“Foi tempo a mais para pouca coisa”, resume ao Observador um dos presidentes distrital que ontem esteve presente na reunião com Rui Rio — a primeira desde que tomou posse como líder do PSD — que durou das 20h30 até depois da 1h da manhã. A expectativa era que Rio recuperasse o tempo perdido com as estruturas, uma vez que muitas se queixavam de não ter sido ouvidas no primeiro mês de mandato nem no que toca à estratégia política a seguir, nem no que toca à organização do ambicioso Conselho Estratégico Nacional, que reunirá os 16 coordenadores e 16 porta-vozes setoriais. A reunião, apesar de ter sido longa, teve mais de organização, de metodologia e até contas, do que de política.
“Morna”, “pacífica”, “serena”, “cordata”, “sem jeito”, “descontraída” foram alguns dos adjetivos usados por vários presidentes de distritais contactados pelo Observador para descrever o encontro. As habituais reuniões periódicas com o anterior presidente do partido, Passos Coelho, eram diferentes. Apesar de ser visto como distante, fazia uma intervenção inicial de análise da situação política e dava depois a palavra às distritais para fazerem a sua própria análise e darem os contributos relacionados com o seu distrito. Desta vez “não houve uma intervenção inicial sobre política nacional”.
“Pode ser por ter sido a primeira, dou o benefício da dúvida”, diz o presidente de uma distrital, explicando que a intervenção de Rio se centrou quase exclusivamente em questões de organização, dedicando-se a explicar ao pormenor como vai funcionar o Conselho Estratégico Nacional, uma espécie de governo-sombra do PSD para pôr o partido a pensar o país nas várias áreas temáticas. “Foi mais uma reunião de organização do que uma reunião política”, resume outra fonte.
Segundo relatam alguns dirigentes distritais, Rio até terá procurado quebrar o gelo com algumas “piadas” iniciais para tornar o ambiente mais descontraído, e a verdade é que resultou. Não houve um clima de “crispação”, bem pelo contrário. Alguns dirigentes fizeram considerações sobre “coisas que não correram bem no primeiro mês”, que foi “um mês cheio de casos e de situações”. Rio terá procurado desvalorizar, dizendo que “no Porto lhe acontecia muito pior” e que o caso que levou à demissão de Feliciano Barreiras Duarte foi “desproporcional” e “exagerado”. O sentimento generalizado descrito pelas várias fontes foi de que “é para virar a página”, tendo havido vários “elogios à escolha do novo secretário-geral” José Silvano, que também esteve presente.
Pelo menos um dos líderes distritais questionou o presidente do PSD sobre a “estratégia política do partido”, mas a hora já ia avançada e, segundo descreve um dos presentes, Rio terá procurado descansar os interlocutores dizendo que “sabia o que estava a fazer” e qual “o caminho a seguir”.
Para não abrir a caixa de pandora — já que se um falasse da situação política global, os outros também iriam querer falar — ficou subentendido que haverá tempo para isso no Conselho Nacional que se realiza já para a semana, a 3 de abril. “Havendo um Conselho Nacional daqui a dois ou três dias não está tudo perdido, se depois disso não houver discussão da estratégia política é que é mais problemático”, diz um dos ouvidos.
Conselho Estratégico ainda sem nomes
A reunião noturna centrou-se quase exclusivamente na explicação sobre o funcionamento do Conselho Estratégio Nacional — órgão que Rio anunciou que ia recriar de forma ambiciosa, com coordenadores e porta-vozes a nível nacional e distrital para 16 áreas temáticas. A expectativa era que Rio anunciasse na quarta-feira à tarde, na comissão política, os nomes que vão compor o organismo. Mas não foi isso que aconteceu. “Disse-nos que não queria apresentar os nomes por fases”, explica uma fonte, sugerindo que Rio ainda não tem o painel de 16 coordenadores (que depois terão 16 porta-vozes) fechado.
Como havia, entre as distritais, uma “preocupação” generalizada de que esse Conselho Estratégico liderado por David Justino fosse esvaziar de alguma forma o papel das distritais e até dos deputados que coordenam áreas temáticas ao nível do Parlamento, o foco da reunião da noite passada foi descansar as distritais, explicando-lhes como vão ser envolvidas. “Na prática, vamos acabar por ter, além dos coordenadores nacionais, um gabinete de estudos em cada distrital, como já acontecia”, explica um dos presentes, acrescentando que cada distrito (podendo alguns distritos juntar-se e trabalhar em conjunto) deverá fazer equipas para estudar as várias áreas temáticas e elaborar, no fim, um relatório com o diagnóstico dos problemas e propostas de soluções. “Isto obriga ao envolvimento e à responsabilização das distritais, e isso é bom”, dizem.
O objetivo final é “pôr o partido a debater os problemas e a apresentar propostas detalhadas para o problema eleitoral“, explicam, sublinhando que os responsáveis distritais pelas várias áreas temáticas têm depois assendo no Conselho Estratégico, onde vão manter estreita articulação com David Justino. Resumindo, tudo pacífico. “Serviu para baixar o grau de crispação e repor alguma normalidade, vamos ver como é que se aplica agora na prática”, diz um dos líderes distrital.
Além das questões de organização formal, as reuniões de quarta-feira na rua de São Caetano à Lapa serviram também para dar conta do plano de festas para o 44º aniversário do PSD. As celebrações, segundo avança o Público, vão ser nos dias 11 e 12 de maio, o local escolhido foi Beja — apesar de, segundo relatos feitos ao Observador, a distrital de Beja se ter queixado de alguma “falha de comunicação” — e o tema vai ser as “autonomias regionais”. Alberto João Jardim e Mota Amaral vão ser homenageados na qualidade de ex-presidentes dos governos regionais da Madeira e dos Açores, respetivamente. As eleições regionais vão ser as primeiras a disputar-se em 2019 — ano em que também há europeias e legislativas.