A situação está negra. Em 2021, ou seja daqui a pouco mais de dois anos, todos os fabricantes estão obrigados a oferecer uma gama em que a média de emissões de CO2 seja de apenas 95 g por cada quilómetro percorrido. Isto é uma missão quase impossível para a maioria das marcas, bastando recordar que a média foi de 118,1 g/km em 2017 e 117,8 g/km no ano anterior. O problema é que a obrigatoriedade de respeitar o limite de CO2 vem com uma penalidade: por cada unidade produzida acima das 95 g, há uma valor a pagar, o que só para um fabricante como o Grupo Volkswagen implica uma multa de 1,2 mil milhões de euros.
Mesmo que, por hipótese, os construtores melhorassem a sua oferta de motores a gasóleo, investindo fortemente nas tecnologias mais recentes para conseguir que respeitem os limites legais de poluentes que emitem para a atmosfera, se os clientes preferirem os motores a gasolina, estão automaticamente a condenar os fabricantes a multas pesadas. E os consumidores têm mais que razões para virar as costas aos motores a gasóleo, sobretudo motivados pela intensa campanha que está a ser movida contra as unidades que queimam este tipo de combustível, que tem muito mais de político do que científico.
É certo que o declínio dos diesel começou em 2015, com o Dieselgate, quando a Volkswagen admitiu que quadros seus tinham autorizado a instalação de sistemas fraudulentos para tornar os motores a gasóleo mais limpos do que seriam na realidade. Mas para os motores diesel não envolvidos no problema, e todos os outros que foram concebidos deste então, não há motivos para serem penalizados face aos congéneres a gasolina. Como, aliás, se tornará evidente a partir de 2023, quando for implementada a norma Euro 7, em que ambos os combustíveis vão ser analisados em igualdade de condições.
Porém, nada disto interessa, uma vez que a crescente ameaça de banir os diesel do centro das grandes cidades – a possibilidade legal das cidades alemãs banirem os motores a gasóleo, se assim entenderem, é disso o mais recente exemplo e talvez o mais constrangedor –, está a empurrar os condutores para os motores a gasolina (também para os eléctricos e híbridos, mas aqui com menor dimensão). E, paralelamente, a fazer baixar a cotação dos veículos usados equipados com este tipo de combustível, pelo que só um milagre devolverá a confiança aos clientes. Ou isto, ou grandes esforços comerciais, como o que a BMW e a VW estão a fazer, garantindo aos seus clientes a retoma dos veículos a gasóleo, se por acaso vierem a ser proibidos de circular nas cidades onde habitam.
Há marcas mais expostas aos diesel do que outras, sendo certo que vai ser sempre mais difícil aos fabricantes de carros de luxo, ou pelo menos os de maiores dimensões, abrir mão deste combustível. Pelo que são maioritariamente estas marcas que estão mais expostas a pagar pesadas multas. Curiosamente, ou talvez não, os fabricantes que optaram mais cedo por motores eléctricos ou soluções híbridas, como é o caso da Renault-Nissan-Mitsubishi e Toyota-Lexus, são as que mais facilmente evitam as indesejáveis penalizações financeiras. A tabela revela quem mais vai pagar por desrespeitar os limites de CO2, sendo certo que lá figuram os três maiores grupos germânicos, bem como a Ford, com uma grande presença no mercado alemão, e a PSA, especialmente devido à recém-adquirida Opel.
Respeitar o limite das 95 g/km de CO2, previsto para 2021, equivale a consumir uma média de apenas 4,1 litros, para um automóvel a gasolina, ou 3,6 litros num diesel, o que aliado à introdução da norma WLTP, substancialmente mais restritiva do que a NEDC (até aqui utilizada), torna muito difícil a vida aos fabricantes de automóveis. Especialmente para os veículos equipados com motores a gasolina, cujos consumos determinados em condições reais de utilização terão imensa dificuldade em cumprir os limites impostos. A menos que apostem fortemente na electrificação, idealmente plug-in.