Pela terceira vez em pouco mais de três meses de regime cambial flutuante em Angola, um leilão de divisas promovido pelo banco central angolano voltou esta semana a não resultar em qualquer alteração na taxa de câmbio.

A informação resulta de dados divulgados pelo Banco Nacional de Angola (BNA), compilados esta quinta-feira pela agência Lusa, com base em 18 leilões de divisas, dos quais apenas três terminaram sem qualquer alteração na taxa de câmbio oficial, entre kwanza e euro.

O último desses leilões, envolvendo 17 bancos comerciais, aconteceu na terça-feira, 17 de abril, com o BNA a colocar 100 milhões de euros para assegurar a importação de matéria-prima, acrescidos de 50 milhões de euros para cobertura da importação de mercadoria diversa, incluindo mobiliário, equipamento doméstico, vestuário e calçado. “Desta sessão não resultou qualquer alteração da taxa de câmbio”, esclarece o banco central.

Anteriormente, entre 5 e 11 de abril, outros dois leilões realizados pelo BNA resultaram ambos na depreciação do kwanza, em menos de uma semana, acumulando a moeda angolana uma perda de 31% desde a entrada em vigor do regime flutuante cambial, em que as taxas de câmbio são formadas nos leilões de divisas.

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Esta depreciação, que foi mais acentuada em janeiro e que desde fevereiro tem rondado um ritmo de quase 1% por semana, foi confirmada pela Lusa com cálculos feitos a partir das taxas cambiais oficiais do BNA, desde 1 de janeiro.

Neste dia, a taxa de câmbio média do euro ronda os 268,4 kwanzas, quando a 1 de janeiro era de 185,40 kwanzas, o que representa uma depreciação de 30,9% no espaço de três meses e meio. Já o dólar norte-americano é cotado à taxa média de 216,1 kwanzas, quando há três meses valia 165,92 kwanzas, uma depreciação, neste caso, superior a 23%.

No leilão de divisas desta semana voltaram a ser aplicadas as regras anunciadas no final de janeiro pelo governador do BNA, José de Lima Massano, alterando os limites das propostas que podiam ser apresentadas pelos bancos, que depois são utilizadas para formar a taxa de câmbio do kwanza face ao euro.

A 18 de janeiro, um outro leilão ao abrigo deste modelo — em que os bancos apresentam propostas de compra de divisas em kwanzas — foi suspenso pelo BNA, por as propostas terem ultrapassado o limite máximo (da cotação) definido pelo banco central para estas vendas, acima dos 300 kwanzas por cada euro.

Na reação, o BNA convocou os bancos comerciais para uma reunião, no dia seguinte, e revelou os novos contornos do modelo de leilão de divisas (euros), em que as propostas da “margem máxima” sobre a taxa de referência — ou seja o valor que os bancos podem colocar como apreciação ou depreciação da taxa de câmbio –, “não pode ser superior nem inferior a 2%”.

“Significa que em qualquer um dos leilões, a variação máxima que poderá acontecer será de 2%, não mais, não menos”, avançou o governador do BNA, no final daquela reunião. Desde então, a depreciação do kwanza face ao euro e ao dólar norte-americano tem ficado à volta de 1% por semana.

No modelo cambial anterior, até 9 de janeiro, a cotação era fixada diretamente pelo BNA, com o kwanza indexado ao dólar norte-americano, mas passou então a ter moeda europeia como referência para o mercado nacional.