Não era obrigado a comparecer, mas Mark Zuckerberg, acabou por ir a Bruxelas depois da insistência de muitos eurodeputados, responder a perguntas na sequência do caso Cambridge Analytica (e com direito a livestream, em vez de ser “à porta fechada”, como inicialmente noticiado). Na conferência de líderes partidários europeus houve uma hora para fazer perguntas e apenas meia hora para as respostas do fundador do Facebook. A audição terminou com os eurodeputados a queixarem-se do pouco tempo despendido. Mas o presidente do Parlamento, Antonio Tajani, que pediu e presidiu a reunião, explicou as razões: “Foi assim que foi decidido. [Zuckerberg] não era obrigado a vir, não é um cidadão europeu”.
Na semana em que o novo Regulamento Geral para a Proteção de Dados passa a ser plenamente aplicável em todos os países da União Europeia — a lei que o presidente executivo utilizou como exemplo nas 10 horas em que respondeu a (quase) todas as perguntas dos representantes americanos — voltou-se a falar da segurança digital dos utilizadores do Facebook. Em quatro citações, leia o resumo do que aconteceu.
“Não temos feito o suficiente para garantir que estas ferramentas não são utilizadas para o mal. Peço desculpa por isso”
O The New York Times já tinha antecipado, e o presidente executivo e fundador do Facebook cumpriu. Mais uma vez, Mark Zuckerberg pediu desculpas pelos 87 milhões de perfis utilizados pela Cambridge Analytica indevidamente, desta vez aos cidadãos europeus.
Depois dos ataques terroristas, dezenas de milhares de pessoas utilizaram as nossas ferramentas para dizer que estavam a salvo. Milhares de refugiados utilizam as nossas ferramentas para se manterem em contacto com as famílias. Mas não temos feito o suficiente para garantir que estas ferramentas não são utilizadas para o mal”, disse Mark Zuckerberg.
O fundador do Facebook assumiu que ainda “há mudanças a fazer”, além das duzentas aplicações que a plataforma já foram da rede social após o caso ter surgido. Estando no máximo órgão legislativo da União Europeia, deixou a garantia: “Vamos continuar a investir na Europa”, disse referindo os principais centros e escritórios que a empresa tem em solo europeu.
“A segurança [digital] não é um problema que se pode resolver”, mas pode-se minorizar o impacto
O presidente executivo do Facebook afirmou que, embora a inteligência artificial esteja a ajudar no controlo do Facebook, há “adversários que estão constantemente a evoluir”. Contudo, prometeu: “Vamos garantir que vamos estar sempre um passo à frente.” A futura ferramenta para se apagar o histórico de dados do Facebook foi mencionada, mas a solução passou pelas alterações que o novo Regulamento para a Proteção de Dados (RGPD) exige.
Outra das soluções, afirmou, passa pelas novas medidas implementadas, como pedir a todos os utilizadores para reverem as definições de privacidade. “Temos de dar às pessoas mais controlo. No cerne da nova legislação europeia para proteção de dados, há três princípios importantes: controlo, transparência e responsabilização”, disse Zuckerberg que quer utilizar estas novas regras para dar mais garantias não só aos cidadãos europeus, mas a todos os utilizadores da plataforma.
“Sem as redes sociais não havia Trump ou Brexit. Se calhar está horrorizado” – disse Nigel Farage a Mark Zuckerberg
Depois do testemunho inicial de Zuckerberg, seguiram-se as perguntas de todos os líderes dos partidos europeus. “Como é que o Facebook vai garantir que vai respeitar as novas normas europeias”, “foi a Cambridge Analytica apenas a ponta do iceberg” e “como está o Facebook a atacar as sofisticadas contas falsas”? Quando chegou a vez de Nigel Farage, líder do Grupo Europa da Liberdade e da Democracia Direta, que foi uma das caras do Brexit, as questões viraram para outro sentido.
“Quem decide o que é aceitável [no Facebook]?”, disse o político britânico, questionando Mark Zuckerberg. Farage argumentou que a censura da plataforma é arbitrária. Em resposta, o fundador da maior rede social do mundo prometeu: “Nunca vamos banir pessoas da plataforma independentemente da opinião política”
“Vou garantir que vos damos desenvolvimentos quanto a essas questões”
Já passava da hora final da reunião e Mark Zuckerberg afirmou: “Quero ser sensível quanto ao tempo, porque já o ultrapassámos em 15 minutos”. O comentário não agradou a alguns representantes europeus, que insistiram com questões que ficaram por responder. “Qual é o concorrente do Facebook”, ouviu-se na sequência de a plataforma ser considerada um monopólio. “O Facebook cruza dados de utilizadores com o Whatsapp”, uma questão que já levou, na União Europeia, a empresa ser sancionada com uma multa de mais de cem milhões de euros.
A tudo o que ficou por responder, o presidente executivo da americana utilizou a frase que já tinha utilizado no Congresso Americano, quando não desenvolveu algumas respostas: “Vou garantir que vos damos desenvolvimentos quanto a essas questões”. A resposta não agradou, levando o presidente do Parlamento a terminar a rápida reunião, afirmando que era o que tinham combinado.
Na conferência de imprensa após a reunião, Antonio Tajani garantiu que Zuckerberg vai entregar, por escrito, resposta à perguntas que ficaram por responder. Contudo, depois de 10 horas no Congresso americano a responder a questões, uma hora e meia no Parlamento Europeu acabou por não ser o suficiente para Zuckerberg responder aprofundadamente às perguntas que foram feitas pelos eurodeputados.