expectativa que adesão na sexta-feira melhore, porque os objetivos que temos conseguido desde que avançamos para a greve, pode dar alento aos enfermeiros para adirem à greve, no sentido das restantes matérias serem resolvidas”, concluiu.
Os enfermeiros iniciaram às 08h00 de quinta-feira uma greve de dois dias pela “valorização e dignificação” destes profissionais e que ficou agendada apesar da marcação de um calendário de negociações com o Governo sobre as suas 15 reivindicações.
A greve, marcada pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, termina às 24h00 de sexta-feira. Este sindicato reivindica o descongelamento das progressões, com a contagem dos pontos justamente devidos a todos os enfermeiros, independentemente do tipo de contrato de trabalho.
A contratação imediata de 500 enfermeiros e de mais 1.000 enfermeiros entre abril e maio é outra das reivindicações, assim como “a ocupação integral dos 774 postos de trabalho colocados a concurso” para as Administrações Regionais da Saúde (ARS).
O SEP pretende ainda que seja efetuado “o pagamento do suplemento remuneratório para enfermeiros especialistas em março, com efeitos a janeiro/2018” e “o efetivo pagamento do trabalho extra/horas a mais em março e abril”.
A obrigatoriedade do cumprimento da legislação sobre horários de trabalho, em todas as instituições e a manutenção da missão das Unidades de Cuidados na Comunidade (UCC) são outras das medidas que os enfermeiros pretendem ver concretizada.
A 13 de março, o Ministério da Saúde assinou com os sindicatos dos enfermeiros um protocolo negocial para a revisão das carreiras de enfermagem.
Apesar desta assinatura, o SEP decidiu manter a paralisação, pois as negociações com vista à revisão das carreiras é apenas “um dos 15 pontos que levaram à marcação da greve”, disse então o dirigente deste sindicato José Carlos Martins.
Na quinta-feira, a greve dos enfermeiros registou, segundo o sindicato, uma adesão de 64% no período da manhã e 67,4% à tarde. No turno da noite, a adesão terá chegado aos 70%.