Em junho, a Procuradoria-Geral da República brasileira acusou o senador Aécio Neves, do PSDB, dos crimes de corrupção passiva e obstrução de justiça no âmbito da Operação Lava Jato. Esta terça-feira, no Supremo Tribunal Federal, os juízes Marco Aurélio (relator do inquérito), Alexandre de Moraes (presidente do coletivo), Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Luiz Fux concluíram, por unanimidade, que existem indícios de prática criminosa, declarando Aécio Neves arguido.
Também a irmã do senador, a jornalista Andréa Neves, o primo, Frederico Pacheco de Medeiros, e um ex-assessor do senador Zezé Perrella (PMDB), Mendherson de Souza Lima, foram constituídos arguidos, mas somente por corrupção passiva.
Esta é a primeira vez que Aécio Neves tem contra si uma ação penal neste escândalo de corrupção. Mas não é a primeira investigação que o envolve: o senador é alvo de outros oito inquéritos no Supremo Tribunal Federal.
Aécio Neves foi um dos principais atingidos pelo acordo de delação premiada, em maio do ano passado, da empresa braisleira JBS. Numa conversa gravada no Hotel Unique, em São Paulo, o senador pede a Joesley Batista, acionista da JBS, dois milhões de reais (cerca de 474 mil euros) para suportar as despesas com um advogado que o defendesse na Operação Lava Jato. A Procuradoria Geral da República diz que o dinheiro seria um suborno em troca de atuação parlamentar favorável à JBS.
O senador garante que o negócio, privado, com Joesley Batista, dizia respeito à venda de uma casa. Certo é que o dinheiro do pagamento foi mesmo efetuado. Segundo a acusação, foram entregues quatro parcelas em dinheiro vivo. Pelo menos um dos pagamentos (recebido pelo primeiro de Áecio Neves, Frederico Pacheco) teve a sua entrega filmada, à distância, pela Polícia Federal.
Aécio também é acusado de tentar obstruir as investigações da Operação Lava Jato através da sua posição no Congresso. No ano passado, o senador chegou a ser afastado do mandato pelos juízes do Supremo Tribunal Federal, mas, posteriormente, o Senado reverteu a decisão.
O processo entra agora na fase de instrução. Mas a participação do senador do PSDB nas eleições deste ano dificilmente será impedida pela Lei da Ficha Limpa: a norma não impede a participação de arguidos, apenas de condenados.