Todos estamos à espera que os casamentos sejam fecundos. Nos casos mais canónicos esperamos descendência nove meses depois, nos casos mais apressados até podemos antecipar as alegrias; o estranho, porém, é que com tantas cabeças ansiosas pelo aumento familiar, tão poucas dêem por um nascimento paralelo. O milagre dá-se no próprio dia do casamento: a troca das alianças é garantia do aparecimento de uma série nunca vista de primos, tios e avós, do surgimento miraculoso de parentes desconhecidos, como que frutos antecipados de um casamento fértil.

Ora, se isto já se dá nas famílias anónimas pelo mundo fora, quanto mais nos troncos reais, a que qualquer ramo secundário faz os possíveis por se manter agarrado. Um casamento real traz a garantia de genealogias labirínticas em festa, de parentescos remotos em alegria louca, e da súbita aparição de milhares e milhares de primos por esse mundo fora.

Para não obrigar massas cinzentas saudáveis a enodar os seus fios entre as linhas complicadas de parentesco, apresentamos o quadro mais próximo: afinal, se por acaso for convidado, convém falar à família mais próxima.

A genealogia, já de si, é complicada; a família real, porém, também não ajuda. Entre títulos e títulos de cortesia, apelidos e nomes próprios, é fácil que um leigo se perca entre o aparato honorífico. A dificuldade, aliás, começa logo ao princípio.

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Como na ciência moderna, também nos Windsors se deve duvidar de todas as certezas. A primeira delas, já se sabe, é a de que os Windsors o sejam verdadeiramente. A História é conhecida: quando a Rainha Vitória casou com o Príncipe Alberto, a varonia dos monarcas britânicos passou de Hannover a Saxe-Coburgo e Gotha (como, aliás, aconteceu em Portugal com o casamento de D. Fernando II com D. Maria II). O trono inglês era, assim, mais um entregue a este ramo segundo de uma família alemã que teve monarcas em Portugal, Reino Unido, Bulgária, ou na Bélgica. Quando a I Guerra Mundial espoletou em Inglaterra a ferocidade anti-alemã que também fez a família Battenberg passar a Mountbatten, Jorge V mudou o nome da família real de Saxe-Coburgo e Gotha para Windsor.

Do Rei Jorge V ainda surgem alguns parentes curiosos para a galeria da família real. Para lá do Duque de Gloucester, como a Rainha neto de Jorge V, mais famoso e talvez mais institucional, há os casos de Eduardo de Kent, duque desde os 7 anos ou, mais invulgar, do Conde de Harewood, primo direito da Rainha, imprevisível presidente do Leeds United e director da Royal Opera House.

No ramo Isabelino, porém, também há algumas figuras interessantes. Dos títulos com subtilezas escolásticas, às profissões imprevisíveis, apresentamos algumas das figuras da família mais chegada.

Ana, a Princesa Real

O título diz mais do que parece. Princesa Real é um título reservado à filha mais velha do Rei. No entanto, é também um título único. Isto é, supondo que uma tragédia ceifava agora a vida da Rainha e do Príncipe Carlos, a Princesa Carlota não passava a Princesa Real. Seria preciso que antes morresse a princesa Ana – coisa que, juntando a esperança média de vida das mulheres Windsor à vida saudável da antiga atleta olímpica, parece impossível.

A Princesa Ana © Neil P. Mockford/Getty Images

Zara Tindall

Como a mãe, Zara é também uma Amazona de nível mundial. Atleta olímpica medalhada, mostra que a predilecção pelo desporto é uma das tradições mais respeitáveis da família. Se não casou com o seu treinador de equitação, como a mãe, casou com o conhecido raguebista Mike Tindall.

Zara Tindall © Matt Cardy/Getty Images

Peter Phillips

O filho mais velho de Mark Phillips e da Princesa Ana é também o neto mais velho da Rainha de Inglaterra. Diante dos pergaminhos familiares, o seu passado no râguebi universitário não é digno de grandes crónicas. Porém, ainda se licenciou em desporto e trabalhou na Fórmula 1. Junta à apetência desportiva um proselitismo encantador: conseguiu converter a mulher, católica, à Igreja de Inglaterra, conversão essa recebida com gáudio – de outra forma, Peter perderia os seus direitos sucessórios ao casar com uma católica.

Peter Phillips © Chris Jackson

Duque de York

Os títulos ingleses têm uma configuração muito própria. Enquanto noutros países a criação de um titular implica também a criação de um título, em Inglaterra as coisas são diferentes. Há uma série de títulos já estabelecidos no Peerage que são renovados quando se extingue a linhagem do anterior titular. Isto é, embora a concentração de títulos nas principais linhagens permita habitualmente dar aos filhos segundos um título secundário da casa principal, seria possível que, ao nascimento de um Infante português, se seguisse a criação de um título; em Inglaterra, porém, o novo titular é sempre dono de um título recriado na sua pessoa. O Ducado de York, nisto, é dos mais curiosos. Por circunstâncias várias e altamente prometedoras para o Príncipe André, os dois últimos Duques chegaram a Reis de Inglaterra.

O Príncipe André tem duas filhas, ambas dedicadas a aborrecidas mas altamente recomendáveis obras de caridade. Uma delas, Eugénia, promete amuar durante todo o casamento: é que também ela vai casar este ano, e o príncipe Harry, além de provavelmente vir a herdar do seu pai o Ducado de York, também lhe está a roubar todas as ideias para o casamento.

O Príncipe André, Duque de York © Victoria Jones – Pool/Getty Images

Príncipe Eduardo

Se há um ramo desportista dos Windsors, Eduardo, Conde de Wessex, é o paladino do ramo intelectual. Tirou um curso, proeza exclusiva de cinco membros da família real, e dedicou-se durante vários anos ao teatro e à televisão. Patrocinou companhias, criou uma produtora televisiva e dedicou-se à produção artística. A imprensa indignou-se quando o jovem Eduardo desistiu a meio do seu curso de Fuzileiro; um temperamento artístico destes, porém, nunca estaria feliz entre os fuzileiros. As más-línguas poderiam achar que este episódio desconsiderou Eduardo no seio da família real: afinal de contas, é o único que não é duque, mas apenas conde. Desenganem-se: o Ducado de Edimburgo, pertença do pai, espera por ele. Eduardo tem dois filhos: Luisa, de 15 anos, e o jovem Visconde de Severn, Jaime, de 8.

Príncipe Eduardo © Victoria Jones – Pool/Getty Images