Rogério Alves afirmou-se como um dos principais críticos de Bruno de Carvalho dentro do universo sportinguista. O ex-bastonário da Ordem dos Advogados, apontado como possível candidato à presidência do Sporting por várias vezes ao longo dos anos, é direto, peremptório e conciso: “Os órgãos sociais do Sporting têm de colocar o lugar à disposição imediatamente”.

Em entrevista à RTP, não afasta a hipótese de se candidatar num cenário de eleições antecipadas, mas garante que não tem “nenhum projeto para fazer isto ou aquilo”. O advogado admite que existe a possibilidade de criação de um caso jurídico que leve à saída dos jogadores do Sporting, mas espera, “mais como sportinguista do que como jurista”, que os futebolistas fiquem em Alvalade.

Estas são as seis frases chave de Rogério Alves.

O Sporting está a viver um dos momentos mais negros da sua história”.

O antigo bastonário da Ordem dos Advogados considera que estes dois dias – terça e quarta-feira – completam a página mais negra da história do clube de Alvalade. Referindo-se às agressões em Alcochete como uma situação “de índole criminal”, Rogério Alves é mais cauteloso no que toca ao alegado escândalo de corrupção que envolve André Geraldes, o team manager do Sporting, e defende que é necessário esperar pelo avanço da investigação para tirar ilações.

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A direção do clube e o presidente da direção têm uma responsabilidade objetiva naquilo que aconteceu. Houve erro, houve falha, houve responsabilidade política. Os órgãos sociais do Sporting deviam demitir-se, não há condições para continuarem em funções. Não é só por isto mas este foi o episódio mais grave, mais dramático”.

Para Rogério Alves, a responsabilidade política das agressões de que a equipa técnica e os jogadores foram alvo no centro de estágios do clube é da direção. A inexistência de oposição aos 50 encapuzados que invadiram a Academia – tanto à entrada como à saída – provocaram alegações, teorias e suposições desde a primeira hora.

[Veja no vídeo as críticas que incomodaram Bruno de Carvalho]

O advogado aponta que esta é apenas mais uma chaga num turbilhão que já estava suficientemente inflamado. Tal como já tinha defendido em abril, aquando da convulsão interna depois do jogo com o Atlético de Madrid, Rogério Alves considera que o único caminho é a demissão dos atuais órgãos sociais.

A esta direção pode ser imputada a responsabilidade de criar um ambiente que pode suscitar estas reações? Indiscutivelmente que sim”.

Além da responsabilidade política que permitiu a entrada tranquila e despreocupada dos agressores em Alcochete, Rogério Alves acrescenta que Bruno de Carvalho e a respetiva direção podem ser acusados de incitar à violência e criar um clima de conflito e revolta que facilitou e tornou natural a escalada que culminou nos atos de terça-feira.

A insegurança dos jogadores – que está a ser apontada pelos especialistas em direito do trabalho desportivo como um dos trunfos dos futebolistas em caso de rescisão – é, na opinião do advogado, o pormenor que torna “razoável a criação de um caso jurídico que leve à saída”. Ainda assim, “enquanto sportinguista e não jurista”, espera que Rui Patrício, William Carvalho, Gelson Martins e companhia fiquem em Alvalade.

Uma direção foi eleita, há legitimidade democrática. Eu fiz várias críticas à direção, mas isso não impede que a direção continue. Mas neste momento nós estamos a ter páginas negras consecutivamente e criou-se uma coisa inédita que é um antagonismo visível e palpável entre a direção e os jogadores. O antagonismo tornou-se regra”.

Depois do jogo com o Atlético de Madrid, Bruno de Carvalho chamou “meninos mimados” aos jogadores. O plantel respondeu e emitiu um comunicado. O presidente suspendeu-os. Depois voltou atrás. Jorge Jesus ficou do lado da equipa. No jogo seguinte, em casa com o Paços de Ferreira, os jogadores enviaram uma mensagem de união ao presidente; este, ficou sozinho no banco de suplentes.

Para Rogério Alves, a situação é inédita e o clima de paz podre acabou por se tornar explosivo.

A questão terá de ser resolvida no quadro dos estatutos. A direção e os órgãos sociais podem querer continuar, pronto. Então terão que se encontrar vias, no meu ponto de vista, no universo sportinguista. Terá de procurar, se estiver de acordo com esta decisão, aliás, uma coisa que falta no Sporting é a possibilidade de estarmos em desacordo sem nos insultarmos mutuamente. Tem de haver um saneamento da linguagem. A maneira mais acessível e mais capaz é a convocação de uma Assembleia Geral com o intuito de convocar eleições”.

Os pedidos de demissão de Bruno de Carvalho têm-se repetido e multiplicado a cada segundo que passa. Mas existe uma condicionante: e se o presidente do Sporting não se demitir? Rogério Alves não tem uma resposta concisa, mas garante que as respostas estão dentro do universo sportinguista.

Para o jurista, o passo seguinte é convocar uma Assembleia Geral – mas convocada pelo presidente da Mesa da Assembleia Geral e não pelo presidente, como aconteceu esta quarta-feira.

O Sporting não vai deixar de ter quem se candidate à presidência”

O eterno candidato – a quem Bruno de Carvalho outrora chamou “D. Sebastião do Sporting” – não afasta totalmente a hipótese de se candidatar à presidência do clube em caso de eleições antecipadas mas garante que “não está na agenda”.

Rogério Alves, que José Maria Ricciardi disse ter “todas as condições para se candidatar” horas antes, garante que o Sporting não é feito pelas pessoas que surgem na comunicação social e que vão sempre surgir candidatos.