A maioria dos europeus não confia muito nos produtos chineses, a menos que sejam baldes de plástico e, no limite, um chop suey de vaca com molho de ostras, mas feito cá, no Velho Continente. Vem isto a propósito da Volvo, que foi comprada por Li Shufu, dono da Geely e maior accionista da Mercedes, que no momento da compra se comprometeu a manter a marca sueca na… Suécia. Mas como os custos da mão-de-obra nos países nórdicos estão pela hora da morte, é mais que provável que este compromisso não dure para sempre. Daí que recentes declarações do vice-presidente de design da Volvo, Robin Page, possam ser entendidas como uma espécie de aviso à navegação. Mas já lá vamos.

O trajecto do construtor sueco, nos últimos anos, tem sido de uma eficácia impressionante. Os produtos estão em perfeita sintonia com o mercado, há chassis novos, mecânicas actuais, a gasóleo, a gasolina e híbridos, com os eléctricos a um passo de distância. Shufu teve o mérito de acreditar no potencial da marca, pagar e exigir resultados, mas, acima de tudo, deixar a equipa da Volvo determinar a sua estratégia e dirigir o seu destino. Contudo, não é menos verdade que os responsáveis pela marca sueca são empregados de Shufu e para este, no dia em que a produção dos Volvo passe para a China, os lucros anuais vão disparar de forma nunca vista. Para tal, os carros têm de continuar a ser aceites pelos clientes europeus, o que passa por garantirem a mesma ou um melhor nível de qualidade.

Quando Robin Page afirmou, numa entrevista à revista GoAuto, que “os Volvo feitos na China têm melhor qualidade do que os fabricados na Europa”, poderá está a testar as águas e a dar o pontapé de saída para o que certamente virá aí. Page vai mais longe e defende que a vantagem das linhas de produção chinesas provém do facto de se “utilizar menos robots e mais pessoas, o que dá a possibilidade de melhorar as tolerâncias e as folgas e assim conseguir melhores ajustamentos”.

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Os europeus e americanos já adquirem – e gostam – de muitos produtos feitos na China, contando que não sejam vistos como chineses, no que respeita à concepção e ao controlo de qualidade. Basta pensar nos iPhone, que são produzidos ali, apesar de concebidos nos EUA.

Ora, a Volvo já produz na Bélgica os XC40 que vende na Europa, da mesma forma que fabrica na China os S90 que vende nos EUA. E, já em 2019, vai iniciar a comercialização do primeiro Volvo eléctrico, construído com base na plataforma CMA – que partilha com a Link & Co (outra marca da Geely) –, mas qualquer decisão que leve a que a marca deixe de ser considerada sueca poderá inverter o caminho que permitiu que, nos últimos anos, a Volvo tenha começado a ser inserida na shopping list de alguns condutores que procuram uma marca de luxo, por oposição aos tradicionais alemães.

Robin Page testou a reacção do público e, agora, vamos ter de esperar para ver se Shufu gostou das reacções.

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