Novas ferramentas de inteligência artificial (IA) nas redes sociais do Facebook, como é que a empresa melhora a tecnologia de reconhecimento de imagem com as fotografias públicas do Instagram e os avanços que a empresa tem feito em realidade virtual e aumentada. No segundo e último dia do F8, a grande conferência anual do Facebook, o palco foi de Mike Schroepfer, o diretor de tecnologia do Facebook.
Em conversa com o Observador e outros jornalistas internacionais, falou sobre as novidades apresentadas esta terça-feira e como é que o Facebook lida tecnicamente com os desafios que enfrenta. Além de responder a questões quanto às novidades apresentadas esta quarta-feira, afirmou que não seria por se acabar com os serviços que o Facebook disponibiliza que se resolviam os problemas do mundo.
E se fechássemos todos os nossos serviços? Acham que isso acabava com o discurso de ódio, com a violência e com todas as coisas terríveis que estão a acontecer no mundo? Claro que não. Isso acontece em imensos sítios. Isso significa que devemos fingir que não existe? Claro que não. Estamos mesmo focados em garantir que essas coisas não acontecem na nossa plataforma”, disse Mike Schroepf, diretor de tecnologia do Facebook, na apresentação do F8 sobre como qual é o papel da sua empresa após as polémicas em que está envolvida.
Nas audições no Congresso americano, na sequência do caso Cambridge Analytica, a tática dada por Mark Zuckerberg para resolver os problemas do Facebook passa apenas por uma inovação tecnológica: a inteligência artificial. Estes algoritmos já são utilizados diariamente pela empresa nas várias redes sociais que detém, como o Instagram e o Facebook. O objetivo é, rapidamente, censurar discurso de ódio, mensagens terroristas e abusos da plataforma, mas, como divulgado no F8, o Facebook continua a tornar esta tecnologia mais competente para poder reconhecer imagens como os seres humanos e tornar a realidade virtual mais eficiente.
Para isso, os investigadores do Facebook estão a ensinar a I.A. com a maior base de dados que têm, as redes sociais da empresa, em especial o Instagram (ao todo são 3,5 mil milhões de fotografias que estão disponíveis publicamente). “Estamos a utilizar imagens que são partilhadas publicamente no Instagram para treinar o sistema”, assumiu o responsável de tecnologia do Facebook. Questionado sobre estarem a utilizar conteúdos dos utilizadores para melhorar uma tecnologia que estão a desenvolver, Schroepf afirmou que é feita “uma extensa revisão sobre a privacidade” dos conteúdos para saber se podem utilizá-los, reiterando que só o fazem com imagens que são partilhadas publicamente.
A inteligência artificial é a melhor ferramenta que temos para manter a nossa comunidade segura”, afirmou Mike Schroepf na apresentação do F8.
Mesmo podendo não ter perfeita noção (quem lê os termos de utilização dos sites, não é?), ao partilhar uma imagem publicamente, ou seja, sem ser só para os amigos na rede social ou em contas fechadas no Instagram, está a ajudar a IA do Facebook a perceber o que é o conteúdo da imagem. Graças a isso, a empresa tem uma tecnologia que “já é 85,4% eficaz” a dizer o que está na imagem.
O auxílio dos utilizadores vai mais longe ao colocarem hashtags, porque costumam dizer o que é a imagem. Como explicado na conferência do F8, tem sido uma ferramenta valiosa para a I.A. ter passado a conseguir dizer qual o monumento que está numa imagem, e não só dizer que se trata de um edifício ou estátua. Por isso, o Facebook anunciou que vai disponibilizar “nos próximos meses” o PyTorch 1.0, uma ferramenta para programadores poderem utilizar esta tecnologia para outros usos.
https://www.facebook.com/Engineering/videos/10156359820477200/
No final da apresentação do F8, Schroepf falou da grande aposta da empresa, a realidade virtual. Este F8 pode ter ficado marcado pelo lançamento dos Oculus Go, os primeiros óculos de realidade virtual sem fios lançados pelo Facebook. Mas este é o primeiro passo da empresa que tem como objetivo por toda a gente a utlizar a realidade virtual (RV).
Um dos anúncios que fez foi que os investigadores da rede social conseguiram criar um sistema que recria no mundo virtual espaços do mundo real. O objetivo? Entrar neles em qualquer lugar, com dispositivos RV. Além disso, o Facebook está a desenvolver uma aplicação para recriar virtualmente locais a partir de fotografias (sim, estão a tentar fazer com que se possa visitar locais de fotografias antigas).
Outra das novidades mostradas foram os avanços feitos a criar avatares dos utilizadores. Atualmente, no mundo virtual, é possível interagir com outros utilizadores do Facebook, através do Spaces. Mas, mesmo estando virtualmente no mesmo sítio com alguém que está no outro lado do mundo, o máximo que a rede social consegue é criar um boneco animado parecido com o utilizador. O objetivo é que o nosso avatar possa ser completamente igual a como somos na vida real. Para isso, o Facebook está a desenvolver tecnologia que, a partir de câmaras, consegue recriar modelos virtuais exactamente iguais a nós para serem utilizados neste espaço.
Quanto fui para o Facebook, faz dez anos, não tínhamos um modelo de negócio ao construirmos o Messenger até termos mais de mil milhões de utilizadores. A mesma coisa com o WhatsApp e com o Instagram também. O objetivo costuma ser criar uma boa experiência para o utilizador, acertar e, depois, implementamos um modelo de negócio por cima disso”, explicou Schroepf.
Para já, ainda é muito cedo para começar a pensar em cenários como Matrix, até porque a realidade virtual só vai começar a ser rentável para o Facebook dentro de “cinco a dez anos”. O executivo assume que “anúncio podem ser uma possibilidade”, mas para já “ainda é preciso fazer chegar o produto ao consumidor”.
Pode ver, no vídeo abaixo, a apresentação completa de Mike Schroepf no segundo e último dia do F8.
https://www.facebook.com/FacebookforDevelopers/videos/10155609688618553/
* O Observador esteve no F8, em São José, na Califórnia, a convite do Facebook