Os utentes dos centros de saúde são cada vez mais velhos, mais dependentes, mas também mais preocupados com a sua saúde e da sua família, disse à agência Lusa o presidente da Associação de Medicina Geral e Familiar.
Comparando com os utentes que há 10 anos recorriam aos centros de saúde, Rui Nogueira disse que “hoje há mais pessoas mais envelhecidas e especialmente mais pessoas dependentes, o que obriga a sociedade, e não apenas os serviços de saúde”, a ter uma “maior preocupação” com serviços de apoio a estes doentes.
Rui Nogueira, que falava à agência Lusa a propósito do Dia Nacional do Utente de Saúde, que se assinala na quinta-feira, lembrou que há uma década decorria a reforma dos cuidados de saúde primários e ainda “não se falava em crise”.
“Era uma situação muito diferente da situação que vivemos pós-crise”, disse, sublinhando que “há uma fronteira antes e depois da troika”.
Apesar de as pessoas sempre se terem preocupado com a saúde, “hoje temos consciência que há mais pessoas preocupadas”, “mais responsáveis pela sua saúde” e com “uma preocupação grande em relação a atividades preventivas”, como fazer rastreios oncológicos.
Também manifestam uma maior preocupação com a saúde dos filhos, dos maridos e dos pais idosos, adiantou o presidente da Associação de Medicina Geral e Familiar (AMGF).
Dados da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) indicam que, entre 2014 e 2016, aumentou o número de utentes que recorre aos Agrupamentos de centros de Saúde (ACES) com doenças crónicas como diabetes (6,9% em 2014 e 7,7% em 2016), hipertensão arterial (19,3% – 21,4%) e neoplasia maligna (2,9% – 3,6%).
Os mesmos dados, do relatório de Acesso a cuidados de saúde nos estabelecimentos do SNS 2016, indicam uma descida no número de utentes inscritos nos centros de saúde, passando de 186.488, em 2014, para 182.466 em 2016.
Segundo Rui Nogueira, esta diminuição prende-se com “o aperfeiçoamento do sistema de registo”.
“Esta limpeza de ficheiros [do SNS], como ficou conhecida, traduziu-se numa pequena diminuição no número de utentes, mas que está de novo a aumentar”, disse o médico, apontando como uma das razões para essa subida o regresso de algumas pessoas do estrangeiro e que voltaram a inscrever-se.
Este aumento está a acontecer principalmente no Algarve e na região de Lisboa e Vale do Tejo, “o que é significativo porque são as duas regiões onde há mais falta de médicos de família”, observou Rui Nogueira.
De acordo com o Retrato da Saúde 2018, um documento elaborado pelo Ministério da Saúde, o número de consultas nos centros de saúde diminuiu em 2017, apesar de ser o ano em que se atingiu a maior percentagem de portugueses com médico de família.
Segundo o documento, no ano passado, 92,7% dos portugueses já tinham médico atribuído, o valor mais alto de sempre.
O documento adianta ainda que, no ano passado, houve 30.665.000 consultas médicas nos cuidados de saúde primários, quando em 2016 se tinham ultrapassado os 31 milhões. Ainda assim, em 2016 e em 2017, o número de consultas foi sempre superior aos dos anos de 2012, 2013, 2014 e 2015.