Manuel Reis, o fundador da discoteca Lux Frágil, em Lisboa, morreu este domingo, aos 71 anos. A informação foi confirmada por Margarida Martins, atual presidente da Junta de Freguesia de Arroios, que foi durante anos porteira do Frágil.
“O nosso amigo Manuel Reis, partiu hoje! Um abraço a todos os amigos/as! Para mim além de amigo, foi um Mestre“, pode ler-se na publicação que fez no Facebook. Ao Observador, revelou estar “em choque”. Além de um “grande amigo”, Margarida caracteriza-o como alguém que “foi sempre muito recatado, mesmo até ao último momento”. “Foi muito importante para mim e para esta cidade”, disse ainda.
João Soares também usou as redes sociais para homenagear o “amigo”. “Acabo de receber, da minha amiga Margarida Martins, uma notícia muito triste”, pode ler-se na publicação onde partilhou algumas fotografias do fundador da discoteca. João Soares recorda Manuel Reis, “de quem era amigo e admirador”, como “alguém de um bom gosto, sensibilidade, e talento raros”. A quem a cidade de Lisboa deve uma obra notável“. O ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa conta ainda que teve “a honra” de ter Manuel Reis “sempre como apoiante”.
A jornalista e escritora Patrícia Reis também escreveu no Facebook uma publicação sobre Manuel Reis, que conhece “há mais de trinta anos”. Patrícia Reis recorda-o: “O Manuel impecavelmente vestido. O Manuel a rir. O Manuel a discutir música com o Elvis. O Manuel que inventou as noites de Lisboa, que as elevou, construindo os espaços que nem sabíamos que seriam possíveis”. “Caramba, Manuel, onde vamos dançar? É o fim de uma época. Estou infinitamente triste”, termina.
Também a presidente da ModaLisboa, Eduarda Abbondanza elogiou Manuel Reis nas redes sociais. “O Manuel fez maior esta cidade, o nosso mundo e as nossas vidas também”. Ao Observador, confessou: “O Manuel foi tão grande e tão generoso.
Amou Lisboa como ninguém e teve uma ação extraordinária de transformação dos comportamentos ao longo de várias décadas, tocando tantas gerações de pessoas. Dotado de uma visão artística muito particular produziu experiências únicas e inesquecíveis ao longo das nossas vidas. Foi um fiel amigo muito estruturante e de um amor incrível. Tive o privilégio de estar perto dele até ao fim. O Manuel é de todos nós”
“Adeus amigo e obrigado por tanto”, escreveu Rui Pregal da Cunha, antigo vocalista dos Heróis do Mar no Facebook.
Antes de fundar a discoteca Lux, Manuel Reis já tinha uma história. Tinha revolucionado a noite lisboeta mais alternativa. Em 1982, abriu o Frágil, uma discoteca no Bairro Alto, na Rua da Atalaia, por onde passaram artistas, jornalistas, atores, escritores, fotógrafos. Sérgio Godinho, Jorge Palma, Alexandra Lencastre, Maria João Avillez, António Variações ou Miguel Esteves Cardoso foram alguns deles. No verão desse mesmo ano, Manuel Reis abriu o restaurante Pap’açorda.
No livro LX 80 (Dom Quixote), a autora, Joana Stichini Vilela (que assina a obra em conjunto com Pedro Fernandes), lembra que foi Manuel Maria Reis o grande responsável pela mudança que começou a partir do Bairro Alto, a partir de “Março de 1974 por uma loja pequeníssima no 33 da Travessa da Queimada e acaba a orquestrar uma nova forma de estar, com amigos que chama e outros que atrai. Das antiguidades com a Loja da Atalaia à restauração com o Pap’açorda; da moda com a Jónatas à meca da noite alfacinha, o Frágil. Por outras palavras: casa, comida, roupa – e diversão.”
No mesmo livro, Manuel Reis é descrito como “tímido, avesso a entrevistas, ao longo da vida cultivará uma aura de distância e discrição. Os que o rodeiam adjectivam-no com substantivos: ‘líder’, ‘mito’, ‘Papa’, ‘Jedi’. Na verdade, mais do que as palavras que pudesse proferir nas centenas de entrevistas que recusará, é a cidade que encetou e burilou o seu principal testemunho.”
Foi no final dos anos 90, um dia antes do encerramento da Expo 98, que Manuel Reis fundou a discoteca Lux e teve o ator John Malkovich como sócio. A sua última inauguração foi em 2016, com o bar Rive-Rouge, no Mercado da Ribeira.