Político e empresário, já foi ministro da Administração Interna, liderou a empresa onde Pedro Passos Coelho trabalhou e é agora o escolhido por Rui Rio para coordenar a área da Defesa no Conselho Estratégico, uma espécie de “governo sombra” do partido. Um convite que Ângelo Correia aceitou porque “é essencial ao PSD ter uma estrutura que prepare o partido para governar. E preparar no sentido de seguir um programa com lógica, consistência, método”, justifica no arranque de uma entrevista ao Diário de Notícias.
Embora não lhe queira chamar “governo sombra” — porque, diz, isso “pressupunha que as pessoas que integrassem o órgão seriam uma espécie de pré-ministros se o PSD ganhasse o poder” — reconhece que há nessa equipa “pessoas com capacidade e desejo de executar missões preparatórias, que um governo PSD possa executar, sem que o integrem”. O atual governo é, aliás, um dos alvos dos comentários de Ângelo Correia nesta entrevista. Primeiro, por conceder um tempo “excessivamente curto” para que os partidos possam dar uma resposta ao Programa de Estabilidade apresentado pelo Governo até ao Orçamento do Estado para 2019.
O tempo que nos está a ser dado e até aos agentes políticos para dar essa resposta [ao Programa de Estabilidade] é excessivamente curto e não sei se teremos todos os instrumentos para fornecer uma solução positiva. Mas mesmo que não tenhamos a perfeição adequada e uma resposta otimizada, o PSD não fugirá dos problemas”, assume.
Depois, pelas questões económicas. Ainda que reconheça uma melhoria nas finanças públicas e na economia em geral, destaca que “o problema de dívida pública continua por resolver”. E mesmo que “o crescimento de 2,7% seja melhor do que o desvio que Portugal tinha desde o princípio do século até 2015 em relação à Europa”, relembra que há muito por fazer.
Sobre Mário Centeno não tem dúvidas de que “é o ministro mais importante” do governo de António Costa. “Em alguns casos é capaz de condicionar as outras políticas.”, reforça.
Não sei se Mário Centeno faz com Costa o que Vítor Gaspar fazia com Passos Coelho. Deve condicionar Costa como Gaspar fazia com Passos. E suspeito que o grau de condicionamento é grande e tem uma influência decisiva sobre o desempenho deste governo.”
O cenário de crise política que tem gerado alguns receios nas últimas semanas, sobretudo após os avisos e alguns desacordos entre os parceiros de esquerda do governo, não é algo que Ângelo Correia considere viável nesta fase — nem sequer desejável. Mesmo que o próprio PSD, à semelhança do que Bloco de Esquerda e Partido Comunista têm exigido, também reclame que os excedentes orçamentais se possam aplicar nos serviços públicos — mas isso não deve gerar uma crise, sustenta.
Pensar que há alguma alteração no quadro político não faz qualquer sentido. Devemos deixar os três partidos que fizeram um acordo de governo ir até às eleições assim. Não prevejo que nenhum deles queira sair desse acordo até lá. Agora os partidos vão puxar a brasa à sua sardinha a pensar no potencial de voto.”
Neste campo, remata, o Presidente da República continua a ser um elemento fundamental de equilíbrio. Marcelo, que considera uma “pessoa excecional e um elemento de distensão nacional” deve focar os partidos sobre os problemas essenciais e esse trabalho tem sido feito, com sucesso, nos últimos dois anos, defende.
Ângelo Correia será ministro da Defesa no “governo sombra” de Rui Rio
Na área da Defesa, e em concreto sobre o conflito na Síria, Ângelo Correia acredita que a recente investida em reação ao ataque químico no país “foi uma resposta ao regime sírio e ao facto de ter ultrapassado por duas vezes as linhas vermelhas das armas químicas. Não vejo Portugal diretamente envolvido e quanto ao mundo inteiro, sobre a guerra, não devemos estar preocupados por enquanto”, sustenta.