Passavam poucos minutos das 17 horas quando cerca de 50 pessoas invadiram a Academia do Sporting, em Alcochete. Eram 18h40 quando Bruno de Carvalho chegou ao centro de estágios dos verde e brancos. E pouco passava das 22 horas quando o presidente do Sporting surgiu na Sporting TV, através de uma mensagem gravada antes em Alcochete, para protagonizar a primeira reação oficial do clube às agressões aos jogadores, treinadores e funcionários depois do comunicado que saiu momentos depois do ataque.

A declaração de Bruno de Carvalho, ainda que mais curta do que o habitual, foi recheada de mensagens para o que foi dito durante o dia na comunicação social e ainda incluiu menções ao alegado escândalo de corrupção em que o andebol do Sporting foi envolvido.

Estas são as sete frases chave da reação de Bruno de Carvalho aos atos de violência em Alcochete: e o que cada uma delas quer dizer.

O que se passou aqui foi um ato criminoso”.

Logo no início da declaração, o presidente do Sporting deixa bem claro qual vai ser o tom da mensagem. Para Bruno de Carvalho, “há muito tempo que se fala na questão da violência” e o que aconteceu esta terça-feira na Academia do Sporting foi um crime. Aproveita ainda para lançar uma farpa ao presidente do Instituto Português do Desporto e da Juventude, que “insiste em não fazer nada sobre as claques ilegais”. De recordar que todas as claques do Sporting estão legalizadas; esta será, eventualmente, uma menção às claques do Benfica, essas sim, ilegais.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Claro que vamos estar no Jamor, os jogadores estão tristes com o que aconteceu mas querem jogar”.

A garantia que todos os adeptos do Sporting queriam ouvir. Durante a tarde e depois das agressões, as notícias de que os jogadores do Sporting poderiam recusar entrar em campo no domingo, na final da Taça de Portugal, multiplicaram-se, havendo pelo menos um que queria sair de Lisboa. Segundo Bruno de Carvalho, os atletas estão dispostos a defrontar o Desp. Aves e lutar pela última competição da temporada.

[Veja no vídeo as críticas que incomodaram Bruno de Carvalho]

Durante a tarde, a imprensa argentina disse que Marcos Acuña e Rodrigo Battaglia iam pedir a rescisão unilateral do contrato; mais tarde, falava-se que outros jogadores já tinham contactado os seus advogados para averiguarem se existiriam bases para pedir a rescisão por justa causa. O Sindicato de Jogadores mostrou-se disponível para ajudar. Entretanto, quer Bruno de Carvalho, quer Jaime Marta Soares apagaram esse cenário, com o presidente da Mesa da Assembleia Geral a salientar que “nenhum jogador falou na hipótese de não jogar ou ir embora”.

Já ouvi uma série de teorias mirabolantes, que este era o meu modus operandi, que não deixo falar quem quiser falar mal…o meu modus operandi não é ver os meus jogadores e o meu staff agredidos, são a família que escolhi”.

A resposta a todas as alegações, suposições e teorias publicadas durante o dia na comunicação social. A falta de intervenção dos seguranças da Academia do Sporting e a aparente entrada e saída tranquila dos 50 indivíduos que agrediram jogadores e funcionários suscitou dúvidas sobre uma eventual mão por detrás do ataque.

A isso, juntaram-se dois fatores: o facto de nenhum dirigente leonino estar em Alcochete quando ocorreram os incidentes e a primeira tentativa de agressão, no domingo, quando William Carvalho e Rui Patrício foram surpreendidos por adeptos no interior das garagens do Estádio José Alvalade.

Isto é um caso de polícia, não é desportivo”.

A segunda referência à polícia e ao crime. Bruno de Carvalho recordou um episódio semelhante em Guimarães, em janeiro, quando cerca de 30 adeptos entraram num treino do clube vimaranense com o objetivo de agredir alguns jogadores. “É mais fácil bater no Sporting”, defende o presidente verde e branco.

Ninguém imaginava que pudesse haver um caso destas dimensões, mas desde domingo, na Madeira e após a chegada a Lisboa, que se percebia a tensão. Aí, logo após o final do jogo com o Marítimo, elementos ligados à Juventude Leonina tentaram chegar a vias de facto com os jogadores no Aeroporto Cristiano Ronaldo. Mais tarde, alguns adeptos tentaram agredir William e Rui Patrício nas garagens de Alvalade.

Aliás, a relação jogadores-adeptos estava beliscada desde a crise de abril, depois do jogo com o Atl. Madrid, quando a equipa entrou em rota de colisão com Bruno de Carvalho. Ainda antes da derrota na Madeira, a claque leonina atirou dezenas de tochas para área do guarda-redes Rui Patrício no decorrer do primeiro minuto do dérbi com o Benfica, referindo depois que foi um mero espetáculo de pirotecnia sem qualquer intenção de atingir o capitão.

Mensagem? Que os sportinguistas tenham calma, acho que viver este tipo de acontecimentos é algo que se vive com tristeza e com a ‘alegria’, salvo seja, da polícia estar a fazer o seu trabalho”.

A palavra alegria, no dia de hoje, não caiu bem aos adeptos leoninos. Mas, para Bruno de Carvalho, esta terça-feira tem boas notícias a retirar e uma delas é a competência e eficiência das autoridades.

Praticamente todos os suspeitos das agressões aos jogadores e staff do Sporting já foram identificados e estão detidos no posto da GNR de Alcochete. Durante a noite, quase todos os jogadores deslocaram-se à esquadra do Montijo para prestar declarações, saindo sem comentários das instalações depois de serem ouvidos.

Foi mau, foi chato ver as famílias ligarem preocupadas”.

Bruno de Carvalho, segundo o próprio, recebeu telefonemas da própria família, preocupada com a sua integridade física – ainda que o presidente do Sporting não estivesse nas instalações da Academia aquando dos desacatos. Bas Dost sofreu três lacerações na cabeça, mais alguns jogadores foram agredidos com cintos, Jorge Jesus terá sido atingido com uma cabeçada, Frederico Varandas, diretor do departamento clínico, foi outro dos alvos – para além de todos os outros membros do staff verde e branco. 50 adeptos encapuzados entraram sem oposição no centro de estágios do clube e destruíram o balneário. 

“Foi chato mas amanhã é um novo dia”, disse o presidente do Sporting.

Esta direção nunca sofreu um ataque assim: a pseudo suspensão de um treinador que não existiu, a pseudo corrupção no campeonato de andebol que não existiu, agora isto”.

Por fim, a menção à primeira convulsão do dia: o alegado esquema de corrupção do andebol leonino, coordenado pelo team manager André Geraldes. Antes disso, nova recusa à ideia de que Jorge Jesus foi suspenso durante a reunião de emergência desta segunda-feira.

No dia em que jogadores e treinador foram fisicamente agredidos dentro do próprio balneário, Bruno de Carvalho elenca episódios negros e diz que “esta direção nunca sofreu um ataque assim”.