Pelo menos 70 pessoas morreram este sábado na Síria, na sequência de um ataque químico contra a cidade de Douma, um dos últimos enclaves de Ghouta Oriental ainda sob o controlo dos rebeldes sírios.

Segundo os Capacetes Brancos, uma organização não-governamental de apoio aos civis que opera nas zonas controladas pela oposição ao governo de Bashar al-Assad, é possível que o número de mortes suba.

A organização publicou vídeos e fotografias que mostram dezenas de crianças a serem assistidas por médicos, depois de terem sido atingidas pelo agente químico — que será gás sarin e terá sido largado de um helicóptero durante a noite de sexta-feira para sábado.

As imagens não são aconselháveis a pessoas mais sensíveis.

https://www.youtube.com/watch?v=htwokN-aqvA

O número de mortes não é ainda certo. O líder dos Capacetes Brancos, Raedal-Saleh, citado pela BBC, confirmou que “setenta pessoas sufocaram até à morte e centenas ainda estão a sufocar”. Já o Ghouta Media Center, num tweet, confirmou a morte de mais de 75 pessoas, acrescentando que pelo menos mil pessoas foram afetadas pelo ataque.

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Também o hospital de Damasco confirmou a morte de 70 pessoas. Segundo uma porta-voz do hospital citada pela BBC, os sintomas apresentados pelas pessoas assistidas incluem convulsões e espuma na boca, sintomas que são consistentes com a exposição a um agente nervoso.

Durante a noite de sábado e já neste domingo, os bombardeamentos continuaram na cidade, impedindo os serviços médicos de chegar ao contacto com as vítimas. Os Capacetes Brancos falam na ocorrência de mais 30 bombardeamentos só na manhã deste domingo.

Entretanto, a agência de notícias oficial do Estado sírio, a Sana, já veio negar a existência deste ataque químico, afirmando que o ataque foi “inventado” pelos rebeldes que ocupam aquela zona da cidade, “numa clara e falhada tentativa de obstruir os avanços do Exército Árabe Sírio”.

EUA criticam proteção russa a Bashar al-Assad. Reunião de emergência do Conselho de Segurança já foi pedida

Em reação ao ataque, nove países (França, EUA, Reuno Unido, Kuwait, Suécia, Polónia, Peru, Holanda, Costa do Marfim) pediram uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU para esta segunda-feira.

Na sequência das notícias referentes ao ataque, os Estados Unidos denunciaram a “proteção incondicional” da Rússia ao regime de Bashar al-Assad, exigindo o “fim imediato” do apoio.

“A proteção do regime de Assad por parte da Rússia e a sua incapacidade para impedir o uso de armas químicas na Síria está a levantar dúvidas sobre o seu compromisso em responder à crise global e às necessidades de não-proliferação”, afirmou a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Heather Nauert.

A mesma responsável sublinhou que a Rússia “violou os compromissos” que tem para com as Nações Unidas e “atraiçoou” a convenção sobre as armas químicas para proteger Assad.

A Rússia apressou-se a negar as acusações, através do general Yuri Yevtushenko, o chefe do departamento russo que está em negociações sobre o conflito na Síria.

“Assim que Douma for libertada”, a Rússia enviará para o local “especialistas em armas nucleares, químicas e biológicas para recolherem dados que confirmem que as acusações [dos EUA] são falsas”, afirmou Yevtushenko.

Por seu turno, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Yves Le Drian, declarou que a França assumirá “todas as suas responsabilidades” após este ataque químico na Síria, depois de Paris ter várias vezes afirmado que usaria a força militar em caso de utilização comprovada de armas químicas naquele país.

Papa Francisco: “Nada pode justificar” armas químicas

Já na manhã deste domingo, na habitual oração da Regina Coeli, o Papa Francisco afirmou que “nada pode justificar a utilização de tais instrumentos de extermínio contra populações indefesas”.

“Notícias terríveis de bombardeamentos chegam da Síria, com dezenas de vítimas, muitas delas mulheres e crianças. Notícias de muitas pessoas afetadas pelos efeitos de substância químicas contidas nas bombas”, disse o líder da Igreja Católica.

“Rezamos para que os líderes políticos e militares escolham o outro caminho, o da negociação, o único que pode conduzir a uma paz que não seja a da morte e da destruição”, rematou o Papa Francisco.

O ataque acontece dois meses depois do massacre de Ghouta oriental, considerado por muitos o “massacre do século XXI“, onde morreram 250 pessoas em bombardeamentos levados a cabo pelo exército sírio naquele enclave rebelde.

Este ataque acontece também precisamente um ano depois de um outro ataque químico ter matado 86 pessoas em Khan Cheikhoun– a 6 de abril de 2017.

O ataque químico mais mortífero da guerra civil da Síria aconteceu em setembro de 2013, também na zona de Ghouta, tendo matado centenas de pessoas — algumas estatísticas apontam hoje para que cerca de 1.400 pessoas tenham morrido nesse ataque.