28 de junho de 2000. Para muitos portugueses esse dia ficou marcado pela mão/braço/extensão-do-corpo-que-não-é-nenhuma-das-outras-duas de Abel Xavier. Para outros, que gostam de ver o lado bonito das coisas, celebrar as alegrias enquanto ainda são momentos de esperança e guardá-las para a eternidade, esse final de tarde de verão foi memorável por causa do golaço de Nuno Gomes.

Nuno Gomes, ou Golos, que esteve ligado a momentos tão bonitos da selecção, como este e este), marcou presença no restaurante O Reserva — não para fazer uma coisa que fazia muito bem, o “jogar de costas para a baliza” – na apresentação do Offside Lisboa, um Festival de Cinema e Futebol, perdão, o primeiro Festival de Cinema e Bola (qual “futebol”, é “BOLA”) de Lisboa. A festa terá lugar em diversos locais e acontecerá no fim de semana da final da Liga dos Campeões, entre 25 e 27 de maio.

Nuno Gomes no centro, o jornalista Rui Miguel Tovar a seu lado, e a extremos João Tibério, Carlos Miranda e Aires Gouveia, os três amigos que desde 2012 que andavam com esta ideia na cabeça: juntar duas coisas que gostam muito: cinema e bola. Viam isto a acontecer noutras cidades, em Berlim (11mm), Nova Iorque, (Kickin & Screening), Paris (La Lucarne), Rio de Janeiro (Cinefoot) e o Offiside Fest em Barcelona, de onde emprestaram só o nome, pois têm o desejo de construir um festival à sua imagem.

[o trailer de “Até lá Abaixo“, o filme de abertura]

https://www.youtube.com/watch?v=pgsW69uTwEY

O Offside Lisboa trará filmes, longas e curtas, inéditos em Portugal, à volta do universo da bola, com o desejo de desempoeirar o negativismo e a má-onda crescente que se vive em volta do desporto-rei. Por cada comentador que consegue passar dez minutos a falar sobre um “penalty da televisão” (é possível que, se googlar, não dê em nada, mas é algo que se diz na gíria da análise VARial nos canais portugueses) e cem pessoas que o levam a sério, deve existir uma que está mais preocupada com o lado bonito da coisa, da bola a rolar, celebrar um golo e não um penalty não marcado contra o adversário. Não é só para esses que o Offside Lisboa se quer mostrar, é para criar mais como esses que este festival quer existir.

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Offside: Lisboa vai ter um festival de cinema dedicado ao futebol

A sessão de abertura acontece com uma estreia mundial, o documentário “Até Lá Abaixo – O Outro Lado do Mundial de Futebol em África”, de João Silva Fontes, às 21:30 de dia 25 no Campo Polidesportivo de Santa Catarina. “Até Lá Abaixo” relata uma viagem por diversos países do continente africano e a procura da relação com as populações locais com o futebol; e encerra com “George Best – All By Himself”, de Daniel Gordon, no dia 27 às 18:45 no Museu Nacional do Desporto. As sessões terão lugar em dois dos quatro locais onde decorrerá o certame. A acção espalhar-se-á também pelo O Reserva e pela Academia de Recreio Artístico na Rua dos Fanqueiros. Locais de ver bola, jogar à bola ou para se aprender alguma coisa sobre bola.

[“George BestAll By Himself“, o filme de encerramento]

Outros destaques passam por “Crazy For Football”, de Volfango De Biasi, “El Zurdo: The Revenge Of The Underdog”, de Roberto Cox, “A Máquina”, de Miguel Guimarães e Daniel P. Sousa, ou “Juventus Rumo A Tóquio”, de Andrea Kurachi, Helena Tahira e Rogério Zagallo.

E já que há transmissões em ringues de futebol, porque não também incluir um torneio de futebol no Offside? É isso que acontecerá no dia 26 de manhã pelas 10 horas no Polidesportivo de Santa Catarina. Jogos de 5 para 5 de 10 minutos cada, sem VAR. Só o entusiasmo de craques da rua. À noite, festa comunal para ver a final da Liga dos Campeões em conjunto, na Academia de Recreio Artístico. Às 19:45, claro, hora Champions.

As actividades paralelas estendem-se também para O Reserva, onde às 20:30 de domingo haverá um jantar com a intenção de juntar a alegria dos petiscos da bola com a mostra de algumas de algumas curtas-metragens do programa do festival. A ideia é que dure noventa minutos, mas parece que a coisa se vai estender além disso. É impossível antecipar uma partida. E há mais, como debates e exposições de fotografia no Museu Nacional de Desporto. O programa inteiro pode ser consultado no site do festival.

[“A Máquina”, de Miguel Guimarães e Daniel P. Sousa]

Após a apresentação do programa, Rui Miguel Tovar perguntou a Nuno Gomes sobre o momento da sua carreira que daria para um filme. O antigo avançado não hesitou e começou logo a falar da última semana na Fiorentina, em 2002, quando a equipa estava em estágio e os rumores de que o clube estava à beira da falência cresciam de dia para dia e alguns jogadores abandonavam o centro de estágio sem dizer nada.

Fica a ideia. E fica também outra: os ingleses adoram mitificar os seus momentos e não faltam documentários em como as lágrimas de Gascoigne no Itália 90 mudaram o futebol para sempre; os portugueses podiam pegar nos três secos do Sérgio Conceição contra a Alemanha no Euro 2000 e de como isso mudou a formação e o futebol na última década e meia. Sem esquecer de como as madeixas de Conceição em 2000 influenciaram Cristiano Ronaldo em diferentes momentos da sua carreira. Esse pode ser uma curta. O Offside Lisboa ainda não começou e já está a dar ideias.