Rebobinando o filme, as seis vitórias consecutivas do Sporting após o terramoto criado no seguimento da derrota em Madrid para a Liga Europa foram quase como um penso que conseguia tapar as óbvias feridas que ainda estavam abertas no seguimento da guerra aberta entre o balneário e o presidente, Bruno de Carvalho. Conforme explicaram ao Observador, a chave para perceber o que se passava nunca foi seguir tudo o que foi escrito mas sim procurar o que estava por escrever. E é aqui que entroncamos em Bruno de Carvalho e Jorge Jesus.

No meio de toda a turbulência, houve um ponto que nunca ficou bem explicado e que assume especial importância neste contexto: qual foi o papel do treinador no dia do regresso de Madrid, quando surgiu a publicação de grande parte dos jogadores que levou à suspensão posteriormente retirada pelo presidente leonino? De acordo com fontes contactadas, Jesus terá chegado a colocar em causa a ideia do presidente em reunir com o plantel apenas a seguir ao jogo com o P. Ferreira, algo que pode explicar as palavras de Bruno de Carvalho em entrevista ao Expresso.

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“Uma pergunta mais inteligente seria: quem é o líder do balneário? Então acha que um treinador permitiria que os jogadores fizessem aquilo que se escreveu ao seu presidente? Que os jogadores tinham virado as costas ao presidente, que se tinham recusado a treinar, e por aí fora. Só pode ser invenção da comunicação social, não é? Porque se fosse verdade era gravíssimo. Tem tudo de ser invenções, não é? Porque senão era mau sinal haver um líder de balneário assim. E o líder de balneário é o treinador (…) Se geriu bem todo esse processo? Partindo do princípio de que é tudo mentira, menos o post, sim, geriu bem”, comentou sobre o técnico leonino. “Você acredita que alguma coisa acontece no balneário sem o OK do líder? Um líder lidera. Imagine que no meu Conselho de Administração acontecia uma série de coisas e atitudes para as quais eu não tinha dado o meu OK. Se isso acontecesse, eu não era líder algum”, referiu o líder verde e branco este sábado.

Durante o último mês, sobretudo depois das vitórias do Sporting frente a P. Ferreira, Atl. Madrid (apesar de ter sido eliminado da Liga Europa), Belenenses e FC Porto, as coisas foram acalmando para o exterior e mudando em termos internos. Por exemplo, nas pressões (sem sucesso) para renovar contrato com Jorge Jesus, treinador que acabou por sair por cima após a crise que se viveu em Alvalade durante alguns dias e que termina o seu vínculo com os leões em 2019. Um post recente de Rui de Carvalho, pai do presidente leonino, acabou por reacender os ânimos.

Bruno de Carvalho revela pedido de cimeira do Benfica e comenta declarações de Jorge Jesus

“Ponto número um: o pai do presidente como sócio tem direito a ter opinião. Ponto número dois: o meu presidente é o filho e tenho a certeza que não se revê naquilo que o pai disse. Como é normal muitas vezes entre pais e filhos… E em relação a essa situação, tenho a certeza que o presidente não se revê”, referiu Jesus na conferência antes da partida para a Madeira. “Tem o direito de ter opinião. Também tinha pedido internamente às pessoas para não comentarem o caso e, por isso, tenho pena que comentem. Não estou muito de acordo com o que o meu pai disse, mas tenho orgulho por ser meu pai. Ao menos deu a cara. Jorge Jesus também não gosta, apesar de serem amigos, quase irmãos, das alarvidades de Octávio Machado, Rui Santos e João Bonzinho. Tenho a certeza que não se revê nas alarvidades e mentiras”, salientou Bruno de Carvalho, numa entrevista posterior à Sporting TV.

Depois da derrota na Madeira com o Marítimo, polémicas à parte e independentemente do resultado na final da Taça de Portugal do próximo domingo, frente ao Desp. Aves, algo vai mudar. Resta saber a dimensão da mudança.

Ao ficar de fora da pré-eliminatória da Liga dos Campeões na próxima temporada, a administração da SAD verde e branca já sabe que, à partida, ficará privada de uma fatia sempre importante de receitas, ao mesmo tempo que, não sendo um facto determinante, essa ausência poderá afetar vários outros fluxos de receitas a nível direto e indireto. Partindo deste pressuposto, existem dois caminhos possíveis: adequar os custos do plantel, nomeadamente no plano salarial, a uma nova realidade de receitas; ou encaixar verbas extra em mais valias com venda de alguns ativos. Até porque, também aí, parecem existir jogadores apostados em mudar de ares no final da temporada.

“As críticas fazem parte e os jogadores vivem numa bolha (…) Há uma superproteção dos jogadores e eles com muita facilidade vão para um patamar de total incoerência. Se calhar os jogadores teriam outro comportamento em campo se não fosse essa teoria absolutamente mirabolante de que são um mundo à parte que tem de ser altamente protegido. Para caminharmos todos juntos, tem de haver um contacto que [não existe porque] os treinadores e os jogadores portugueses não têm essa cultura. Se voltaria a escrever aquele post dos mimados? Não, até porque apaguei a página do Facebook. Arrependido? Não é uma questão de arrependimento (…) Não procuro o amor dos jogadores, porque o meu dever é defender por um lado os interesses do clube e, por outro, gerir as emoções dos futebolistas. Se ficou combinado que nos iríamos reunir no dia seguinte, porque é que escreveram aquele post? Obviamente não me senti bem com aquilo. Precipitei-me mas não fui o único (…) A relação é esta: há uma hierarquia que tem de ser respeitada e um líder que tem de dizer às vezes que não”, destacou Bruno de Carvalho, ausente do jogo decisivo na Madeira por ter ficado em Gondomar para a final da Taça do futsal.

Rui Patrício, um dos principais visados do descontentamento dos adeptos leoninos ainda na Madeira, é um dos jogadores na porta de saída. William Carvalho, o outro capitão, encontra-se na mesma situação. Mas há mais, como Bas Dost, a principal referência ofensiva verde e branca. Bruno de Carvalho, por seu turno, tem uma ideia muito clara (e que já demonstrou desde que chegou a Alvalade): qualquer saída só irá acontecer pela verba estipulada. Depois, a questão técnica – ficará Jorge Jesus como treinador do Sporting? Essa é a principal dúvida. Com um outro ponto: não foi por acaso que o presidente leonino voltou a falar do Benfica este sábado, revelando uma abordagem de um “sportinguista notável” para fazer uma cimeira com o homólogo encarnado, Luís Filipe Vieira.

Certezas, para já, apenas uma: a derrota na Madeira e consequente terceiro lugar fora da próxima edição da Liga dos Campeões vai provocar mais ondas de choque em Alvalade, como ficou bem visível no descontentamento mostrado pelos adeptos verde e brancos após o final do jogo, à saída do estádio e também no aeroporto. Depois da Taça de Portugal, no próximo domingo, muitas coisas estarão prestes a mudar no Sporting.

Estava tudo preso por arames. E o Sporting acabaria pendurado (a crónica do Marítimo-Sporting)