Até há bem pouco tempo, o currículo de Cristina Cifuentes, presidente da Comunidade de Madrid, o que equivale a um governo regional, parecia ter um currículo bem apetrechado para o cargo. Afinal, só enquanto deputada na assembleia regional soma mais de 15 anos de experiência. Além disso, entre 2012 e 2015, foi delegada do Governo de Mariano Rajoy na Comunidade de Madrid. E, já depois de ter sido eleita para presidente da Comunidade de Madrid em 2015, tornou-se líder do Partido Popular (PP) em Madrid.
Porém, além de todas estas entradas no currículo de Cristina Cifuentes, há outra que a colocou no centro de uma enorme polémica, que além de comprometer a sua carreira política está agitar ainda mais as águas já de si turbulentas do PP de Mariano Rajoy. A controvérsia está em torno de um mestrado em Direito Autonómico na Universidade Rei Juan Carlos (URJC), curso no qual Cristina Cifuentes se terá diplomado graças a duas assinaturas falsas.
A notícia foi dada pelo El Diário, que deu conta de uma alteração na intranet da URJC. Ali, estava demonstrado que Cristina Cifuentes se tinha matriculado no mestrado de Direito Autonómico em 2011/12 — tendo pago os quase 1600 de propinas — mas que o curso não tinha sido terminado por haver dois elementos em falta: a conclusão da cadeira “Financiamento das Comunidades Autonómicas” e a tese de mestrado.
Porém, em 2014, sem que Cristina Cifuentes tivesse voltado à URJC, aqueles dois elementos em falta foram dados como concluídos e a política de Madrid recebeu a nota final de 7,5 no mestrado, numa escala de 0 a 10. Duas semanas depois, Cristina Cifuentes foi pagar a emissão do diploma do curso, que recebeu mais tarde. Segundo o El Diário, a fotografia que captou o momento em que Cristina Cifuentes recebeu o diploma era a sua imagem de perfil no Whatsapp até poucos dias antes da publicação que pôs este caso a descoberto.
O caso piorou ainda mais para Cristina Cifuentes quando, numa conferência de imprensa onde procurava afastar suspeitas de má conduta, a política do PP apresentou um documento onde duas das três assinaturas que comprovavam aquele grau académico tinham sido falsificadas, de acordo com o El Confidencial.
O documento, que foi produzido somente após os jornalistas do El Diário terem confrontado a URJC e Cristina Cifuentes, continua pelo menos duas assinaturas falsificadas eram atribuídas a duas professoras daquela universidade. Uma delas, Alicia de los Mozos, já apresentou queixa na polícia por falsificação da sua assinatura.
O caso está a ser investigado pela procuradoria de Móstoles, cidade onde se situa a reitoria da URJC, após ter recebido várias queixas, entre elas de associações de estudantes.
Cristina Cifuentes nega as suspeitas. “O título [académico] é perfeitamente real e legal. Nem o meu currífculo nem as minhas qualificações foram falsificadas”, garantiu a presidente da Comunidade de Madrid.
Como seria de esperar, o caso gerou uma catadupa de reações políticas. À esquerda, o Podemos pediu a demissão de Cristina Cifuentes e o PSOE (que também ficou sob fogo depois de o El Mundo dizer que a denúncia partiu de um seu militante que dá aulas na URJC) vai levar a votos uma moção de censura. E o Ciudadanos, depois de uma hesitação inicial, também já pediu a demissão de Cristina Cifuentes, cujo governo regional tem dependido dos seus votos, já que o PP não conseguiu uma maioria absoluta em 2015.
Da parte do PP e do Governo de Mariano Rajoy, além de consternação, há silêncio. Numa fase inicial, o líder do partido e Presidente de Governo manifestou “o apoio do PP à presidente da Comunidade de Madrid”. No entanto, é agora possível que esteja a preparar uma demissão de Cristina Cifuentes. De acordo com aquilo que o El País escreve esta quinta-feira, Mariano Rajoy estará disposto a abrir mão de Cristina Cifuentes para não perder o apoio do Ciudadanos em Madrid — e consequentemente, aquele governo regional.
Para piorar o cenário para o PP, caso de Cristina Cifuentes pode não ser o único deste tipo dentro daquele partido. Esta terça-feira, o vice-secretário de comunicação do PP, Pablo Casado, foi confrontado pelo El País sobre o facto de ter o mesmo curso que Cristina Cifuentes apesar de o seu nome não constar nas listas de alunos. Quando lhe perguntaram se tinha ido às aulas, disse: “Não me lembro sinceramente, era uma formação muito mais como se fosse um doutoramento, no próprio sistema o que interessava era os créditos e o tempo dedicado pelos alunos para conseguir os créditos. Havia tutorias, aulas, trabalhos”.